MITOLOGIA EGÍPCIA
HÓRUS
Hórus, mítico soberano do Egito, desdobra as suas divinas asas de falcão sob a cabeça dos faraós, não somente meros protegidos, mas, na realidade, a própria encanação do deus do céu. Era ele o deus protetor da monarquia faraônica, do Egito unido sob um só faraó, regente do Alto e do Baixo Egito
Efetivamente, o faraó proclamava que neste deus refulgia o seu “ka” (poder vital), na ânsia de legitimar a sua soberania, não sendo pois de estranhar que, cerca de 3000 a. C., o primeiro dos cinco nomes reais fosse exatamente “o nome de Hórus”.
No antigo Egito, diversas eram as deidades que se manifestam sob a forma de um falcão. Hórus, detentor de uma personalidade complexa e intrincada, surge como a mais célebre de todas as divindades. Mas quem era este deus, em cujas asas se reinventava o poder criador dos faraós? Antes de mais nada, Hórus representa um deus celeste, regente dos céus e dos astros neles semeados, cuja identidade é produto de uma longa evolução, no decorrer da qual Hórus assimila as personalidades de múltiplas divindades.
Segundo a lenda de Osíris, na sua vingança, Seth arrancou o olho esquerdo de Hórus
que foi substituído por este amuleto, o qual não lhe dava ainda visão total então colocou também uma serpente sobre sua cabeça. Depois da sua recuperação,
Continuando com a Lenda de Osíris, ela revela-nos que, após a celestial concepção de Hórus, fruto abençoado da magia que facultou a Ísis o atributo de unir-se a seu marido defunto em núpcias divinas, a deusa, receando represálias por parte de Seth, evoca a proteção de Ré-Atum, na esperança de salvaguardar a vida do bebê que florescia dentro de si.
Escutando às preces de Ísis, o deus solar velou por ela até ao tão esperado nascimento. Quando isto aconteceu, o próprio menina falou e a voz de Hórus elevou-se então os céus: “ Eu sou Hórus, o grande falcão. O meu lugar está longe do Seth, inimigo de meu pai Osíris. Atingi os caminhos da eternidade e da luz. Levanto vôo graças ao meu impulso. Ninguém pode realizar aquilo que eu realizei. Em breve partirei em luta contra o inimigo de meu pai Osíris, pisoteá-lo-ei sob as minhas sandálias com o nome de Furioso... Porque eu sou Hórus, cujo lugar está longe dos deuses e dos homens. Sou Hórus, o filho de Ísis.” Após isto e temendo que Seth intenta-se algo contra a vida de seu filho recém- nascido, Ísis refugiou-se então na ilha flutuante de Khemis, nos pântanos perto de Buto, circunstância que concedeu a Hórus o epíteto de Hor- heri- uadj, ou seja, “Hórus que está sobre a sua planta de papiro”. Embora a natureza inóspita desta região lhe oferecesse a tão desejada segurança, visto que Seth jamais se aventuraria por uma região tão desértica, a mesma comprometia também a sua subsistência, dada a flagrante escassez de alimentos característica daquele local. Para assegurar a sua sobrevivência e a de seu filho, Ísis vê-se obrigada a mendigar, pelo que, todas as madrugadas, ocultava Hórus entre os papiros e andava errante pelos campos, disfarçada de mendiga, na ânsia de obter o tão necessário alimento. Uma noite, ao regressar para junto de Hórus, depara-se com um quadro desesperador: o seu filho jazia, desacordado, no local onde ela o abandonara. Desesperada, Ísis procura restituir-lhe o sopro da vida, porém a criança encontrava-se demasiadamente débil para alimentar-se com o leite materno. Sem hesitar, a deusa suplica o auxílio dos aldeões, que todavia se relevam impotentes para a socorrer.
Quando o sofrimento já quase a fazia transpor o limiar da loucura, Ísis vislumbrou uma mulher do local, popular pelos seus dons de magia, que prontamente examinou o seu filho, proclamando que Seth era alheio ao mal que o atormentava. Na realidade, Hórus (ou Harpócrates, Horpakhered- “Hórus menino/ criança”) havia sido simplesmente vítima da picada de um escorpião daquela região. Angustiada, Ísis verificou então a veracidade das suas palavras, decidindo-se, de imediato, e evocar as deusas Néftis e Selkis (a deusa- escorpião), que prontamente acudiram ao local da tragédia, aconselhando-a a rogar a Ré que suspendesse o seu percurso usual até que Hórus convalescesse integralmente. Compadecido com as suplicas de uma mãe, o deus solar ordenou assim a Toth que salvasse a criança. Quando finalmente se viu diante de Hórus e Ísis, Toth declarou então: “ Nada temas, Ísis! Venho até ti, armado do sopro vital que curará a criança. Coragem, Hórus! Aquele que habita o disco solar protege-te e essa proteção de que gozas é eterna. “Veneno, ordeno-te que saias”! Ré, o deus supremo, far-te-á desaparecer. A sua barca deteve-se e só prosseguirá o seu curso quando o doente estiver curado. Os poços secarão, as colheitas morrerão, os homens ficarão privados de pão enquanto Hórus não tiver recuperado as suas forças para ventura da sua mãe Ísis. Coragem, Hórus. O veneno está morto, ei- lo vencido.”
