Dia destes, curtindo o entardecer deleitava-me sentindo a tarde morna, as arvores cheias de flores, as mangueiras cheias de frutos, e... escutando o canto das cigarras! O ar enchendo-se desse barulho magnífico, desse sinal inequívoco de que a temporada de verão esta chegando...acho que não tem nenhum som que anuncie com tanta intensidade e nitidez a chegada do tempo quente, e desde que me lembro, ainda criança , adorava esse ‘canto’ pelas tardes, essa sonoridade, esse sinal inequívoco de que mais uma vez estávamos chegando ao final do ano.
Mais que sabemos sobre este interessante inseto? Além de alguns lugares comuns, como La Fontaine mostrou-nos nas suas fábulas, não é verdade que passa a vida apenas cantando: Ele vive por aproximadamente duas semanas, se alimentando da seiva das raízes das arvores. A fêmea coloca seus ovos em ramos e nas cascas dos galhos da planta hospedeira, as ninfas ao nasceram são denominadas de ninfas móveis, penetrando no solo até um metro de profundidade à procura das raízes da planta. Esta é última fase de seu desenvolvimento quando abandona o solo e se fixa no tronco da planta hospedeira, ocorrendo a última muda e emergindo o adulto. Este é um espetáculo que ocorre a cada 13 anos, no caso da espécie Magicicada tredecim , e a cada 17 anos, no da Magicicada septendecim , cujos ciclos de vida são os mais longos entre todos os insetos. A duração desses ciclos, 13 e 17 anos, são números primos; “algumas espécies de cigarras desenvolveram períodos de incubação mais longos e assim escaparam da ação dos predadores", diz uma teoria sobre estas diferenças.
Não é maravilhoso? um bichinho que fica aguardando por anos: 13 ou 17 anos para sermos exatos, o momento certo de emerger e virar adulto.
Embora muitas espécies de cigarra têm períodos diferentes de amadurecimento, com ciclos vitais de duração variada, enquanto as larvas ficam sob a terra. Mas sete espécies da cigarra do gênero Magicicada têm uma característica adicional: elas são sincronizadas, ou seja, saem do chão todas ao mesmo tempo, para ficar cerca de duas semanas de canto ensurdecedor, acasalamento e postura de ovos.
Números primos altos: Os cientistas encontram mais uma vez a matemática pura presente na natureza (assim como a famosa "sequencia Fibonacci"), que desenha os aneis concentricos perfeitos nas conchas marinas, nas pétalas das margaridas e em uma inúmera quantidade de exemplos entre todos os seres vivos. Assim voltando a nosso exemplo com as cigarras, os cientistas perceberam que as cigarras começavam a sobreviver mais conforme seus ciclos de vida se aproximavam desses números primos altos. Eram números que evitavam ao máximo o confronto com seus predadores naturais (pássaros, por exemplo), que por sua vez estariam lá todo o tempo.
Mais ainda, a estratégia só funcionava se a espécie estivesse toda sincronizada --todas as cigarras precisavam sair do chão ao mesmo tempo. "Essa sincronização é extremamente relevante", diz o pesquisador Dr. Campos. "Porque, quando saem todas juntas, uma fração delas é atacada pelo predador, mas o restante sobrevive, porque o predador já está saciado. Isso é, de fato, uma estratégia."
"Realizar experimentos com sistemas ecológicos é uma coisa bastante complexa. Primeiro porque a escala evolutiva não é curta --ou seja, é necessário deixar o sistema evoluir por séculos para obter um resultado preciso e confiável. Segundo, você tem de eliminar todas as fontes de perturbação do sistema, o que é muito difícil", diz o pesquisador. "Por isso é tão complicado reconstruir nossa história evolutiva de uma forma unívoca e precisa." O estudo de Dr Paulo Campos e seus colegas da UFPE supera essa dificuldade, mas será muito difícil confirmar de outra maneira se ele é realmente a resposta para o problema.
Agora, se a idéia é tão boa, por que mais espécies não acabaram adotando esse modo de vida? É um dos mistérios que ainda vão permanecer.
Sua pesquisa foi submetida para publicação no jornal científico "Physical Review Letters".
Os Estados Unidos, a partir do ano passado, sentiram claramente este ciclo, se bem no Brasil ele ocorre também, mais a cada ano, temos novas ‘turmas’ eclodindo, por isso ano após ano, não faltam cigarras, nem sentimos o impacto; mais aconteceu algo curioso no leste dos EUA, onde trilhões de cigarras eclodiram simultaneamente do seu ciclo de 17 anos, apresentando o que parecia uma ‘invasão’ dos insetos. Elas são inofensivas, mas o acasalamento é um processo barulhento. Esse é justamente o motivo do canto do inseto: atrair a fêmea para o acasalamento.
Após o acasalamento, os ovos são depositados pelas fêmeas na vegetação, iniciando um novo ciclo, que vai durar outros 17 anos.
Lembremos que no Brasil existem desde a época das grandes fazendas de café, pois este bicho chega a ser uma praga dos cafeeiros, hoje na falta dessas grandes fazendas ele esta adaptada a todo tipo de arvore. O que chega a ser relativamente novo nos EUA. O número de insetos chegou a ser de centenas de milhões só em Indiana, mas as cigarras também foram encontradas em Kentucky, Ohio, Illinois, Michigan, Tennessee, Nova Jersey, Missouri, Geórgia, Nova York, Pensilvânia e na região entre Washington e Baltimore.