Independentemente de crenças religiosas ou desenvolvimento espiritual tentarei aqui, mostrar o homem que foi Francisco, e também sua companheira, Clara, e tentar conhecer melhor a sua vida e obra e, especialmente, aprender com os seus exemplos.
Francisco De Assis (ou São Francisco de Assis)
Foi um homem rico, foi poeta, ecologista, pacifista, renovador, irmão de todos os seres, que foi santo, que adotou a "senhora Pobreza" e que respeitando e venerando acima de tudo a Deus, criou o seu próprio caminho, trilhando em meio a grandes dúvidas e dificuldades, sempre apoiado na sua Fé, nos seus longos momentos de meditação nos quais permanecia várias horas praticamente em jejum, recebendo de Deus seus ensinamentos e orientações.
Nasceu na cidade de Assis, na Itália, em 1181. Filho de um rico comerciante de tecidos, Francisco Bernardone, nome de batismo, tirou todos os proveitos de sua condição social vivendo entre os amigos boêmios. Tentou como o pai seguir a carreira de comerciante, mas a tentativa foi em vão.
Na busca do seu sonho de se tornar um jovem cavaleiro coroado de glórias, Francisco ingressa no exército do Papa. Arma-se com toda a pompa e parte na companhia de alguns outros jovens de Assis. Em Espoleto, onde pararam para pernoitar, Francisco tem uma visão em que Deus lhe transmite que deve voltar e servi-lo a Ele (o Senhor) e não ao servo, ou seja o Papa.
Nesse verão, a transformação espiritual acentua-se no interior de Francisco. O nosso jovem era o líder da juventude de Assis. Era alegre, bondoso e rico. Participava em muitas festas, ruidosas, que por certo incomodavam alguns habitantes de Assis. Ele e seus amigos interrompiam o silêncio das noites cantando pelas ruas da cidade e dedicando serenatas às jovens da sua preferência. Mas algo tinha mudado em Francisco, desde aquela visão em Espoleto. As festas e jantares com os amigos deixaram de fazer sentido e a pouco e pouco foi-se desinteressando, para espanto de todos em Assis.
Francisco, adquiriu então o hábito de procurar refúgio no meio da natureza que rodeia as muralhas da cidade, onde passava horas em oração e meditação. No fim do ano, aconteceu que ao voltar de seus retiros, Francisco parou na capela de São Damião que jazia em ruínas no meio do campo a cerca de 3km da cidade. Francisco entrou e fez as suas orações a um crucifixo bizantino, quando ouviu: "Francisco, vai e reconstrói a minha casa, quase a cair em ruínas". E assim fez: Francisco, vende alguns tecidos do pai e oferece o dinheiro ao padre encarregado de São Damião que, com receio de Pietro Bernardone, recusa. Francisco, revolta-se e promete a si mesmo nunca mais tocar em dinheiro.
O pai de Francisco toma conhecimento das transformações pelas quais Francisco passava e tenta demovê-lo. Sem sucesso, pai e filho entram em conflito. Pietro acusa publicamente o filho, que entretanto abandonara o conforto do seu lar para viver na capela de São Damião. Num julgamento eclesiástico, na Praça de Stª Maria, Francisco perante o bispo de Assis, seu pai e todo o povo, renunciou à vida que até aí tinha levado, a seus bens e ao próprio pai. "De hoje em diante não chamarei meu pai a ninguém deste mundo, mas só Àquele que está no céu." Francisco despiu-se e entregou a seu pai as próprias roupas do corpo, num gesto de rompimento com a vida que até aí tinha vivido. Aqueles que o chamavam de louco, choraram nesse momento. O bispo D. Guido chorou e mandou que trouxessem um tabardo para vestir Francisco que tiritava de frio. Francisco parte então para Gúbio. Em meados do ano, regressa a Assis, adota o hábito dos eremitas e inicia a reconstrução de São Damião
A partir do verão e até ao princípio do ano seguinte, restaura São Damião e uma capela dedicada a São Pedro. Um dia descobre no meio do campo, a cerca de 5km de Assis uma pequena capela dos beneditinos conhecida por Porciúncula (Pequena Porção) e os camponeses chamavam de Santa Maria dos Anjos, já que a população acreditava quase unanimemente que nas noites de Natal um coro de Anjos era ouvido para os lados da Porciúncula. Dedica-se também à reconstrução desta capelinha minúscula com apenas 7m de comprimento por 4m de largura.
