Nem sei por onde começar...
Como para mim, o ponto alto foi Varanasi, vejamos então:
VARANASI
Após deixar as minhas coisas no hotel, saio para uma
caminhada exploratória nas imediações. Me sinto em outro planeta! Respiro, abro
minha mente, ando bastante, olho muito todas as pessoas, coisas e lojas,. etc.
Varanasi é tudo o que se pode imaginar de caos absoluto na face da terra!
Peguei então uma rickshaw de um velhinho muito legal que topou pedalar horas
comigo. Fomos ao templo de Hanumani, o deus macaco, o templo de Birham e
outros. A experiência de passar 30 minutos no templo de Hanumani é indescritível...
pela primeira vez na viagem vi a intensidade da devoção dos indianos. Gente de
todas as idades e classes sociais sentadas, em pé, ajoelhadas, em posturas de
yoga, meditando, etc. A energia do lugar é fortíssima e cheguei a ter
taquicardia... muitos sinos tocando, muitas voltas a dar em torno de uma parede
imensa tocando as mãos, sente-se uma comunhão interior como em nenhum outro
lugar,. Recebi uma porção de tinta na testa simbolizando proteção e
prosperidade. Os cheiros dos incensos e das flores inebriam os sentidos
juntamente com as imagens milenares, as oferendas e a sensação de paz que se
tem lá dentro é enorme... Não é
permitido tirar fotos no templo. Nessa hora senti que estava na Índia de
verdade!
Pela manhã e resolvo ir sozinho ao Ganges, pois meu puxador
do Rickshaw era falante demais e eu estava a fim de ficar quieto. Comi uma
samosa de café da manhã na rua e aluguei um barco no rio, onde fiz um passeio
de uma hora. Havia também o passeio de duas horas, mas preferi o menor. Ao
longo do passeio muitos turistas em barcos maiores que comportavam mais de 10
pessoas e turistas sozinhos como eu, navegavam e tiravam fotos dos palácios nas
margens. O barqueiro ia explicando o que era cada palácio, cada casa, etc. Peguei
nos remos e remei uns 10 minutos para fazer um pouco de ginástica!
Na volta entro num minúsculo templo de Khali, Ganesha e Shiva no alto das
escadarias em frente ao rio. Dois homens de branco me benzem e encostam minha
cabeça num pequeno “poste” repleto de flores e oferendas. Pedem que eu pense em
pessoas queridas e fazem orações durante uns dois minutos segurando minha
cabeça. Depois me orientam a entrar numa outra portinha ao lado e quando entro
fico maravilhado! Era um templo de Shiva, enorme por dentro, muita gente
meditando, yogues em posturas especiais, etc. Sentei, medito, respiro, faço
oferendas, toco sinos... e fico lá dentro por volta de 40 minutos e a sensação
é indescritível. Depois sento na escadaria do Ghat e me entrego ao que vejo,
sinto e ouço... estou em outro planeta, planeta de paz, força, amor...
Voltei para o hotel, dormi um pouco e peguei um tuc-tuc para conhecer outros
lugares. Fui a um templo Hare Krishna e outro de Shiva enorme. No templo Hare
Krishna tinha a estátua de Sri Baktivedanta Prapupada, fundador do movimento,
em tamanho natural feita de cera e em postura de meditação. Muito linda! Na
volta soube que Shiva, ainda na forma humana, nasceu em Varanasi. Parei
para almoçar num restaurante indiano perto do hotel e pedi umas torradas de
entrada. A refeição chegou e só depois de terminar de comer é que vieram as
torradas... rssss. Volto ao hotel, durmo mais um pouco e à noite vou ver um
pequeno pujah no Ganges, nas imediações.
