Em 325 DC, mais exatamente, em uma data como hoje: 20 de Maio; o Imperador Constantino presidiu ao Concílio de Niceia, no qual 318 Bispos, por ele fortemente influenciados e pressionados, iriam determinar o curso da cultura ocidental pelos 17 séculos seguintes. Foi um dia na história que marcaria, nos séculos vindouros da História Ocidental, o fim de conceitos como o da reencarnação, e de importantes conceitos Cosmogónicos como a distinção entre o Deus desconhecido e o Logos (a Ciência propriamente dita), ou Demiurgo, ao mesmo tempo que promovia o distanciamento entre o Homem e o Cristo. Afirmava a ideia de uma humanidade passiva, “corrompida pelo pecado original”, à qual restava e bastava acreditar na literalidade dos fatos históricos da vida de Jesus Cristo e obedecer cegamente aos padres da Igreja – como sendo os exclusivos intermediários entre Deus e o povo – para poder ser salvos. Ë interessante notar que neste ponto, o textos bíblicos foram alterados para tal fim... saiu o ensinamento numero um de Cristo, que todos somos filhos, e todos podemos em oração, pedir perdão e ser salvos, saiu a figura (Importantíssima, por sinal), da mulher e seu papel dentro da Igreja e essa nova igreja, ficou, a partir de então...celibatária, contrariando todos os preceitos anteriores inseridos em todas as Escrituras, e por sinal, elas também foram alteradas para ficar de acordo com os interesses do Papado, no caso Constantino e todos os que vierom após ele..ate Pio XII, que chegou ao cúmulo de apoiar o nazismo, para assim garantir que ele, seu Vaticano com seus tesouros, e ‘sua Igreja’, ficariam intocados...
Voltando ao inicío de tudo: Constantino desejava um Império forte e unido. E, para manter o seu domínio sobre o povo decidiu estabelecer uma ditadura religiosa, as autoridades eclesiásticas teriam que promover o obscurecimento e a ignorância do conhecimento existente nas brilhantes escrituras e todas filosofias até então conhecidas, que passaram a ser chamadas de arcaicas, e que, constituíam um obstáculo aos objetivos da nova religião imperial.
Foi no Concílio de Niceia que se deram os passos decisivos no sentido de criar esta ‘nova’ religião unificada, orquestrada de forma a servir ao Imperador como forma de domínio político e social.
O Deus do Império deveria ser suficientemente forte para se opor à qualquer outro Deus, como os Deuses do Olimpo, o Jeová dos Hebreus e o Buda do Oriente. Misturando as divindades arcaicas orientais com as antigas histórias de Moisés, Elias e Isaías, foram assim convenientemente criados os símbolos da nova Igreja Romana. De igual modo, para a ‘fabricação’ desta nova religião, assimilaram-se as práticas do paganismo mais convenientes, enquanto, em paralelo, todas as filosofias contrárias aos interesses da Igreja e do Império eram suprimidas ou ocultadas.
Sendo a partir deste momento, sistematicamente perseguidas e combatidas, por todos os meios ao alcance desta nova ordem imperial.
O Concílio de Niceia constituiu-se como o primeiro, de vinte e um concílios posteriores (oficialmente reconhecidos), realizados ao longo dos séculos com o mesmo fim: de fabricar e consolidar a teologia de uma nova religião concebida para o fácil controle das populações. Embora tenham havido concílios anteriores, o de Niceia foi o primeiro considerado como Concílio Ecuménico e o primeiro que foi alvo de convocação. Onde os participantes foram chamados um-a-um, e ainda instruídos devidamente, sobre o que podiam e não podiam “opinar”
E, certamente, é o mais celebrado pela Igreja Católica Romana, em toda a sua história.
Nele, foram instituídas as primeiras “ferramentas” para facilitar a criação do profissionalismo religioso e do afastamento entre o Homem e o ideal de Cristo; como foram criados os fundamentos da teologia da nova Igreja Cristã, alicerçados na deificação de Jesus e sua consubstanciação com o Deus Pai, bem como na escolha dos Evangelhos que, a partir deste Concílio, passaram a ser os únicos textos considerados como sagrados no Cristianismo.
A Conjuntura
Vejamos então o conjunto de circunstâncias que levou a este acontecimento decisivo da nossa história e determinou o rumo de nossa cultura....ate os dias de hoje. E, pela minha visão, não tem nada para celebrar...e muito para lamentar...