Com a renúncia definitiva aos bens materiais paternos, Fundou a Ordem dos Frades Menores, que em poucos anos se transformou numa das maiores da Cristandade. Fundou, com Clara de Assis, o ramo feminino da mesma Ordem. Para os leigos que viviam no mundo, mas desejavam ser fiéis ao espírito de pobreza e participar das graças e privilégios da espiritualidade franciscana, fundou a Ordem Terceira.
A devoção a Deus não se resumiria em sacrifícios, mas também em dores e chagas. Enquanto pregava no Monte Alverne, nos Apeninos, em 1224, apareceram-lhe no corpo as cinco chagas de Cristo, no fenômeno denominado "estigmatização". Os estigmas ou marcas (chagas mesmo) não só lhe apareceram no corpo, como mostraram sua fraqueza física e, dois anos após o fenômeno, São Francisco de Assis veio falecer.
O amor de Francisco tem um sentido profundamente universalista. Ninguém como ele irmanou-se tanto com todo o universo: foi irmão do sol, da água, das estrelas, das aves e dos animais. O "Cântico ao Sol", em que proclama seu amor a tudo que existe, é uma das mais lindas páginas da poesia religiosa. Santo dos pobres e humildes, Protetor dos animais. Data da sua comemoração: 4 de Outubro
Esta prece é atribuída a ele, de qualquer maneira é uma belíssima amostra de Fé:
Oração de São Francisco de Assis
---Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa paz !
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz !
Óh Mestre,
fazei que eu procure mais.
Consolar, que ser consolado.
Compreender, que ser compreendido.
Amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna !
Clara de Assis (ou Santa Clara)
O estilo de vida de Francisco não poderia ser privilégio dos homens. Muitas mulheres escutavam a sua pregação, observavam o seu estilo de viver o Evangelho e também queriam viver essa experiência. Uma delas foi Clara de Assis.
Clara nasceu em 1194 em Assis, filha de Ortolana de Fiumi e Faverone Offreduccio de Bernardino, família desconhecida, mas que pertencia a uma estirpe de cavaleiros nobres da cidade de Assis. Recebeu da mãe uma sólida educação religiosa e do pai a personalidade forte. Tinha mais três irmãs e um irmão. Era admirada pelos seus longos cabelos dourados e seus olhos decididos. Era muito determinada; quando queria uma coisa, era porque queria.
Clara ouvira falar de Francisco e de seu ideal de vida. De como Francisco abandonara a vida confortável proporcionada pelo negócio rentável do pai, para abraçar uma vida de miséria e entrega . Rufino, seu primo, contava-lhe sobre os episódios de Francisco e ela ouvia alegremente acerca da simplicidade do jovem de Assis. A tal ponto que o pai, temendo aquilo que mais tarde acabou por acontecer, proibiu que o primo Rufino lhe relatasse as peripécias de Francisco.
Aos 18 anos, Clara ouviu Francisco pregar os sermões da Quaresma na igreja de São Jorge, em Assis. As palavras dele inflamaram tanto seu coração, que o procurou em segredo, pois também ela desejava viver a experiência de pobreza, simplicidade e Amor que Francisco anunciava.
Francisco falou-lhe sobre o desprezo do mundo e o amor a Deus, e fortaleceu-lhe o desejo nascente de abandonar tudo por amor a Cristo. Encerrou a conversa dizendo: "Quero contar-te um segredo, Clara: desposei a ‘senhora Pobreza’ e quero ser-lhe fiel para sempre." Clara respondeu que "queria viver a mesma vida, a mesma oração e sobretudo a mesma pobreza".
Acompanhada de Bona de Guelfuccio, amiga íntima, passou a freqüentar a capela da Porciúncula para escutar Francisco. Estava decidida a viver o seu modo de vida. Mas como sair de casa?
