sábado, 21 de fevereiro de 2009

OS PERSAS

Durante quase mil anos, O centro do mundo árabe foi a Persia, dela saíram incríveis estadistas e pensadores, tal como Xerxes, Ataxerxes, Nabucodonosor, e chegando até á epoca de Dario e finalmente Alexandre o Grande (entre outras coisas, rei do maior império á época, pois ele simplesmente chegou a ter o controle e domínio de todo o mundo conhecido naquele tempo. …. De quebra, ele foi também fundador da Maçonaria) ... tudo isso na região que hoje é conhecida como o Iraque, ou Irak. Desta nobre região do mundo conhecido, saíram as maiores forças militares da época, os melhores navegadores e colonizadores de nossa História. 

Eles representavam a maior potência militar à face da Terra — os seus exércitos dominavam e/ou invadiam, literalmente ao mesmo tempo, a Europa, a África, a Índia e a China. Era também a potência economicamente mais avançada do mundo, comercializando uma grande variedade de produtos por meio de uma extensa rede de comércio e comunicações que se estendia por toda a Ásia, Europa e África, negociando e importando escravos e ouro de África, escravos e lã da Europa e trocando uma série de produtos alimentícios, tecidos e artigos manufaturados com a maior parte das regiões da Ásia. Os persas tinham alcançado na sua época,  o mais alto nível de desenvolvimento da história humana no que dizia respeito às artes e ciências, e tudo aquilo que caracterizam uma civilização. Dominavam a Matemática, Astronomia, Geografia, Navegação. Tendo herdado o melhor do conhecimento e as práticas do Médio Oriente antigo, especialmente da Grécia, e sem esquecer da Pérsia propriamente dita.

Ainda, acrescentava-lhes inovações importantes trazidas de outras culturas e de outras regiões, tal como o uso e a produção de papel, com origem na China, e a numeração Base10, chamada por nós de decimal, com origem na Índia. Por falar nisso, é difícil imaginar a literatura e a ciência modernas sem uma ou sem a outra. Foi no Médio Oriente ­muçulmano que os números indianos foram pela primeira vez integrados no corpo de conhecimentos matemáticos. E, a partir do Médio Oriente, esses conhecimentos foram transmitidos ao Ocidente, onde ainda hoje são conhecidos como “numeração árabe”, (que são os que todos nós HOJE em dia usamos!) honrando, não aqueles que os inventaram, mas aqueles que, pela primeira vez, os desenvolveram e trouxeram para ocidente, para a Europa.

Aqui, faço um parénteses e vale um esclarecimento: para quem estranhou que esse povo fazia escravos e os comercializava por todo o mundo conhecido, devo lembrar que nessa época, os povos vencidos eram mesmo escravizados, e não foi diferente do que a Europa faria centenas de anos mais tarde. Durante a colonização das Americas, onde os europeus fizeram pior: exterminaram os índios nativos e os que restavam era usados como mão de obra barata e escrava... é logico!  Sem falar da maciça introduçao dos escravos africanos por toda a América, especialmente naquelas colónias dos portugueses. A diferença com o mundo árabe era que eles se integravam aos povos e a cultura local, e nao impunham nada, nem a sua religiao, o que trouxe somente avanços nessas culturas.

Vale esclarecer que, por extensão e similaridade de culturas, todo esse conhecimento dos persas, foi repassado paulatinamente, tanto o saber, poder e conhecimento para os árabes, o que acabou dando para o mundo árabe o empurrão que faltava para garantir o seu domínio no mundo pelo próximo milénio….

A esta herança valiosa, investigadores e cientistas do mundo islâmico juntaram uma contribuição extremamente importante, produto das suas próprias observações, experiências e idéias. O que acabou influenciando a maioria das artes e ciências básicas da civilização. Naquele momento,  a Europa medieval era um continente de bárbaros, (Idus de 900 dC) se comparado com a cultura e conhecimentos dos árabes daquela época, e deles foram aprendizes e, assim, desta maneira, a Europa toda foi discípula do mundo islâmico, até porque passou a confiar na fidelidade e correta tradução das versões árabes das numerosas obras dos pensadores e filósofos gregos que eles já estudavam e possuiam fazia muito tempo, e que, de outra forma, jamais teriam chegado ate nós, obras estas que, para os árabes eram ha muito tempo conhecidas. Graças ao zelo pela cultura universal que os árabes tinham, hoje podemos nos considerar sortudos, pois conhecemos o pensamento de Aristóteles, Pitágoras, Heráclito, Homero, Demóstenes, Sófocles e tantos outros que enriqueceram nossas ideias e pensamentos. 

E assim, avançamos os primeiros mil anos da Historia Ocidental:

Normalmente, as lições de História são ensinadas de forma mais aguda e inequívoca no campo de batalha, mas pode haver alguma demora até a lição ser realmente compreendida e aplicada. Na cristiandade, a derrota final dos Mouros (como eram chamados os árabes) na Espanha, em 1492, e a libertação da Rússia em relação aos tártaros islamizados foram compreensivelmente vistas como vitórias decisivas. À semelhança dos Espanhóis e dos Portugueses, também os Russos perseguiram os seus anteriores senhores até às suas terras de origem, só que com um grau de sucesso muito maior e mais durável. Com a conquista de Astracã, em 1554, os Russos alcançaram as costas do mar Cáspio; no século seguinte foi a vez da margem norte do mar Negro, tendo assim início o longo processo de conquista e colonização que integrou vastos territórios antigamente dominadas pelos muçulmanos e agora recuperadas pelo Império Russo.

