Estou revisando a tradução de um livro infanto-juvenil. É bom: começo depois do jantar e perco a hora. Só que hoje decidi abrir um vinho branco (também! com o calor que esta fazendo por aqui, e ninguém é de ferro...né?), bem o resumo é que não fiz mais nada. Aí resolvi traduzir este trecho de um dos meus poemas preferidos, "Marina", do T. S. Elliot. Já tinha feito isso antes, mais ficou um certa dúvida de leve... por causa dos termos náuticos. Acontece que agora eu adicionei mais um dicionário inglês-português sobre a mesa do quarto, e a revisão diminuiu minha preguiça de virar páginas atrás de palavras, o que altera todas perspectivas e prognósticos.
Normalmente traduzo direto..conforme vou lendo, vou escrevendo o resultado, manias de quem faz muita "Versão"..de vários textos... Encontrei também, por acaso uma outra tradução feita por alguém anteriormente: (da minha tradução) esta é do Ivan Junqueira, e por último uma que achei na internet, de Paulo Franchetti e Eric Sabinson. Eu gosto de comparar (traduções) sempre que posso.
Só para vocês entenderem: Marina aqui é o nome da filha de quem fala o poema ("eu-lírico", no segundo grau); de setembro a junho se passam nove meses; Marina é também o nome do local onde barcos ficam atracados.
Vejamos então:
Bowsprit cracked with ice and paint cracked with heat.
I made this, I have forgotten
And remember.
The rigging weak and the canvas rotten
Between one June and another September.
Made this unknowing, half conscious, unknown, my own.
The garboard strake leaks, the seams need caulking.
This form, this face, this life
Living to live in a world of time beyond me; let me
Resign my life for this life, my speech for that unspoken,
The awakened, lips parted, the hope, the new ships
Proa rachada pelo gelo e tinta rachada pelo calor.
Eu fiz isto, tinha esquecido
E me lembro.
O cordame frágil e a vela puída
Entre um certo Junho e outro Setembro.
Fiz isto sem saber, desatento, estranho, minha.
A carreira de tábuas faz água, as juntas precisam ser calafateadas.
Esta forma, este rosto, esta vida
Vivendo para viver em um mundo de tempo além de mim; se me permite
Ceder minha vida por esta vida, minha fala por aquela não dita,
O despertar, lábios abertos, a esperança, os novos navios
As outras versões que falei:
***
1)
O gurupés se parte contra o gelo, a pintura estala ao calor
Eu o fiz, e esqueci
E recordo.
A cordoalha frouxa e o velame em farrapos
Entre certo junho e outro setembro.
E o fiz inconsciente, semiconsciente, ignoto, meu.
O verdugo da carcaça faz água, as fendas reclamam o calafete.
Esta forma, este rosto, esta vida
Vivendo por viver numa esfera de tempo que me excede. Que eu possa
Renunciar à minha vida por esta vida, à minha fala pelo inexpresso,
O desperto, lábios abertos, a esperança, os novos barcos.
***
2)
O mastro da proa rachado pelo gelo e a pintura rachada pelo calor.
Eu fiz isso, esqueci
E me lembrei.
O cordame fraco e as velas apodrecidas
Entre um junho e outro setembro.
Eu fiz isso sem saber, semiconsciente, ignorado, meu próprio.
As tábuas de resbordo fazem água, as juntas precisam ser calafetadas.
Esta forma, este rosto, esta vida
Vivendo para viver num mundo de tempo além de mim; que eu possa
Renunciar à minha vida por esta vida, às minhas palavras pelo não dito,
O desperto, lábios separados, a esperança, os novos barcos.
--==o0o==--
Mas, T.S. Elliot é demais...nao acham?
sou fá de carteirina dele.......!!
e, para finalizar, gostei mais da minha mesmo..
Bem, vocês que discordem... ou concordem..... rsssss