Até Constantino, Roma (no caso, O IMPÉRIO Romano de César e seus pares..) exigia uma obediência total ao estado mas tinha bastante abertura à livre expressão da liberdade religiosa. Em Roma coexistiam grupos da Tradição Hermética Egípcia, o Zoroastrismo Persa, o Budismo Oriental, o Monoteísmo Judeu, bem como grupos Gnósticos, Filósofos Platónicos, e outros. Esta diversidade religiosa e filosófica permitia o intercâmbio de tradições e ensinamentos, contribuindo assim para o desenvolvendo de uma gama de conhecimentos bastante rica. Alexandria (atual Egito), era o centro de aprendizagem deste império (que ate então era de integração) e a sua biblioteca era a mais famosa da antiguidade. Além do mais, a sua localização geográfica proporcionava a congregação de pessoas e grupos de várias culturas e credos.
Entretanto, a acumulação de riqueza nos estratos sociais mais altos, a cobrança de impostos injustos aos pobres, a escravatura disseminada e o desrespeito pela vida humana, tinham chegado a tal ponto, que gerou uma decadência que estava se alastrado pelo império romano todo, e que estava corrompendo o coração do império.
Neste contexto vários grupos Gnósticos floresciam em Alexandria. Simultaneamente, nasciam escolas filosóficas e grandes instrutores religiosos que procuravam despertar, nos seus alunos, ideais mais nobres.
Os Cristãos primitivos, eram chamados de Grupos Gnósticos verdadeiros herdeiros da Religião-Sabedoria. Suas ideias difundiram-se e foram amplamente toleradas até 250 DC. Eles ensinavam que o caminho para a libertação se encontrava pela obtenção da Gnose, ou seja o conhecimento das verdades sagradas (leia-se da Palavra de Deus) do Universo Espiritual. Para os cristãos dos primeiros séculos, Cristo era o símbolo vivo da centelha divina em cada Homem; e Jesus, o Homem sublimado, era o discípulo no Caminho ascendente, (que) havia chegado a ser um poder maior, Christos, ao realizar a união permanente com o seu Espírito, a Mônada Divina, com o Pai. Neste estado crístico, Jesus ficou apto para ser o veículo de uma Entidade (ainda) mais excelsa, um Mestre de Mestres ( o Rei dos Reis) – o Cristo manifestado em Jesus. Através da sua vida e morte, era demonstrada a via da libertação e ensinavam-se os segredos da ascensão espiritual.
Em contraste com a cultura Romana, estes grupos de Cristãos ensinavam a simplicidade, muitas vezes levando vidas ascéticas. Denunciavam a escravatura, a opressão e a brutalidade dos Jogos romanos, aqueles que aconteciam no Coliseu, onde se sacrificavam os desfavorecidos, às centenas, em espetáculos de carnificina. Roma tinha sido até ai bem sucedida em silenciar protestos populares por meio da morte ou suborno. Estes grupos Cristãos, porém, não eram permeáveis a ameaças, e não tinham medo da morte, não eram tentados por suborno, e continuavam a aumentar.
Entretanto, paralelamente, as fações Cristãs mais literalistas, mais fanáticas (mais xiitas, como diríamos na linguagem de hoje), e que gostavam de se denominar-se Ortodoxas, viram o seu poder confirmado por Constantino. Em 314, um mês depois da morte de Miltiades, Bispo de Roma, o Imperador Constantino nomeou publicamente Silvestre como o sucessor de Miltiádes. Este bispo Silvestre foi o primeiro bispo de Roma a ser coroado como um príncipe. Constantino doou-lhe terras, palácios, poder judicial, dinheiro, força política e até o controle sobre o exército, estendendo assim o seu poder e autoridade sobre todo o Império. Aceitando e introduzindo a aliança entre o Estado e a Igreja, Silvestre foi o primeiro Papa a ter verdadeiro poder temporal. Em troca, promoveu o papel divino do Imperador Constantino.
