Lá nos idus de 1200, em uma data como hoje, ocorreu uma matança na cidade de Beziers, localizada em Languedoc, no sul da França, também conhecida pelos romanos como Gallia Narbonensis (daqui que vem a legendas de Asterix, que foi imortalizado pelos quadrinhos)
Beziers foi alvo dos Cruzados Albigenses que saquearam a cidade para acabar com um grupo de cristãos gnósticos, mais conhecidos como Os Cátaros Foi uma das primeiras matanças invocadas pelo Papa visando se fortalecer e aumentar o seu Império papal pelo terror e medo, então mandou os Cruzados para “acabar com a heresia”, pois o grito de guerra deles era: “Matem todos eles!.Deus sabe dos Porquês” esta massacre levou diretamente ao início da Inquisição e o obscurantismo que, pelos próximos cinco (5) séculos mergulhou á Europa no terror, enquanto o poder e a hegemonia do Papado crescia... Assim, como marcou também o início da hegemonia e poder da Ordem dos frades Dominicanos.
No início do século XII, a Igreja Católica presenciava a difusão dos cátaros (kataroi, puro em grego) ou albigenses (nome derivado da cidade de Albi, na qual vivia um grande números de cristãos agnósticos, rotulado como 'heréticos' pelo papado.) e que, se propagou por todo o território do Languedoc, sul da França.
Os cátaros organizaram uma Igreja e seus membros estavam divididos em Crentes, Perfeitos e Bispos. As pessoas se tornavam Perfeitos (homens bons), pelo ritual do consolament (cerimonia que consistia na oração do pai nosso; troca de vestes, preta no início, depois azul, e que, mais tarde foi substituída por um cordão (no tempo da perseguição). Tocava-se a cabeça do iniciante com o Evangelho de João , o ritual terminava com o beijo da paz, faziam voto de castidade, cabendo-lhes a guarda, a transmissão e a vivência desta fé cátara.
Devido a propagação da fé cátara (chamada insistentemente pelo catolicismo de “heresia”) a partir de 1140, a Igreja Católica começa a tomar medidas para combatê-la, sendo que no início tentava converter os heréticos a fé católica por meio da pregação,
Então a Igreja Católica decidiu abolir permanentemente essa ‘ameaça’ á seu poder, estabeleceu a repressão as heresias por meio de concílios, exigindo que o poder secular participasse do processo. Desta forma, através do III Concílio de Latrão (1179) e do posterior IV Concílio de Latrão (1215), foi ‘criada’as bases da Igreja Católica para reprimir a doutrina cátara. Embora o conteúdo desses cânones não tenham sido inteiramente obedecidos, percebe-se a necessidade que a Igreja Católica tinha de eliminar de vez a concorrência (no caso, a “heresia” cátara), pois esta ameaçava seu poder. A Igreja só poderia manter-se no poder com a certeza de que era a única e verdadeira herdeira de Cristo e de que passavam por ela todos caminhos que levavam a salvação.
Sul da França
A maior parte desta “heresia” pertencia á província de Narbona, somente a região de Albi estava ligada a província de Bourges. O Languedoc é anexado a França em 1229 pelo Tratado de Meaux.
O êxito da propagação dos cataros em Languedoc, pode ser explicado pela situação política da região, que era independente do reino da França, as autoridades nessa região eram os grandes senhores feudais, o conde de Toulouse e o visconde de Béziers, ambos simpatizantes do cátarismo.
O arcebispo Berengário de Narbona, da família real de Aragão, descuidava os assuntos espirituais em favor de questões políticas. Isto propiciou a difusão do catarismo, que repelia a autoridade papal, o culto às imagens e ao sacramento. Censuravam os poderes públicos e o direito de julgar e ordenar. Possuíam um ideal de Igreja Santa, com um sacerdócio purificado, vivendo em pobreza evangélica.
O movimento cátaro foi desencadeado pelas pregações do monge Henrique, embora este não fosse cátaro, muitos fiéis após ouvir suas palavras deixaram de pagar os dízimos e de comparecer as igrejas, seus ensinamentos foram combatidos por Bernardo de Clairvaux (depois São Bernardo). Henrique foi preso, porém , as maiores ameaças a Igreja se situavam em outras esferas. Os maiores aliados dos ”heréticos” pareciam ser os cavaleiros, Sabe-se também que esses cavalheiros eram os últimos Templários que foram se refugiar nessa parte da França, e eram os que protegiam os cátaros contra os ataques, da mesma forma agiam a maioria das casas nobres da região. A expansão deles fazia-se de um domus (casa) a outra, através da palavra falada. A palavra escrita era o meio mais elitista portanto de alcance reduzido.