Após haver banido, com a sua magia divina, o letal veneno que estava prestes a oferecer Hórus à morte, o excelso feiticeiro solicitou então aos habitantes de Khemis que velassem pela criança, sempre que a sua mãe tivesse necessidade de se ausentar. Mais esse foi só um dos muitos outros sortilégios se abateram sobre Hórus no decorrer da sua infância (males intestinais, febres inexplicáveis, mutilações), apenas para serem vencidos logo de seguida pelo poder da magia detida pelas sublimes deidades do panteão egípcio. Já chegando á maturidade, Hórus, protegido até então por sua mãe, Ísis, tomou a resolução de vingar o assassinato de seu pai, reivindicando o seu legítimo direito ao trono do Egipto, usurpado por Seth. Ao convocar o tribunal dos deuses, presidido por Rá, Hórus afirmou o seu desejo de que seu tio abandonasse, a regência do país, encontrando, nos seus argumentos, o apoio de Toth, deus da sabedoria, e de Shu, deus do ar. Todavia, Ra contestou-os, veementemente, alegando que a força devastadora de Seth, talvez lhe concedesse melhores aptidões para reinar, uma vez que somente ele fora capaz de dominar o caos, sob a forma da serpente Apóphis, que invadia, durante a noite, a barca do deus- sol, com o fim de extinguir, para toda a eternidade, a luz do dia.
Após um infrutífero rol de lutas quase beirando a barbárie, Seth sugeriu que ele próprio e o seu adversário tomassem a forma de hipopótamos, com o fim de verificar qual dos dois resistiria mais tempo, mantendo-se submergidos dentro de água.
Enquanto isso, Ísis foi incapaz de ficar quieta sé olhando e criou um arpão, que lançou dentro dá água, no local onde ambos haviam desaparecido. Porém, ao golpear Seth, este apelou aos laços de parentesco que os uniam, obrigando assim a Ísis sará-lo, no mesmo ato. Isto enfureceu Hórus, que emergiu das águas, a fim de decapitar a sua mãe e, ato contíguo, levá-la consigo para as montanhas do deserto. Ao tomar conhecimento de tão hediondo ato, Rá, irado, vociferou que Hórus deveria ser encontrado e punido severamente. Imediatamente, Seth prontificou-se para capturá-lo. As buscas foram rapidamente coroadas de êxito, uma vez que Hórus, ficou deitado, adormecido, junto a um oásis.
Dominado pelo seu temperamento cruel, Seth arrancou ambos os olhos de Hórus, para enterrá-los longe, sem saber que deles, floresceria uma bela flor: o lótus. Após tão ignóbil crime, Seth reuniu-se a Rá, declarando não ter sido bem sucedido na sua procura, pelo que Hórus foi então considerado morto. Porém, a deusa Hátor encontrou o jovem deus, sarando-lhe, miraculosamente, os olhos, ao friccioná-los com o leite de uma gazela. Outra versão, descreve um outro quadro: em que Seth furta apenas o olho esquerdo de Hórus, representante da lua. Contudo, nessa narrativa o deus-falcão, possuidor, em seus olhos, do Sol e da lua, é igualmente curado.
Em ambas as histórias, o Olho de Hórus, sempre esta representado no singular, tornando-se mais poderoso, quase que na perfeição, devido ao processo curativo, ao qual foi sujeito. Por esta razão, o Olho de Hórus ou Olho de Wadjet surge na mitologia egípcia como um símbolo da vitória do bem contra o mal, que tomou a forma de um amuleto protetor. A crença egípcia relata igualmente que, em memória desta disputa feroz, a lua surge, constantemente, fragmentada, tal como se encontrava, antes que Hórus fosse sarado.
O Olho de Hórus e a serpente simbolizavam o poder real, tanto que os faraós passaram a maquiar seus olhos como o Olho de Hórus e a usarem serpentes esculpidas na coroa. Os antigos acreditavam que este símbolo de indestrutibilidade poderia auxiliar no renascimento. Este símbolo aparece também no reverso do Grande selo dos Estados Unidos da América, e pode ser considerado também um símbolo frequentemente relacionado a Maçonaria.