Em seqüência desta confabulação, dois anos antes da realização do Concílio de Niceia, o Imperador Constantino declarou oficialmente o Cristianismo (Ortodoxo) como a religião do império Romano. Conseqüentemente, toda a Igreja passou também a receber grandes poderes, promovendo assim o apetite pela riqueza da classe eclesiástica. Toda a nova classe de líderes da Igreja Romana deixou então de ser estrangeira no mundo, em qualquer pais que fazia parte do Império Romano, para ser parte ativa no sistema político vigente, acumulando poder, riqueza e dominando congregações. Os Bispos tornaram-se homens de poder e de política, assim como conselheiros do Imperador, alguns gozando de grande prestígio e cooperando com o Imperador na construção da nova religião, como foi, por exemplo, Eusébio de Cesareia.
A Crescente Controvérsia
Naturalmente, as vozes dos Gnósticos, cujos valores não se coadunavam com os do Império Romano, e que recusavam a interpretação literal da vida de Jesus promovida pela fação ortodoxa, constituíam um perigo para a Igreja de Constantino. Os Gnósticos entendiam Deus a um nível metafísico e místico, e sugeriam uma relação com o Divino bem mais madura que a promovida pelos ortodoxos-literalistas. Em conseqüência, começaram a surgir verdadeiros focos de discórdia e diferenças várias, que vinham a causar grande ressentimentos na comunidade ortodoxa ora no poder, e que, contribuiam para debilitar cada vez mais a relação entre estes grupos.
Diferentemente da fação ortodoxa, os Cristãos originais, Gnósticos, consideravam o Deus Jeová dos Judeus como o Demiurgo, o Criador ou Governante do mundo imperfeito, do mundo inferior, e não como o Pai de que falava Jesus ou muito menos como o Absoluto,. Pretendiam ainda alguns dos grupos Gnósticos cortar a ligação a este Deus caprichoso, ou melhor, separar o Cristianismo das noções de um Deus ciumento e vingativo, com tanta vontade de sangue, que aparece em tantas páginas do Antigo Testamento. O que, diga-se de passagem é a grande diferença entre o Antigo e o Novo Testamento.
Em acréscimo, nos primeiros tempos do Cristianismo discutia-se na Igreja Ortodoxa a segunda vinda de Cristo (Parusia). Acreditava-se – e a Igreja continua até hoje a subscrever esta ideia - que a humanidade estava prestes a entrar numa idade gloriosa em que Cristo voltaria para recompensar os que nele acreditavam, castigar os que não acreditavam nele e voltar a dar vida física àqueles que tinham morrido em seu favor. Por contraste, a generalidade dos Gnósticos não defendiam essas crenças literalistas. Tal como a crucificação, a ressurreição física não significava nada para eles, pois a verdadeira vitória estava em transcender o corpo físico (e a natureza animal), não em repeti-la depois da morte. A ressurreição de Cristo não era interpretada de uma forma literal mas sim simbólica, referindo-se a uma transformação interior levada a cabo na Iniciação nos Mistérios.
Outros diferenças, como as doutrinas sobre a Criação do Universo, suscitavam de igual modo feroz reação nos Cristãos ortodoxos, tendo-se atingido o ponto máximo de controvérsia – que deu o bastante pretexto, para à convocação do Concílio de Niceia por Constantino – com a discussão em torno da Doutrina da Trindade.
A Controvérsia de Arius, ou “Ariana”
Discutida pela primeira vez no Concílio de Antióquia em 269 DC, as divergências sobre Doutrina da Trindade alcançam o seu climax no Concílio de Niceia, quando do diferendo entre Arius (e seus seguidores, os “Arianos”) e o Bispo Alexandre de Alexandria (e seu protegido Atanásio), com relação à consubstancialidade de Jesus com Deus Pai, defendida por estes últimos.
Até então, em muitas comunidades Cristãs, era o ensinamento preponderante que Jesus fora um homem que, em virtude da sua vida perfeita e sem pecado, recebera pelo batismo a Iniciação, tornando-se (um) Salvador do Mundo. Este tinha sido também o ensinamento da Igreja até então, nomeadamente através de Paulo de Samosata (260 – 272 DC), Bispo de Antioquia.
