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Segundo pesquisa do IBGE, estamos num vergonhoso lugar entre os países da América Latina, no que diz respeito à alfabetização. O que nos faltou e tanto nos falta ainda? Posso dizer que tem sobrado ufanismo. Não somos os melhores, não somos invulneráveis, somos um país emergente, com riquezas ainda nem descobertas, outras mal administradas. Somos um povo resistente e forte, que nem os mensaleiros, as quadrilhas de narcotráfico conseguem tirar suas alegrias. Um povo com uma rara capacidade de improvisação positiva, esperança e honradez. O sonho de morar fora daqui para fugir dessa situação lamentável não vale. Na velha e sisuda Europa não há um sol como este. Sem falar da crise econômica que está se estabelecendo entre eles. Na primeira estada por lá, num verão, vendo o sol oblíquo e pálido, senti falta mesmo do calorzinho daqui, e tem mais: Lá não se rí, não se abraça a toda hora, não existe solidariedade como aqui. Eles trabalham muito mais e ganham mais, é verdade. A pobreza por lá é menos pobre porque, se fosse miserável (tipo com gente debaixo da ponte, etc) , morreriam todos de frio na primeira nevasca do ano. O seguro-desemprego é tão bom que, infelizmente, muitos decidem viver só com ele: o mercado de trabalho lá também é cruel, não adianta camuflar o seu Curriculum, ou inventar que sabe fazer isso e aquilo, vão botar voce para fazer tudo aquilo que você disse que sabia, e ficará somente dois a três dias “em teste”, se não dar conta do recado..rua! e com os estrangeiros, nem se fala. Em muitas coisas somos mesmo muito melhores e mais acolhedores.
Mas somos um país analfabeto. E aos que vão reclamar. Esclareço: Alfabetizado não é, já disse freqüentemente, aquele que assina seu nome, nada disso: é quem assina um documento que leu e compreendeu. A verdadeira democracia tem de oferecer a todos esse direito, pois ler e escrever, significa também saber pensar, questionar e escolher, é um direito. É questão de dignidade. Para isso, é essencial uma boa escola desde os primeiros anos, dever inarredável do estado. Não me digam que todas as comunidades têm escolas e que estas têm o necessário para um ensino razoável, para que até o mais pobre e esquecido no mais esquecido e pobre recanto possa se tornar um cidadão inteiro e digno, com acesso à leitura e à escrita, isto é, À INFORMAÇÃO. Formar pessoas capaz de fazer boas escolhas de vida, pronto para se sustentar e que, na grave hora de votar, saiba o que está fazendo.
Enquanto alardeamos façanhas, descobertas, ganhos e crescimento econômico, a situação nesse campo está cada vez pior. Muito menos pessoas se alfabetizam de verdade; dos poucos que chegam ao 2º grau e dos pouquíssimos que vão à universidade, muitos não saem de lá realmente formados. Entram na profissão incapazes de produzir um breve e sucinto texto claro e minimamente redigido. São desinteressados da leitura, mal falam direito. E com o crescimento da Internet, a “preguiça mental” toma conta de todos os setores. Não sabem filtrar uma informação., não sabem diferenciar verdades de boatos, noticias plantadas, de noticias com objetividade. Não conseguem se informar nem questionar o mundo. Pouco lhes foi dado, pouquíssimo lhes foi exigido.
A única saída para tamanha calamidade está no maior interesse pelo que há de mais importante num país: A EDUCAÇÃO. E fico triste com isso, pois a cada ano o ENEM mostra exclusivamente o descaso e o interesse apenas financeiro dos responsáveis, quanto vão poder embolsar, começando pelo Ministro em pessoa!. Assim não se mudará o Brasil, o resto é conversa fiada. Investir nisso significa criar mais oportunidades de trabalho: muito mais gente capacitada a obter salário decente. Significa saúde: gente mais bem informada que não adoece por ignorância, isolamento e falta de higiene. Se ao estado cabe nos ajudar a ser capazes de saber, entender, questionar e escolher nossa vida, é nas famílias, quando podem comprar livros, que tudo começa. "Quantos livros você tem em casa, quantos leu este mês? E jornal?", pergunto, quando me dizem que os filhos não gostam de ler. Família tem a ver com moralidade, atenção e afeto, mas também com a necessária instrumentação para o filho assumir um lugar decente neste mundo, neste pais, nesta cidade. Nascemos nela, nela vivemos. Mas com ela também fazemos parte de um país que nos deve, a todos, uma educação ótima. Ela trará consigo muito de tudo aquilo que nos falta.
(Trechos de Lya Luft).