Eu tinha muito sono à tarde em função do calor absurdo que estava fazendo na
Índia. Meu corpo se desgastava com facilidade e bebia em torno de seis a sete
litros de água por dia. Bebia também caixinhas de sucos para hidratar. Na vez
anterior que fui em janeiro (que é o inverno no hemisfério norte), há muitos
anos, andava o dia todo e não sentia este cansaço, mas desta vez conheci o que
é calor de verdade, mesmo estando acostumado ao verão do Rio! ---- ––_--Acordo
às 4:00h e às 5:00 o tuc-tuc estava na porta do hotel esperando para me levar à
estação de trem, onde iria para Gaya. Fiz malabarismos para passar na escuridão
por cima das pessoas deitadas e sentadas no chão, fora da estação, esperando a
hora do embarque de seus trens. Famílias inteiras, bagagens enormes, brinquedos
das crianças, cenas muito diferentes da que estamos acostumados no Brasil. Foi
difícil localizar minha plataforma pois quase tudo estava escrito em hindi. Pedi ajuda a um
senhor que foi muito solícito e inclusive me pagou uma coca-cola quando fui
depois ao bar comer algo! Indiano pagar algo para alguém é algo surreal! Bom,
tomei a coca com um delicioso sanduíche vegetariano e embarquei uma hora
depois. Quatro horas de viagem com paisagens muito diferentes, algumas paragens
secas, etc. Chego às 9:30 em Gaya e pego tuc-tuc para Bodhgaya, mais 30min de
viagem.
BodhGaya é indescritivelmente vibrante! Muito movimentada de monges, peregrinos
e turistas indianos em especial, turistas de fora em menor escala. Vou para o
Sakura Hotel, ao lado de um templo tibetano pequeno. Quarto com ar
condicionado, TV e ventilador de teto, além de limpíssimo e cama muito
confortável. Deixo as coisas no quarto e saio para conhecer o Mahabody Temple,
local da iluminação de Shidarta Gautama, o Buddha. Fico surpreso com a
quantidade de tempos e monastérios de diferentes origens: Chineses, Tailandeses,
de Butão, Japão, Vietnã...
Como já são 11:20 tenho que esperar até às 14:00 para abertura dos templos que
fecham das 11:00 às 14:00, em especial o Mahabody, único que me interessava
realmente. Resolvo esperar na rua, próximo ao templo que tem uma estátua de
Buddha de 24 metros
de altura! Ao abrir o templo, entro com as pessoas e só ao sair, descubro que
este não era o Mahabody Temple, e sim, um templo japonês (na verdade não era um
templo, era a estátua cercada de enormes áreas verdes e jardins). Os peregrinos
batiam num enorme tambor que, com isto, fazia uma enorme vibração e um barulho
hipnotizante. Mesmo não sendo o templo que queria ver, Valeu muito a visita.
Mais tarde, descubro onde fica o templo que quero ver: Dirijo-me então ao
Mahabody Temple, cinco minutos a pé. Ao
chegar perto percebo que estou no lugar certo! Milhares de pessoas indo e
vindo, dezenas de lojinhas, camelôs, falsos guias, pedintes, turistas
estrangeiros e o melhor: o Mahabody Temple! É algo de tirar a respiração por
suas dimensões, pela vibração que emite e sua beleza! Está no local exato da
iluminação de Shidarta Gautama (o Buddha) e os locais próximos onde meditou
imediatamente antes e depois. Em cada local, monges, ensinamentos públicos,
pujas (inclusive feitos por crianças), em áreas enormes. Cada área com estátuas
esculpidas em diversos tamanhos, estupas pequenas, grandes e enormes, flores e
mais flores, incensos contagiando o ar, música, enfim... de tirar a respiração!
Entrei na pequena “capela” construída no local exato da iluminação. Dois monges
e uma turista meditavam sentados no chão. Fiquei alguns momentos e dei a vez
para quem aguardava. Passei para a sala anterior e o monge que tomava conta me
deixou sentar no chão e meditar ali por cerca de cinco minutos, com uma monja e
uma turista estrangeira. Bons presságios meditar na Bodytree e em local tão
sagrado! BodyTree é a árvore que Buddha sentou por muitos dias até atingir a
iluminação. Os indianos sempre a replantaram em locais sagrados, assim como os
nepaleses e outros povos da região.
Saí de lá e caminhei por todos os sete passos (sete semanas) que envolveram a
iluminação, em suas respectivas áreas enormes, utilizadas por Gautama Buddha na
época e, atualmente, demarcadas nos jardins do templo. Depois escolhi um canto
no meio das estupas e fiz uma prática de meditação especial como faço
semanalmente no Rio. Entrei para almoçar num hotel no caminho que tinha um bom
restaurante com ar condicionado, almocei e me refresquei um pouco do calor.
Depois voltei para o meu hotel, descansei e voltei para o local. À noite tudo é
mais bonito!
