sexta-feira, 9 de setembro de 2005

Escola do Simbolismo



ANGÚSTIA


Não vim domar teu corpo esta noite, ó cadela
Que encerras os pecados de um povo, ou cavar
Em teus cabelos torpes a triste procela
No incurável fastio em meu beijo a vazar:


 


Busco em teu leito o sono atroz sem devaneios
Pairando sob ignotas telas do remorso,
E que possas gozar após negros enleios,
Tu que acima do nada sabes mais que os mortos:


Pois o Vício, a roer minha nata nobreza,
Tal como a ti marcou-me de esterilidade,
Mas enquanto teu seio de pedra é cidade.


De um coração que crime algum fere com presas,
Pálido, fujo, nulo, envolto em meu sudário,
Com medo de morrer pois durmo solitário.


 


BRINDE


Nada, esta espuma, virgem verso
A não designar mais que a copa;
Ao longe se afoga uma tropa
De sereias vária ao inverso.


Navegamos, ó meus fraternos
Amigos, eu já sobre a popa
Vós a proa em pompa que topa
A onda de raios e de invernos;


Uma embriaguez me faz arauto,
Sem medo ao jogo do mar alto,
Para erguer, de pé, este brinde


Solitude, recife, estrela
A não importa o que há no fim de
um branco afã de nossa vela.


 


STÉPHANE MALLARMÉ


O poeta francés Stéphane Mallarmé (1842-1898) produziu uma obra poética não muito volumosa, porem, é considerada como fundadora da escola do Simbolismo. (Foi fá e tradutor de um outro escritor difícil: Edgar Allan Poe). Se, de algum Poeta podemos dizer que a sua  tradução é impossível , é de Mallarmé. A pesar disto, fizemos "fazer possível o impossível… administrando as perdas o mais harmonicamente possível e tentando que seus poemas fossem poemas em português"


Mallarmé foi fortemente influenciado por Baudellaire. Este último fora um dos primeiros poetas a procurar dar uma identidade para a literatura num momento que o progresso industrial e tecnológico era a palavra de ordem:. Com a transformação total da sociedade que caia na mediocridade e massificava seus desejos, buscaria na poesia a forma de expressão em oposição à mediocridade da vida burguesa.


Já no final do século XIX, com, uma linguagem poética simples e dessacralizadora. Mallarmé então resgata a música para esta poesia, fazendo com que as palavras dançassem na folha de papel. Mallarmé, dessacralizando a linguagem romântica, explora a multiplicidade da linguagem e fragmenta esta mesma linguagem, moldando-a e lapidando-a sempre buscando novas formas.


Podemos constatar isso nos poemas acima mostrados.


Mallarmé veio falecer em 9 de Setembro de 1989. Por isso fazemos hoje nossa singela homenagem.....


OBS: A imagem é um retrato de Mallarmé feito em 1876 por Edouard Manet (Musée d'Orsay, Paris)


 

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