Repressão da Igreja Católica
No início da repressão a Igreja lançava a excomunhão (pena espiritual que a Igreja aplicava e levava ao ‘pecado mortal’ da contumácia e da desobediência), não sendo isso bastante, passou a recorrer mais tarde ao uso da violência, instituindo o Tribunal da Inquisição, baseando-se justamente nos Concílios convocados para este fim específico e mencionados mais acima.... Os cátaros foram acusados de “abalarem a ordem social existente, e de aspirarem a destruição da sociedade e da humanidade”.
Isto porque: Os padres não eram necessários, qualquer leigo poderia realizar um batismo. Acreditavam na existência de dois deuses (um do Bem, outro do Mal), sendo que a Igreja Católica era monoteísta (lembrando que, todas as Mitologias antigas falavam em dois deuses mesmo). Renunciavam aos bens materiais, pregando o retorno ao cristianismo primitivo, estas divergências levaram a Igreja Católica a combater os cátaros.
A repressão foi estabelecida através de concílios, o III Concílio de Latrão (1179), e o IV Concílio de Latrão (1215), pois ambos excomungaram os cátaros. O III Concílio de Latrão, foi convocado pelo papa Alexandre III, tendo como objetivo principal por fim a dissidência dentro da Igreja e a briga entre o imperador Frederico I (Barbarossa) e o papado. O acordo firmado em Veneza (1177), finalizou o conflito que durou quase 20 anos. Este concílio surgiu após a morte do papa Adriano IV (1159), pois os cardeais haviam nomeado dois papas (Alexandre III e Victor IV). O imperador Frederico I, apoiou o papa Victor IV, declarando guerra aos estados italianos e especialmente a Igreja Romana que desfrutava de grande autoridade. Alexandre III, acabou vencendo o conflito e convoca um concílio para estabelecer a conclusão da paz. Além de resolver a dissidência entre o papado e o imperador, o concílio também reforçou a unidade e o poder da Igreja. O cânone 27 desse concílio excomunga os “hereges” chamados de cátaros, patarinos e publicanos e faz um apelo aos príncipes para que defendam a fé cristã. Os cátaros e seus seguidores estavam oficialmente perseguidos, ninguém poderia ajudá-los ou abrigá-los em suas terras, embora alguns senhores feudais os protegiam. Os bens dos “hereges” seriam confiscados. Porém os hereges que se arrependessem obteriam o perdão e a recompensa eterna, sendo concedido indulgências para quem colaborasse na descoberta de hereges (comprar pessoas para serem dedos-duro!). Os bispos e padres que não combaterem os hereges e seus erros, seriam punidos com a perda de seus cargos, até obterem o perdão. Neste concílio, também são excomungados no mesmo cânone os bandidos e mercenários que devastavam a província de Narbona, desrespeitando igrejas, maltratando crianças, viúvas e órfãos, como se fossem pagãos!. Mesmo que este concílio não tivesse a intenção da repressão armada contra os heréticos, ele são excomungados mesmo, e deveriam receber igual tratamento dispensado aos mercenários, pois ambos interferiam no poder da Igreja. Contudo, as decisões tomadas durante no concílio não seriam aplicadas a menos que, os legados do papa conseguissem impedir os progressos do catarismo no Languedoc. Com a queda de Jerusalém em 1187, que passou as mãos dos árabes, a heresia no Languedoc foi um pouco esquecida. Contudo, quando Inocêncio III assume em 1198 o trono pontificial enviaria novos legados a província de Narbona, recomeçando a repressão. Em 1215, realiza-se então o IV Concílio de Latrão, presidido pelo papa Inocêncio III. Neste concílio, -são anatematizados novamente todos os hereges, os condenados serão entregues as regras seculares, e confiscadas suas propriedades. Os suspeitos de heresias a menos que provassem sua inocência através de uma defesa, serão anatematizados e evitados por todos até se justificarem, mas se estiverem sob excomunhão por um ano serão condenados como hereges. Autoridades seculares (ou seja os Bispos, e Padres) deveriam combater a heresia, caso contrário poderiam ser excomungados pelo bispo da província e se não se justificassem no prazo de um ano, o problema passaria ao supremo pontífice, que poderá oferecer o território para ser administrado por católicos fiéis. Os acusados de heresia não poderão tomar parte da vida pública, nem julgar ou herdar, nem eleger pessoas ou dar testemunhos em um tribunal de justiça.- Este concílio acabará confirmando o que já havia sido proposto no III Concílio de Latrão, que, tentara repreender os hereges, através da exclusão da sociedade, instigando seus membros a participarem da repressão em nome da fé cristã, a excomunhão seria o princípio de um processo que se tornaria cada vez mais e mais violento. Um processo que visava eliminar qualquer tentativa de “fé” que seja diferente dos dogmas instituídos pela Igreja Católica. (Isso me lembra uma Ditadura!...poque será?)