Esta conceito foi seguido por Arius, da Igreja de Alexandria. Começava, no entanto, a surgir a tendência materializante da fação ortodoxa. Deste modo, e ao contrário de Arius, Alexandre, Bispo de Alexandria, afirmava nos seus sermões que, em relação ao mistério da Trindade, o Filho era igual ao Pai, que o gerara, e da mesma substância. Dava-se início, assim, à formulação das três pessoas da divindade cristã ortodoxa, uma trindade antropomorfizada e que não admite divindade superior. Arius, tendo sabido dos sermões do Bispo, declarou-lhe oposição e afirmou publicamente a sua dedução lógica: se o filho era gerado pelo Pai, tem que ter havido um tempo, um momento em que o Filho não existia, ou seja, o momento anterior à sua criação. O Filho tinha, portanto, tido um começo, um início. Antagonizando o Bispo Alexandre, Arius iniciou uma forte campanha ensinando em Igrejas e assembleias públicas a doutrina de que Jesus Cristo era filho do Pai, criado pelo Pai e, portanto, uma criatura. Em resposta o Bispo Alexandre escreveu a vários Bispos, incluindo ao Bispo Alexandre de Constantinopla, denunciando Arius e os seus seguidores por tentarem evitar a ‘deificação’ de Cristo.
O verdadeiro propósito do Concílio de Niceia
Constantino terá percebido que a controvérsia entre os seus Bispos podia constituir uma ameaça e ser um impedimento à unidade do Império Romano. Ou, talvez ainda mais provavelmente, Constantino teria visto nesta conjuntura uma oportunidade para a unidade da religião que ele pensava impor ao império (e como forma de controlar a população), e acabou por apoiar a fação que se opunha a Arius – a fação que era conhecida como a ortodoxa (os xiitas daquela época).
A nova religião imperial, baseada numa mistura confusa das ideologias dos vários grupos Cristãos e Pagãos, permitia a difusão desejada. A adaptação (embora desvirtuante) das tradições do passado, facilitaria também a sua aderência pelos povos de Roma.
Adicionalmente, ao atribuir “origens divinas” à Igreja Cristã de Roma, garantia-se que Deus ficava acessível apenas à hierarquia eclesiástica – controlada por Constantino – e não ao indivíduo comum. Constantino estendia então e reforçava o seu poder político através de todo o Ocidente, garantindo também que, como Imperador defensor da Igreja, se revestia ele próprio de uma manto divino.
Quanto à moral que Jesus tinha ensinado, esta seria gradualmente modificada de acordo com os interesses do Império e da Igreja, impondo que “fora da igreja não há salvação”, evitando assim focos de dissidência.
Por último, e de modo a garantir a adesão da população a um catecismo pouco verosímil, a Igreja postulou a ideia que acreditar nos eventos históricos da vida de Jesus era o suficiente para a salvação, fundando-se assim a “Religião Imperial Católica Apostólica Romana” ou, por outras palavras, o Cristianismo Imperial de Constantino.
O Concílio
Segundo Helena Blavatsky “uma névoa de mistério envolve este concílio”, o qual pode muito bem ser chamado de misterioso. Havia mistério, em primeiro lugar, no número místico dos seus 318 bispos, a que Barnabé deu muita importância; além disso não há concordância entre os escritores antigos quanto à época e ao local de realização dessa reunião, nem mesmo sobre quem seria o bispo que a presidiu. Não obstante, os frutos da realização deste concílio marcaram de forma indelével o curso da nossa civilização.
Segundo a história oficial da Igreja Católica, o concilio teria sido presidido pelo próprio Imperador Constantino, e nele teria estado presente Eusébio de Cesareia, um dos maiores apoiadores do Grupo Ortodo, que mais tarde reescreveu toda a história da Igreja, segundo a perspectiva do Cristianismo Imperial e dominante de Constantino.
Deve-se a este concílio duas ferramentas chave da teologia da igreja Católica:
1) A decisão de quais, entre os muitos Evangelhos existentes, eram inspirados pelo Divino, ou seja, a seleção dos Evangelhos oficiais (e a subseqüente erradicação de todos os outros, considerados apócrifos);
2) A formulação Oficial da Doutrina da Trindade, em que a Igreja rejeita o principio “Ariano” (de Arius) e afirma que Jesus é da mesma substância (ou seja, é a mesma entidade) que Deus.
Também, o Credo de Niceia foi redigido e modificado (nele se inserindo várias redundâncias) de forma a identificar o Pai com o Filho. Quem discordou, foi pura e simplesmente perseguido pelo imperador.
Ainda durante os vários séculos posteriores, os concílios defenderam as visões mais antagónicas e contraditórias sobre a Doutrina da Trindade, visando reforçar cada vez mais a ideia da identidade de Jesus como Deus Absoluto, e o consequente afastamento do Homem do ideal do Cristo. É exemplo a proclamação de Maria, mãe de Jesus, como “Theotokos” – mãe de Deus – no Concílio de Éfeso realizado em 431 DC.