Todos os jardins iluminados por milhares de pequenas lâmpadas, além de rituais
e ensinamentos acontecendo ao ar livre por todas as áreas. Também em todas as
noites é realizado um puja em frente ao “Trono do Diamante”, local inacessível
e só à noite aberto ao público, que fica a uma certa distância. Em cada canto
grupos de pessoas meditam, fazem oferendas, entoam mantras específicos e
caminham em voltas silenciosamente. Quem não conhece as práticas apenas
observa, tira fotos e reverencia. Muito legal ver turistas “meditadores” do
mundo todo em cantos dos jardins, jovens e idosos.
Mahabody Temple é uma experiência forte, única, maravilhosa e transformadora!
Saí de lá exausto e peguei um Rickshaw para me deixar perto do hotel. Parei
numa banquinha de rua perto, comi um shapatti com arroz e fui dormir. Acordei
às 4:00 pois ao lado do hotel tinha um templo tibetano e, neste horário, os
monges começavam a entoar mantras. Acordei de bom humor e agradecendo por
aquela experiência fantástica!
No dia anterior, numa barraquinha próxima
fiz amizade com o dono, que me levaria de moto no dia seguinte até Gaya,
para pegar um ônibus para Rajgir. –O cara da banquinha passou às seis da manhã
no hotel e me deixa na bus station em Gaya. Andar na garupa da moto de um indiano na
estrada é uma experiência meio suicida, porém excitante. Na verdade uma
clareira enorme no mato, cheia de ônibus para todos os lugares próximos. Duas
horas de viagem até Rajgir numa coisa que chamam de “ônibus”... veículo
velhíssimo caindo aos pedaços. Tinha TV e passava um filme pastelão indiano,
daqueles em que a princesa é salva pelo mocinho das garras do vilão malvado,
além disso, o som do filme nas alturas!
Chego em Rajgir sem muita informação sobre a cidade,
práticamente sem saber de nada, onde ficar e como chegar ao ponto que queria
visitar. Só tinha a informação de nomes de hotéis e uns dois ficavam perto da
Police station. Pergunto onde é e ando mais ou menos 1 km até achar um. – É aqui
mesmo – disse comigo mesmo, ao olhar para um prédio velho e baixo onde tinha
escrita a palavra hotel. Na rua enquanto andava, me olhavam como se fosse um
ET. O hotel era muito fraquinho, mas com TV e uma cama enorme. Como eu ia ficar
só aquele dia, havia deixado minha mochila no hotel de Bodhgaya. O “problema” é
que em Rajgir, além das cavernas que queria conhecer, havia muitas outras
atrações a visitar. Resolvi que ficaria uma noite por lá. Comprei então
sabonete e usei parte do lençol da cama como toalha de banho. O cara da
recepção, super atencioso, conseguiu atenuar o ambiente de aspecto ‘pé-sujo’
que tinha o hotel. Havia mesas num corredor ao lado da recepção e ao fundo, a
cozinha, onde dois homens cozinhavam num enorme tacho e o cheiro gostoso de
massala permeava o ar.
Rajgir não tem tuc-tuc, tem “tanga”, uma pequena charrete puxada por um
burrico. Outra curiosidade que percebi na cidade foi a dificuldade de
comunicação, pois a única pessoa que falava um pouco de inglês era o dono do
hotel. Me comuniquei muito por mímicas e imagens. Naquele dia o dono do hotel
chamou um táxi para me levar à Nalanda University, a 18 km distante, Nesse local, onde
foram feitos os primeiros estudos
budistas no mundo, além de ser um gigantesco sítio arqueológico onde foram
encontradas estátuas de Shiva e Avaloretskava, e outros, datadas de mais de
3000 anos! O lugar é impressionante com seus labirintos enormes, entradas e
saídas escondidas, subidas e descidas à salas em ruínas, anteriormente salas de
estudos e meditações. O calor reduziu meu tempo de visita. Explorei por
aproximadamente uma hora, tirei fotos, fiz um lanche melhor no pequeno centro
turístico e voltei para Rajgir quase cozido! À tarde pego uma tanga e vou
conhecer o Bamboo Grove, bosque dos bambus, também conhecido como Venu Vana,
onde deu-se o Primeiro conselho budista após a iluminação de Shidarta Gautama
Bhudda, em 683 ac.
Ele costumava caminhar lá no intervalo de suas meditações nas cavernas. Lugar
muito grande com muitos caminhos agradáveis, bambuzais e estátuas enormes.
