
Os gestos errados no lugar errado.
errado, porem não de errar, e de local trocado,
como falar com o espelho
e não com quem nele se olha.
Construí um jardim para dialogar
ali, acotovelado com a formosura, com a sempre
muda mas ativa morte trabalhando o coração.
Deixa a bagagem, repete, agora que teu corpo
enxerga a praia, não há nada, porem
os gestos precisos
deixe ir para cuidá-lo
e seja, o jardim.
Valoriza o que perdeu, diz, essa morte
falando em perfeita e abastada linguagem.
O que perdes, enquanto tinhas, é a única companhia
que se achega, na distante praia da morte.
Agora a língua pode se soltar a falar
ela nunca sentiu o escalpelo do horror
prevista de ferramentas de fazer, maravilhas
do tenebroso. Apenas digerível ao olho do terror
se a formosura persiste, olha o buraco
cego: os gestos precisos, amorosos, sem reflexo
no espelho enfrente ao qual, tudo carece
de sentido.
Ter um jardim, é se deixar possuir por ele e seu
eterno movimento de partida. Flores, sementes e
plantas morrem para sempre ou se renovam. Há
a poda e momentos, no cair doce de uma
tarde do estio, para assisti-lo cheio de si,
enquanto a sua sombra anuncia
no maciço fulgor de setembro, ou no dormir
sem sono do ser enquanto morre, enquanto
a espécie não cessa de se forjar.
O jardim exige, sua jardineira vê-lo morrer
Demanda sua mão que corte e modifique
a terra nua, revirada nos canteiros
debaixo a noite gelada. O jardim mata
e pede ser morto para ser jardim. Mas fazer
gestos certos no lugar errado,
dissolve o enigma, descobre ermo.
Amor cobrado em diferença como
céu azul contra a dor. Gota
magnífica da tormenta em cujo braço chegas
a distante beira. I wish
were here amor, mas eres, jardineira e não
jardim. Desenterraste meu coração do teu canteiro
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