No Domingo de Ramos, dia 19 de março de 1212, rica e muito bem vestida, Clara participou da missa da manhã. Não havia meio de sair despercebida do castelo de seus pais, mas encontrou a única saída possível pela porta de trás do palacete: a saída dos mortos. Toda casa medieval tinha esta saída, por onde passava o caixão dos defuntos. À noite, quando todos dormiam, a nobre jovem Clara de Favarone fugiu de casa por esse buraco, abandonou os muros da cidade e percorreu cerca de 5km até chegar à Porciúncula, onde foi recebida com muita festa pelos irmãos menores, que tinham ido ao seu encontro com tochas acesas e a acompanharam até a porta da igreja.
Ali se desfez das vestes elegantes e Francisco, com uma grande tesoura, lhe cortou os cabelos longos e dourados. Em seguida, deu-lhe o hábito da penitência: uma túnica de aniagem amarrada em volta por uma corda e um par de tamancos de madeira. Clara se consagrou pelos três votos: pobreza, obediência e castidade.
Os familiares dando pela falta de Clara, enfurecidos, foram procurá-la. Entrando na capela, viram Clara agarrada ao pé do altar. Puxaram-na com tanta força que acabaram arrancado o seu véu, percebendo então que estava com a cabeça raspada. Concluíram que nada mais poderiam fazer. Não conseguiriam mudar-lhe a idéia. Como Francisco não tinha convento para freiras e ela não poderia ficar entre os irmãos, irmã Clara ficou alguns dias no mosteiro de São Paulo e algumas semanas no mosteiro beneditino de Panzo. Por fim, recolheu-se a casa de São Damião, numa casa pobre contígua à capela, onde ficou até sua morte em 1253. Nascia assim, sob a regra dos beneditinos, o que viria a ser a Ordem das Senhoras Pobres. Pouco tempo depois, seguiram-na na vocação a irmã Inês, 16 dias depois, e mais tarde sua irmã Beatriz e a mãe Ortolana. A obra tornou-se conhecida e diversas mulheres e jovens vieram fazer-lhe companhia. Ficaram conhecidas como as Senhoras Pobres, ou Irmãs Clarissas. Em pouco tempo, havia mosteiros em diversas localidades da Itália, França, Alemanha. Inês, filha do rei da Boêmia, também fundou um convento em Praga, e ela mesma tomou o hábito.
Dotada de uma grande capacidade de comunicação, Clara foi responsável pela continuidade do ideal franciscano - principalmente após a morte de Francisco, em 1226.
Clara gostava de se denominar-se "uma plantinha do bem-aventurado pai Francisco". Ela nunca deixou os muros do convento de São Damião. Designada abadessa (encarregada) por Francisco, em 1215, Clara dirigiu o convento durante 40 anos. Sempre quis ser serva das servas, submissa a todas e beijando os pés das irmãs leigas quando regressavam do trabalho de esmolar, servindo à mesa, assistindo aos que estivessem doentes. Enquanto as irmãs descansavam, ela ficava em oração e as cobria, caso as cobertas lhes caíssem. Saía da oração com o semblante sempre iluminado Falava com tanto fervor que facilmente entusiasmava os que ouviam suas palavras.
A exemplo de Francisco, nutria fervorosa devoção ao Santíssimo Sacramento. Mesmo quando estava doente e acamada (esteve sempre doente nos últimos 27 anos de vida), ficava confeccionando belos corporais e toalhas para o serviço do altar, que depois distribuía pelas igrejas de Assis.
A força e a eficácia poderosa de sua oração pode ser sentida em 1244, quando o imperador Frederico II atacou o vale de Espoleto, tendo a seu serviço um exército de sarracenos. Lançaram-se ao saque de Assis, e como São Damião ficava fora dos muros, resolveram começar por ali. Embora muito doente, Clara fez colocar o Santíssimo num ostensório, bem à vista do inimigo. E Clara orou com grande fervor, pedindo a Cristo que salvasse suas irmãs do saque e do estupro. Em seguida, orou pela cidade de Assis. No mesmo instante, o terror se apoderou dos assaltantes, que fugiram em debanda
Clara suportou os longos anos de enfermidade com sublime paciência. Em 1253, teve início uma longa e interminável agonia. O papa Inocêncio IV deu-lhe duas vezes a absolvição com o perdão dos pecados, e comentou: "Queria Deus que eu necessitasse de perdão tão pouco assim". Doente e pobre, as mais altas autoridades da Igreja sentiam sua sabedoria e santidade e vinham aconselhar-se com ela em São Damião.