Depois vou para o hotel tomar banho e dormir. Comi apenas duas samosas durante
o dia e um saquinho de batatas fritas no jantar.
–Acordo às 4:30 e às 5:00 já estou na tanga para conhecer as Saptarni Caves,
onde Bhudda costumava ir e meditar nas cavernas na época das monções. Foi aqui
também que ele fez o primeiro discurso sobre a “Prajnaparamita, ou Sutra da
Perfeição da Sabedoria”, além de ter ensinado o Kalachakra, ou a “Roda do
Tempo” (Samsara). Diz a tradição que enquanto estava no Vulture Peak, nestas
montanhas de Rajgir, Buddha também foi visto no sul da Índia, na Dhanyakataka
Stupa, proferindo os mesmos ensinamentos através de suas emanações físicas.
No caminho alguns templos budistas de vários países e um deles com relíquias do
Buddha, ou seja, porções de suas cinzas (cristais) transparentes!
O parque nas montanhas é muito grande, como tudo na Índia e a subida até as
cavernas e o Vulture Peak é pesada! Escadarias infindáveis com pequenos templos
tibetanos e jainistas ao longo do caminho. Passei por várias cavernas e, cada
vez que subia mais, mais surgiam escadarias contornando as montanhas. Depois de
muito tempo subindo e caminhando estava sem água. O sol também começava a
cozinhar, às sete da manhã. Resolvi voltar, este é um passeio para o inverno.
Na volta peguei a tanga e fui para a bus station retornar à Gaya, onde peguei
um auto-rickcha para Bodygaya. Naquela mesma noite voltei ao Mahabody Temple
para fazer pequenas compras e meditar naquele local tão sagrado.
–No dia seguinte acordei às 3:00 para poder pegar o trem às 5:00 em Gaya com
destino a Varanasi, novamente. Varanasi ficou sendo minha base para os
deslocamentos no norte da Índia. Cada vez que lá chegava mais entendia o que é
a Índia de verdade! Uma viagem que duraria 4 horas acabou sendo feita em 6, por
conta de muitas paradas ao longo do caminho. Passei o dia na cidade passeando,
descansando e providenciando a longa viagem de ônibus no dia seguinte para
Sonauli, fronteira com o Nepal.
Passei um bom tempo andando por lá, lendo as placas,
pensando na vida, mal acreditando que estava naquele local... voltei para
almoçar numa caminhada longa sob calor enorme, almocei o mesmo prato que vi um
americano comer e pedi igual. Ele também viajava sozinho. Pra variar o prato
tinha muita pimenta e ao mesmo tempo muito saboroso. Fui depois para o hotel
tirar um cochilo e novamente passear. Aluguei uma bicicleta e entrei numa
pequena aldeia próxima, com casas de sapê, mas não me senti a vontade para
tirar fotos. Voltei, entreguei a bicicleta e fui para uma Lan e a internet ver e-mails e postar algumas fotos.
Lá, havia um monge jovem, creio eu pelos malas (colares budistas de meditação)
nas mãos e no pescoço. Passamos um bom tempo ao computador e, quando me
levantei, dei um “tchau”. O monge então virou para mim com um olhar de
felicidade e bondade que nunca tinha visto na vida! Juntou as mãos, abriu um
enorme sorriso e disse “namastê”. Lembrei-me da expressão budista “oceano de
amor”; seus olhos expressavam isto e esta imagem me marcou o resto da viagem.
Ainda fui até o Nepal, e ainda mais tarde, estiquei para
conhecer Lhassa, a cidade mais alta do mundo (a capital do Tibet). Onde fiquei
quase 1 mês em um templo estudando e pesquiando o livro dos Vedas (mais essa parte é tema para outro dia).... O Nepal tem
grandes plantações de café e o valoriza em suas características como sabor, aroma,
safra, etc. Depois fui ao Garden of Dreams, um enorme jardim e museu bem
próximo ao hotel, na rua principal de Tamel Chow, centro de Kathmandu. O local
possui um lago com muitas flores de lótus, um belo bar estilo inglês do século
XVIII, muitos locais para sentar, ler e descansar em sua área. Tomei uma bela
limonada com sanduíche de queijo com massala Passei um bom tempo lá e depois
fui à embaixada da Índia confirmar o vôo de volta. Encontrei alguns turistas, e
fomos comprar minha passagem para Delhi numa agência de viagens próxima. Passei
o dia passeando, o almoço foi uma bela sopa de espinafre no jardim de um
restaurante sofisticado por perto e, à noite, jantar em num restaurante chinês
encontrado por acaso em mais um dos sobrados nas imediações (não curto muito a
comida chinesa, pois é muito gordurosa).