Todavia, nos países do Islão, estes acontecimentos nas fronteiras remotas da sua civilização pareciam pouco importantes e, de qualquer forma, eram ofuscados por vitórias que aos olhos dos Muçulmanos pareciam ser bastante mais importantes, fundamentais mesmo: a expulsão das ignominiosas cruzadas do Levante no século xiii, a tomada de Constantinopla, em 1453, e a marcha triunfante das forças turcas através dos Balcãs em direção à outra cidade imperial cristã, e que ainda resistia heroicamente: Viena, no que parecia ser um avanço incomparável do Islão ­perante as sucessivas derrotas da cristiandade.

(Nesta alturas da Historia os árabes eram mais conhecidos pelos nomes de ‘turcos’ ou ‘otomanos’). Com algumas variações, como os ‘mamelucos’ que nada mais eram os egípcios de hoje em dia…

O sultão otomano, tal como o seu par e rival, o sacro imperador romano-germânico, tinha de se confrontar com estados rivais e com dissidências religiosas militantes no seio do próprio Islão. (Aqui, sem dúvida nenhuma deu-se o início da tendência fundamentalista da religião do mundo islámico). Mas, dos dois, o sultão foi sem dúvida o mais bem sucedido ao lidar com estes desafios. Na viragem do século xv para o século xvi, os Otomanos tinham dois estados vizinhos muçulmanos. O mais antigo dos dois era o sultanato mameluco do Egipto, com a sua capital no Cairo, que governava toda a região da Síria e a Palestina e, sobretudo, controlava os lugares santos do Islão na Arábia ocidental. O outro era a Pérsia, recém-reunificada por uma nova dinastia, com uma militância religiosa renovada. O fundador da dinastia, xá Isma “‘§l Safav§  (que reinou de 1501 a 1524), com origem numa tribo xiita do Azerbaijão, e que na verdade falava um dialecto turco, pela primeira vez desde a conquista árabe no século vii conseguiu submeter todas as terras do Irã a um único governante. Sendo tanto (ou mais) um líder religioso, que um gover­nante político e militar, o xá Isma “‘§l Safav§ elegeu o xiismo como a religião oficial do estado, e, assim, diferenciou de forma marcante  o reino muçulmano do Irão dos seus vizinhos sunitas — a oriente, na Ásia central e na Índia; e ao ocidente, no Império Otomano.

Por algum tempo, ele e os seus sucessores, os xás da dinastia safávida, desafiaram a reivindicação dos sultões otomanos, não só relativamente à supremacia política, mas também à liderança religiosa. O sultão otomano Selim I, o Taciturno, que reinou entre 1512 e 1520, organizou ­campanhas militares contra os dois vizinhos. Conseguiu um sucesso substancial, mas incompleto, contra o xá, mas alcançou uma vitória total e ­definitiva sobre o sultão mameluco do Egipto. O Egipto e as regiões circun­dantes foram integrados nos territórios otomanos; a Pérsia manteve-se como Estado independente, rival e, a maior parte do tempo, hostil. Busbecq, o embaixador europeu imperial em Istambul, foi ao ponto de dizer que:  « só a existência da Pérsia salvava a Europa da eminente conquista turca. Porém, a Pérsia apenas pode adiar tal destino, não pode nos salvar. Quando os Turcos alcançarem um entendimento com a Pérsia, saltarão sobre os nossos pescoços apoiados pelo poderio de todo o Oriente. Nem me atrevo a dizer o quanto estamos desprotegidos perante essa eventualidade.»

 Observadores ocidentais, em tempos mais recentes, referiram-se em termos semelhantes à União Soviética, e a China veio a provar que estavam igualmente enganados.

Logo a seguir, a Pérsia ficou paralisada  sob as ordens do sucessor de Selim, Soleimão, o Magnífico (que reinou entre 1520 e 1566). Assim, os Otomanos estavam prontos a embarcar numa nova fase de expansão na Europa.   A grande batalha dos Mohacs na Hungria, em Agosto de 1526, foi para os Turcos uma vitória decisiva e abriu o caminho ao primeiro cerco a Viena, em 1529. O fracasso desta tentativa de captura de Viena foi visto por ambos os lados como um adiamento, não como uma derrota definitiva, e resultou numa longa luta pela supremacia entre os dois impérios no coração da Europa.