O Concílio – a seleção dos Evangelhos
Quanto à seleção dos Evangelhos sabemos que “Todo o atual dogma religioso da Igreja se deve à Sortes Sanctorum, que é nada mais e nada menos que a prática de lançar à sorte alguma coisa com o fim da adivinhação, prática comum do clero cristão primitivo e medieval. Não sendo capazes de concordar quais dos numerosos Evangelhos seriam os mais divinamente inspirados, foi resolvido no concílio de Nicea deixar a decisão nas mãos da intervenção divina. Como tal, os atuais Evangelhos Canónicos foram assim escolhidos,e não foram outros devido à Sortes Sanctorum.
Curiosamente esta prática de adivinhação era considerada uma prática sagrada, se feita pelo clero cristão primitivo e medieval. Porém, se exercido por leigos, hereges ou pagãos o tal de sortes sanctorum convertia-se, de acordo aos ‘piedosos’ padres, em sortes diabolurum ou sortilégio (magia negra, feitiçaria)
Ainda, Pappus diz-nos no seu Synodicon daquele Concilio: ‘Depois de terem promiscuamente colocado todos os livros que tinham sido referidos para determinação ao Concílio sob a mesa de comunhão da Igreja, eles (os Bispos) imploraram ao Senhor para que os livros inspirados fossem parar em cima da mesa, e assim aconteceu (…) Com base na autoridade das testemunhas eclesiásticas, portanto, tomamos a liberdade de dizer que o mundo cristão deve a sua ‘Palavra de Deus’ a um processo adivinhatório, pelo qual, com a seu lema de ‘dois pesos, duas medidas’, passou mais tarde, a condenar, indiscriminadamente vítimas infelizes, acusando-os de conjuradores, encantadores, mágicos, feiticeiros e adivinhadores, queimando-os aos milhares. Na famosa e lastimosa época da Historia Ocidental, conhecida como ‘Inquisição’ Falando desse fenómeno verdadeiramente divino da escolha dos manuscritos, os padres da Igreja dizem que “o próprio Deus preside o tal de Sortes”. Ou seja: deus brincava com dados, na frente dessas pessoas, e nós tínhamos que acreditar e dizer apenas ‘amén’.
Levando em conta que, nos primeiros séculos do Cristianismo. os Evangelhos teriam chegado a ser mais de 300. A sua redução para somente 4, decorrente do Concílio de Niceia, e o fato de se conhecerem hoje mais de 60 Evangelhos ditos “apócrifos” (como os de Tomé, de Pedro, de Filipe, de Tiago, dos Doze Apóstolos, dos Hebreus, etc.) vem demonstrar o papel preponderante da Igreja Católica na eliminação e adulteração dos primeiros escritos cristãos. Adicionalmente, sabe-se que os diversos grupos de Cristãos Gnósticos, de que são exemplo os Ebionitas e os Nazarenos, tinham os seus próprios Evangelhos, muito diferentes dos textos selecionados sob os auspícios de Constantino.... e seus fazedores de mágicas fajutas.
Reforçando a incoerência de todo este processo, e de acordo com um dos autores da obra “Apócrifos, os Proscritos da Bíblia”, houve textos que, não obstante eliminados da Bíblia Romana, viriam mais tarde a ser nela reintegrados, como são exemplos o Livro da Sabedoria (atribuído a Salomão), o Eclesiástico ou Sirac, os Odes de Salomão, o Livro de Tobias, o Livro de Macabeus, e outros mais. Outra parte de alguns escritos testamentários ficou, no entanto, de fora, como o famoso Livro de Enoch, o Livro da Ascensão de Isaías, e os Livros III e IV dos Macabeus.
O Concílio – o Credo Niceno
Para fornecer a nova religião de origens divinas, os Bispos reconstruíram uma oração, o Credo existente, enfatizando a consubstanciação do Filho com o Pai, de Jesus com Deus:
“Creio em Deus Pai Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis; E em um Senhor Jesus Cristo, filho unigénito de Deus, gerado de Seu Pai antes de todos os tempos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai (…)”
De fato, como já foi dito, um dos pontos na agenda do Concílio, foi a discussão sobre a natureza de Cristo e a natureza da sua relação com Deus: se o Pai tinha existido antes do Filho, e se Pai e Filho eram da mesma natureza ou “apenas” de natureza semelhante. A discussão centrou-se em volta de uma variação da palavra grega “homos”: em grego a palavra “homos” significa da mesma natureza ou substância, ou seja: consubstancial. No entanto, adicionando um “i” à palavra – “homoios” – passa a significar de natureza semelhante. Decidiram os Bispos que o termo correto para designar Jesus seria, na língua Grega, “homos”, ou seja, consubstancial.