Durante os últimos 17 dias não conseguiu tomar nenhum alimento. A fé e a devoção do povo aumentavam cada vez mais. Diariamente cardeais e prelados chegavam para visitá-la, pois todos tinham certeza de que era uma santa que estava para morrer.
Irmã Inês, sua irmã, estava presente, bem como os três companheiros de Francisco, os freis Leão, Ângelo e Junípero. Vendo que a vida de Clara estava chegando ao fim, emocionados, leram a Paixão de Jesus segundo João, como tinham feito 27 anos antes, quando da morte de Francisco.
Clara consolou e abençoou suas filhas espirituais. E, para si, disse: "Caminha sem receio, pois tens um bom guia. Ó Senhor, eu vos agradeço e bendigo pela graça que vos dignastes conceder-me de poder viver".. Era freira Pobre há 42 anos e tinha 60 de vida. Dois anos após sua morte, o papa Alexandre IV canonizou-a em Anagni. Era o ano de 1255.
Há muitas lendas sobre Francisco e Clara. A amizade entre os dois foi relatada em inúmeros livros e até no cinema – no filme: "Irmão Sol, Irmã Lua" (1973), do cineasta italiano Franco Zeffirelli. Algumas biografias admitem que Clara e Francisco exerciam fascínio um sobre o outro, e que eram apaixonados pelo mesmo ideal. Existem teorias que defendem ser Francisco e Clara, duas almas gêmeas.
Lenda Dos Tempos Modernos
A lenda que explica Santa Clara ter se tornado padroeira da televisão data do ano anterior ao da sua morte: ela teve uma visão à qual se fez a analogia para o "primeiro programa de TV" da história. No Natal de 1252, Clara estava muito doente e não pôde ir às celebrações da data. Quando as irmãs voltaram, Clara descreveu detalhadamente o que ocorrera na missa, como se estivesse presente. Diz a lenda que ela viu e ouviu tudo como se tivesse um televisor no quarto. A Carta Apostólica que nomeia Clara padroeira da TV cita essa lenda e justifica o título "para que essa invenção (a TV) seja protegida por uma direção divina, para evitar males e promover seu uso correto". Foi o papa Pio XII quem, em 14 de fevereiro de 1958, declarou Santa Clara "celeste padroeira da televisão".
O Tau
O TAU é uma cruz com a forma da letra grega TAU (T). Além de ser um símbolo Bíblico é a última letra do alfabeto hebraico corresponde a 19ª do grego, sendo sua origem atribuída aos Fenícios e correspondente ao "T" em Português.
Na Bíblia o "Tau" foi utilizado pelo profeta Ezequiel: "E a glória de Deus de Israel se levantou do querubim sobre o qual estava, e passou para a entrada da casa e clamou ao homem vestido de linho branco, que trazia o tinteiro de escrivão à sua cintura. E disse-lhe o Senhor: passa pelo centro de Jerusalém e marca com um T as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem na cidade". (Ez 9-3,4) O Tau é a mais antiga grafia em forma de cruz e significa Verdade, Palavra, Luz, Poder e Força da mente direcionada para um grande bem. O Tau, é a convergência das duas linhas: verticalidade e horizontalidade, significam o encontro entre o Céu e a Terra. Divino e Humano.
Em 1215 o Papa Inocêncio III invoca ele como um novo símbolo cristão e São Francisco, estando presente nesta reunião, assume o Tau como símbolo de sua Ordem Religiosa: a Ordem dos Frades Menores. Santa Clara, quando tratava dos doentes e enfermos com a imposição do TAU, invocava a Deus que curasse aqueles que padeciam e sofriam. No Tau de São Francisco há ainda, três nós representando seus votos perante a Deus: Pobreza, Obediência e Castidade.
São Francisco selava os seus escritos com o TAU, para significar a densidade do amor de Deus, concretizada na Cruz do Cristo, sinal de Salvação. Assim podemos ver na mensagem que redigiu a Frei Leão, e que este conservou até ao fim dos seus dias. Hoje está em exibição na Basílica de São Francisco em Assis. Na região de Úmbria, Itália
Que Deus te Dê a Paz!