Depois de mais alguns dias
de meditação e arrepios pelo cheiro dos incensos e flores....decidi que estava na
hora de voltar...
Me despeço dos funcionários do hotel e vou para o
aeroporto pegar o vôo da Air Índia de volta para Delhi. Minha intenção era
chegar e seguir direto de ônibus para Dharamsala, último destino antes da volta
ao Rio. Dharamsala é onde vive o Dalai Lama e sede do governo provisório do
Tibet na Índia. Desembarco em Delhi e pego um táxi para a rodoviária, que
estava em obras por toda a parte. Muita poeira, muito, mas muito calor mesmo,
eu muito cansado e pela primeira vez apreensivo. Consegui achar uma agência que
vendia passagem para Dharamsala. Comprei a passagem para cinco horas depois.
Eu tinha a informação que a viagem duraria apenas quatro horas. Na agência o
rapaz disse que seriam doze horas, aquilo começou a me desanimar. Saí para
procurar comida e encontrei um Mac Donald’s. Entrei mais pelo ar condicionado e
pedi qualquer coisa. Voltei para o subsolo onde ficava a agência e sentei num
corredor poeirento na parte de fora, com a mochila aos pés e pouca paciência
para esperar mais quatro horas até a saída do ônibus. Dois caras esquisitos
vieram me fazer perguntas e queriam ver minha passagem. Não deixei e disse que
queria ficar sozinho. Eles insistiram e eu disse para não incomodarem. Tinham
cara de golpistas e eu não ia cair nessa. Levantei, comecei a andar e deixei-os
falando sozinhos.
Fiquei andando pelas obras da rodoviária e não tinha uma sensação boa quanto o
local. Estava muito cansado e irritado. Resolvi que não iria mais (hora de
confiar na intuição) e fui tentar devolver a passagem. O rapaz da agência não
queria, e inventou mil desculpas, mas
acabou devolvendo o dinheiro. Não havia táxis disponíveis, nem tuc-tucs nas
imediações, o que me fez pagar mais caro num táxi que passou e se ofereceu. O
cara deu mil voltas, pois não conhecia bem o local do ashram para onde eu
estava voltando. De qualquer forma os preços são negociados antes e, conhecendo
ou não o caminho, o valor é o mesmo. É comum nas grandes cidades da Índia os
motoristas não saberem chegar num endereço determinado. Alguns tentam cobrar a
mais ao final da corrida por isto, mas é só dizer que quem deve saber o caminho
é ele e não dar confiança.
Chegamos ao ashram, (espécie de local de meditação e que serve também de
hospedaria para viajantes) fui bem recebido pelo senhor da recepção e me
acomodei num quarto. Saí para dar uma volta, descansei, jantei, meditei e fui
dormir. Foi difícil dormir por causa do calor. Acordei de madrugada com o
lençol encharcado de suor e improvisei duas toalhas como novo lençol. Eram
quatro da manhã e antes das seis não há ninguém na recepção e o ashram está
fechado. Decidi que não ficaria mais lá, arrumei a mochila e, assim que ouvi
movimentos, desci, paguei minha conta e peguei um tuc-tuc para procurar um
hotel com ar condicionado. Queria desta vez um hotel no centro, perto de
Connought Place, local de compras em Delhi. Havia deixado para fazer as compras em
maior quantidade ao final da viagem, para não ficar com muito peso. Consegui um
bom hotel, “Blessings” e me instalei por lá. Bela cama enorme, ar condicionado
muito forte, comida maravilhosa, enfim, hora de repor energias. Cheguei a usar
cobertor no cochilo da tarde de tão forte o ar condicionado, delícia!