A Trindade de Hipóstases divinas existente no Hinduísmo e no antigo Egipto, assim como em todos os sistemas religiosos e filosóficos arcaicos, foi assim decalcada e antropomorfizada. Desta maneira, o Concílio decidiu que a Trindade Cristã seria constituída por Três Pessoas: o Pai, o Filho (Jesus) e o Espírito Santo, e que Jesus, o Filho, era consubstancial a Deus.
Nos Mistérios e religiões arcaicas que antecederam a Cristandade, era bem conhecido que o termo “Filho de Deus” se usava para designar o grau de Iniciação nos mais altos Mistérios, visando atingir a natureza divina por parte do iniciado. Quando um aspirante alcançava, através da Iniciação, de grandes provas e sofrimentos, um elevado estado de perfeição, o seu nome era transformado em Christos, o “purificado”. Para a generalidade dos grupos Gnósticos, Jesus era a Sabedoria e a palavra de Deus em virtude da sua indissolúvel união com o Verbo. Cristo, filho de Deus, corresponde analogicamente ao segundo Aspecto do Logos e o princípio Cristico, ou Buddhi, no homem.
Como é óbvio, todas estas considerações metafísicas por muito enriquecedoras do ponto de vista do conhecimento religioso-filosófico que fossem, não beneficiavam em nada o poder e a autoridade da classe eclesiástica, que se começava a formar no Império através do domínio da fação ortodoxa nas paróquias.
Se os padres da Igreja Ortodoxa fizessem a distinção entre a preexistência da alma de Jesus (ou Jesus homem) e o Cristo ao qual ele ascendeu, isso implicava obviamente que qualquer alma podia, da mesma forma que Jesus, vir a identificar-se com o Filho e, portanto, a progredir na direção de uma União com a Divindade. O poder e a autoridade do Clero, como únicos mediadores entre Deus e o Homem, estavam, desta forma, ameaçados.
Os padres tomaram portanto a direção contrária – uma direção que lhes permitisse o controle absoluto dos seus crentes, um movimento na direção da absoluta deificação de Jesus.
Em oposição, vários Bispos favoráveis às teses de Arius apresentaram um outro credo ao concilio, o qual foi rasgado, resultando na excomunhão de Arius. O livro de Arius foi igualmente queimado no próprio concílio. Uma confissão de fé (o Credo Niceno) foi então escrita no concílio e assinada por todos os presentes, de acordo com ordem dada por Constantino. Todos os que se recusaram a assinar o Credo, foram banidos.
O Credo subscrito em Niceia é muito mais do que a afirmação da Divindade de Jesus: é também a afirmação da nossa separação de Cristo e do Divino. Ou seja:uma alteração deslavada dos verdadeiros ensinamentos do Bíblia. Tudo visando fortalecer o poder do classe eclesiástica.
Objetivo que foi atingido totalmente, até o início do Século XX.
Entretanto, e curiosamente, o Credo Niceno é também visto por alguns estudiosos como um simples (mas pouco lúcido) desenvolvimento da fórmula “O Buddha, A Lei, A Comunidade Monástica (Buddha, Dharma, Sangha), tendo sido o Concílio o momento em que o Cristianismo rompeu definitivamente com o Budismo eclesiástico, visto que os Essenos, os Terapeutas e os Gnósticos são identificados como o resultado da fusão entre o pensamento Indiano e Semítico, demonstrado por comparação entre a vida de Jesus e Buddha. Na parte lendária, ambas as histórias são idênticas. A parte lendária é contrastada com a característica correspondente à outras religiões, principalmente com a história dos Védas do Visvakarman”.