A Cruzada Albigense - Beziers
Em 1206, chegaram ao Languedoc os bispos enviados pelo Papa, estes pretendiam instruir as massas ignorantes no catolicismo através da pregação. Obtiveram alguns êxitos, porém o assassinato de Pierre de Casstelnau (um ouvidor do papa), em 1208, precipitou uma mudança na condução política da Igreja.
O conde Raimundo de Toulouse, era suspeito do assassinato, sendo excomungado pelo papa Inocêncio III, que escreveu ao rei da França, Filipe Augusto, para expulsar o acusado dos Estados do Languedoc, ordenando uma cruzada contra Raimundo VI.
O novo enviado do papa, Amaury, anunciou a cruzada contra os cátaros e contra os senhores que os protegiam. Um exército mercenário comandado por Simão de Montfort, declarou guerra ao vice-condado de Trencavel, que estava sob proteção de Raimundo VI e Rogério de Trencavel. mais conhecido como Raimundo VI, teve que se humilhar ante a Igreja, e acabou perdendo tudo!
Na primeira fase da cruzada, foi destruída Béziers (1209), onde mais de 60.000 pessoas morreram. Destruída a cidade, os “cruzados”, que nada mais eram que mercenários, marcham papa Carcassone, onde Raimundo VI foi preso, acabando por morrer na prisão. Simão de Montfort, se apropria dos condados de Trencavel (Carcassone, Béziers), conquistando também Alzonne, Franjeaux, Castres, Mirepoix, Pamiera e Albi. Minerve, todas sitiadas em 1210, sendo executadas queimadas 140 pessoas. A próxima conquista seria Corbiéres, chegando até a cidade de Puivert.
O conde de Toulouse, tinha como aliado o conde de Foix, o conde de Comminges e o visconde de Béarn. O IV Concílio de Latrão, confirmou as apropriações de Montfort, além de propiciar a conciliação dos senhores do Sul com a Igreja, com o compromisso de perseguirem a heresia. Em 1216, a Provença subleva-se e Montfort trava nova batalha contra os hereges. Com a morte de Inocêncio III, coube ao novo Papa Honório III, lançar uma nova cruzada. Raimundo VII, filho de Raimundo VI, obteve vitória sobre Montfort, na batalha de Beaucaire. Simão morre em 1218, acabando também a cruzada, sem entretanto extinguir a heresia. Amaury, filho de Montfort, oferece as terras conquistadas por seu pai a Filipe, rei da França que as recusa, seu filho Luís VIII acabará aceitando as terras.
Porém, Raimundo VII, entra em luta com Amaury, para retomar o seu feudo no Languedoc. Em 1224, Luís VIII, liderando os barões do Norte, empreendeu uma nova cruzada que durou cerca de três anos alcançando muitas conquistas até chegar a Avignon, onde termina o cerco contra os hereges. O resultado dessa disputa foi um acordo entre o rei da França e Raimundo VII, pelo qual a filha de Raimundo se casaria com um irmão do rei, consequentemente os domínios disputados passariam para a Coroa da França (tratado de Meaux, 1229). Raimundo VII, teve que se submeter ao rei da França, sendo coagido a reconhecer a vontade da Igreja e atacar a heresia.
A partir de 1240, verifica-se novas revoltas no Midi. Numa revolta em Avignoret, alguns inquisidores são assassinados, como consequência a cidade foi conquistada, e retomada a “cruzada”, que, no esqueçamos eram composta exclusivamente de mercenários. Todos eles pagos pelo papado. (voltei a me lembrar de uma Ditadura...hummm ...porque sera?...)
Montségur, o grande reduto dos cátaros
Ele é atacado e tomado de assalto em 1243. Durante o ataque os cátaros, conseguiram retirar seu "tesouro" do castelo e escondê-lo (alguns acreditam que se tratava do Santo Graal, ou riquezas, outros que o tesouro eram livros antigos da sabidoria grega). Nao podemos esquecer que foi em Montségur que se refugiaram os últimos Cavaleiros Templários. A queda de Montségur marca o fim da Igreja Cátara organizada. Alguns sobreviventes que conseguiram fugir e se refugiaram na Catalunha e na Itália. Uma outra fortaleza dos cátaros, a de Quéribus, caíra em 1255.
Pierre Authié, adepto do catarismo, continua a divulgar a doutrina, sendo preso em 1310, quando se dirigia a Castelnaudary e condenado a morte na fogueira. Guillaume Bélibaste e Philippe d’Alayrac, ambos cátaros, fogem da prisão em Carcassone. Philippe acaba sendo capturado e queimado. Bélibaste refugia-se em Mosella, nas montanhas de Valença, e acaba sendo traído por Arnaud Sicre (de família cátara), que tentava reconquistar os bens de sua família, espionando para a Inquisição. Não conseguiu reaver nada do papado...O último ministro cátaro, fora queimado em Villerouge-Termenès, em Corbiéres, por ordem do arcebispo de Narbone, em 1321.