Connought Place é o centro comercial de Delhi. Encontra-se desde lojas
internacionais famosas até pequenos shoppings especializados em todos os
artigos indianos imagináveis. Um taxista me levou para conhecer um contra minha
vontade e acabei comprando um pote de massala, para não dizer que não gastei
nada lá. Na verdade estes taxistas ganham comissão para levar turistas às
compras nos shoppings. Mas eu queria mesmo entrar nas ruelas e andar no comércio
popular, bem melhor e mais variado que o dos shoppings. Saí para fazer compras,
mas tinha que procurar uma sombra com freqüência. Parava, bebia água, molhava a
cabeça e continuava. As ruas são cheias de turistas, centenas de pequenas lojas
e camelôs vendendo tudo o que a mente pode imaginar e mais ainda! Passei o
resto da tarde comprando incensos, roupas, objetos para meditação, objetos de
decoração, bijuterias para revender, livros e temperos. Ao fim do dia tive que
comprar uma sacola enorme para colocar as coisas. À noite jantei no hotel e
dormi como há muito não dormia!
No dia seguinte acordei e resolvi que anteciparia minha volta em três dias. Não
havia mais o que fazer em Delhi, a não ser um city tour no dia seguinte.
Começou então a novela para a troca da passagem. Não há, segundo o escritório
de turismo, uma representação da British Airways em Delhi, só por telefone. Fui
ao aeroporto então, muito distante e lá não me deixaram entrar sem passagem
para aquele dia. Disse que só queria trocar a passagem, mas nada feito, sem
passagem para o dia não entra nem no saguão e ponto. Voltei ao escritório de
turismo e um cara me emprestou o celular para falar com a British.Airways
O problema foi conversar em inglês com a funcionária indiana por telefone...
depois de quase uma hora ao celular, consegui antecipar a volta em dois dias. A
atendente ficou de me enviar um e-mail com a confirmação e corri para o
computador do hotel. Nada de chegar a tal confirmação. Fui então ao site da British
com o código que tinha em mão e ali sim constava a passagem, ufa! Entrei num cyber próximo e
imprimi a passagem em duas vias, como garantia.
À tarde saí novamente para as últimas compras e tive que comprar mais uma
sacola para colocar tudo. Comecei a arrumar a mochila para a volta no dia seguinte
e à noite escolhi um restaurante filipino para jantar. Seria meu jantar de
despedida em grande estilo. Vi o anúncio do restaurante num daqueles prospectos
que ficam na recepção do hotel. Peguei um táxi do próprio hotel e, à medida que
nos aproximávamos do local, fui conhecendo a parte da cidade de Delhi rica,
muito rica! Hotéis como aqui não se vê, prédios majestosos, carros só
importados... paramos em frente ao restaurante e pedi ao motorista para
aguardar, pois ia dar uma olhada antes de entrar. Bom mesmo ele ter esperado;
os preços eram absurdos para os padrões indianos. Achei que seria bobagem
gastar muito num jantar sozinho e voltamos para o hotel, onde comi um delicioso
prato chinês. Soube depois que aquele tal de o restaurante filipino é ponto de encontro
de milionários indianos, joalheiros e empresários.
Pela manhã cedo, tomo um belo café da manhã e desço para procurar um táxi para meu
city tour. Na recepção conheço três argentinos, um rapaz e duas mulheres que
acabaram de chegar da suíça. Conversamos e fomos juntos ao tour. Fomos ao Red
Fort, que desta vez estava aberto, Maktub Complex, Índia Gate, Birhma Temple,
Palácio Presidencial, Mesquita e outros lugares. Os argentinos por vezes não me
acompanhavam em função do calor. Como era meu último dia enfrentei o forno e
conheci os locais em
detalhes. Estava tão quente que o ar condicionado do carro
não valia de quase nada, mesmo no máximo de frio. Na volta ficamos de nos
encontrar às 19:00, o que não aconteceu. Eu dormi um pouco no fim da tarde e à
noite fui para o aeroporto pegar o vôo para Londres marcado para sair às 2:00 da manhã.
Nessas horas acho melhor evitar sair na ultima hora, e já estando no aeroporto desde as 23:00 mais ou menos, fico mais tranquilo enquanto aos horários...chega de sobresaltos!..né?
Finalmente chegou em Heathrow - Londres, e foi este o motivo de ter escolhido viajar pela British, pois a cidade tem mais 4 outros aeroportos, distantes entre si...e todos os voos para o Brasil saem de Hearthrow...ao verificar meus e-mails tinha um da Dulce
confirmando que estaria no mesmo vôo para o Rio. Nos encontramos por acaso no
saguão e voltamos juntos. Avião vazio, muita gente deitando nas poltronas,
fazendo-as de cama. Viagem tranqüila até o Rio, confortável, pequena febre que
logo passou e muita vontade de voltar em breve!
Namasté!