Aliás, e muito estranhamente, são gritantes as similaridades do Credo Niceno com a antiga doutrina Hindu. Krishna era considerado como a encarnação de Visnhu, cuja função era análoga à Segunda Pessoa da Trindade Cristã. No Bhagavad-Gita (datado aproximadamente de 250 AC), o mesmo Krishna é representado como a suprema personificação de Brahman – a divindade suprema que desce para iluminar o homem e contribuir para a sua salvação. Isto vem evidenciar, uma vez mais, que o Credo proposto pela fação ortodoxa e assinado pelos Bispos em Niceia resultou de uma amálgama fabricada com elementos de outras doutrinas mais antigas, adaptadas aos interesses e objetivos da nova religião imperial.
Posteriormente, ao longo da História da Igreja Católica, e no decorrer de vários concílios, foram também adicionadas ao Credo Niceno diversas outras referências refletindo a constante adaptação da religião fabricada, notadamente a inclusão da passagem “… e encarnou pelo Espírito Santo na Virgem Maria…” e “… também por nós foi crucificado e sob Pôncio Pilatos”, numa clara tentativa de enfatizar um elemento Histórico na vida literal de Jesus, justamente por ser um elemento controvertido”.
Conclusão
Como vimos, a política do Império Romano foi lentamente assimilada na Igreja, sendo reformulada em uma religião totalitária com o nome de Catolicismo Romano. A ascensão de Constantino foi um período de grande crescimento da Igreja, com a criação desta tal religião oficial do Império.
Também, no concilio de Niceia se dão os primeiros passos no sentido de construir as ‘bases’ da teologia desta igreja oficial: são também “sorteados” os Evangelhos “Divinamente” inspirados, e Jesus Cristo é oficialmente declarado como Deus.
Após este ato, haverá sempre, para muitos, um abismo entre a humanidade e Cristo. De acordo com os padres pós-Niceia, Jesus é o próprio Deus Eterno manifestado e Absoluto. Também a noção de “Iniciação” do discípulo foi eliminada. As doutrinas gnósticas e esotéricas, cujos ensinamentos incidiam na evolução espiritual, tornaram-se supérfluas e indesejáveis. A teologia resultante do Credo Niceno promoveu uma passividade em que, de acordo com aquela fórmula, qualquer pessoa tem apenas que aceitar o credo, partilhar dos sacramentos, obedecer aos Bispos, os Padres e à Igreja, bem como às decisões dos concílios, e fazendo isso, será “salvo”.
Este concílio e as doutrinas daí criadas, prepararam também o terreno no qual floresceram as doutrinas do pecado original e do Inferno Eterno, contribuindo para a degradação e aviltamento da humanidade.
Vimos ainda que o triunfo do Cristianismo não pode ser separado da influência politica do Império Romano. Ao promover o casamento entre igreja e estado, os líderes da igreja tornaram-se monarcas e Constantino foi quase foi considerado um santo. Conseqüentemente, uma das grandes preocupações da Igreja foi (não da teologia) era a eliminação de todos os elementos que se atravessaram na obtenção do poder absoluto. A partir daqui e até 1798 (quando os exércitos de Napoleão entraram em Roma), o Papa e as Monarquias governaram absolutos, em uníssono.
Se alguma coisa importante temos que reconhecer em Napoleao, é, a de ter tido a coragem de mostrar que o Papa, seus Cardeais, seus Bispos e demais... eram apenas seres como qualquer outro.
Quando Constantino morreu, em 337, foi Batizado (isso aconteceu somente e por ironia, no seu leito de morte e por um seguidor de Arius) e enterrado na consideração que ele se tornara como um “décimo terceiro apóstolo”. Na iconografia eclesiástica inventada pelos padres, foi representado como recebendo uma coroa da mão de Deus…
Notas:
Para saber qual é a maior razão para a existência da Bíblia: João 20:31
Sobre essas ‘manipulações’ os Profetas já advertiam em: Isaias 8:20; Gálatas 1:8
Os Mandamentos verdadeiros, conforme a Bíblia: Exodo 20:3-17
Os Mandamentos adulterados: basta ler o Catecismo Romano
A Lei no Novo Testamento: Salmo 89:34
1º Mandamento: Mateus 4:10
2º Mandamento: I João 5:21; Atos 17:29
3º Mandamento: I Timoteo 6:1
4º Mandamento: Mateus 24:29; Marcos 2:27-28; Heb 4:4,9,10; Col 1:16
5º Mandamento: Mateus 19:19
6º Mandamento: Romanos 13:9
7º Mandamento: Mateus 19:18
8º Mandamento: Romanos 13:9
9º Mandamento: Marcos 10:19
10º Mandamento: Romanos 7:7