Aqui e além, as potências cristãs conseguiram alcançar alguns suces­sos e até mesmo uma vitória notável: na grande batalha naval de Lepanto, porto localizado, no estreito de igual nome, que liga o Golfo de Patras ao de Corinto. na Grécia, em 1571. Na Europa, essa vitória foi aclamada como um enorme triunfo. E, que todo o mundo cristão exultou,  com esta vitória e o rei James VI da Escócia, mais tarde James I de Inglaterra, sentiu-se mesmo inspirado a compor um longo e extático poema de celebração. Os arquivos turcos preservaram o relatório de Kapudan Pashã, o almirante que comandava a armada, cuja descrição da batalha de Lepanto ocupa apenas duas linhas: «A armada do Império, divinamente guiada, confrontou-se com a armada dos miseráveis ­infiéis e a vontade de Alá foi-nos desfavorável.» Como relatório mili­tar, pode ate ser considerado algo pobre em detalhes, mas não em franqueza. Nos livros de história otomanos, esta epopeia é simplesmente conhecida como a batalha de Singin, uma pala­vra turca que significa debandada ou derrota esmagadora. Aqui é importante destacar que, a História é testemunha de que a lenta decadência do poderio naval dos otomanos começou com a jornada de Lepanto. Vale lembrar que essa foi a maior batalha naval que a História jamais registrara.

Porém, que diferença fez Lepanto? A resposta tem de ser muito pequena. Se olharmos para a questão na perspectiva mais ampla do poderio naval — para não falar da questão de longe mais importante da relação de forças ao nível militar no conjunto da região —, Lepanto não foi mais do que um revés menor para os Otomanos, que rapidamente foi ultrapassado. A situação é exemplarmente documentada numa conversa registada por um cronista otomano que relata que, quando o sultão Selim II perguntou ao grão-vizir Sokollu Mehmed Pasha quais os custos de reconstrução da armada depois da sua destruição em Lepanto, o grão-vizir respondeu: «O poder e a riqueza do nosso Império são tais que, se desejarmos equipar a armada inteira com âncoras de prata, equipagem de seda e velas de cetim, poderemos fazê-lo.» Trata-se evidentemente de uma liberdade poética, mas também de uma reflexão bastante precisa relativamente ao verdadeiro significado de Lepanto — um grande triunfo para Ocidente, uma pequena agitação das águas para Oriente. A verdade é que a ameaça principal se manteve viva. No século xvii havia ainda paxás turcos em Budapeste e Belgrado e corsá­rios berberes (*) do Norte de África faziam incursões nas costas da Inglaterra e da Irlanda e mesmo, em 1627, da Islândia, trazendo cativos para vendé-los  nos mercados de escravos de Argel.

(*) Os tais corsários berberes eram navegantes sarracenos, da região do Norte da Africa. Principalmente de Algéria, O líder mais importante do norte de África foi Barbarossa . Já em 1609, Marrocos tornou-se um novo centro para estes corsários e piratas.

No final do século xvi e início do século xvii, a Pérsia tornou-se mais uma vez mais um fator importante. O xá ‘Abba“s I, o Grande, foi em muitos sentidos o mais bem sucedido dos governantes da sua dinastia. Em 1598, de regresso à sua capital, depois de uma vitória contra os Usbeques da Ásia Central, foi contactado por um grupo de europeus comandados por dois irmãos ingleses, Sir Anthony e Sir Robert Sherley. Provavelmente por sugestão destes, enviou cartas de amizade ao papa, ao sacro imperador romano-germânico e a vários monarcas e governan­tes europeus, incluindo a rainha de Inglaterra e o ‘doge’ Rei de Veneza. Estas missivas produziram escassos resultados. Maior importância tiveram a reorganização e o rearmamento das suas forças armadas, levados a cabo com a ajuda dos Sherleys e de outros europeus. Entre 1602 e 1612, e também entre 1616 e 1627, a Pérsia e a Turquia estiveram em guerra e os Persas alcançaram um número significativo de vitórias. Com a sua atenção voltada para a guerra a leste, os Turcos viram-se forçados, em 1606, a fazer a paz com os Austríacos.

O resultado foi o Tratado de Sitvatorok, tendo sido assinado nesse ano, e é notável por várias razões. Todos os tratados anteriores haviam sido ditados pelos Turcos na sua capital, Istambul. Este foi negociado em solo neutro, numa ilha do Danúbio que marcava a fronteira entre os dois lados. Talvez ainda mais significativo foi o reconhecimento do imperador como padishah. Até então tinha sido prática normal dos Otomanos designar os governantes europeus ou por títulos otomanos inferiores, como bei, ou, mais vulgarmente, pelo que eles consideravam serem títulos europeus. Assim, por exemplo, nas cartas otomanas para a rainha Isabel I, de Inglaterra, lia-se no título «Rainha (Kiraliçe) do Vilayet [provín­cia] de Inglaterra», enquanto nas que se destinavam ao imperador figurava «Rei (Kiral) de Viena». Kiral e Kiraliçe são naturalmente termos europeus, e não de origem turca, e eram usados pelos Otomanos da mesma forma que a Grã-Bretanha imperial utilizava títulos locais para designar os príncipes nativos na Índia. Dirigir-se ao imperador como padishah, título que os sultões otomanos reservavam para eles pró­prios, equivalia a um reconhecimento formal de igualdade.

Ainda que geralmente desdenhosos do Ocidente infiel, os Muçulmanos não ignoravam as capacidades ocidentais no campo do armamento e das estratégias militares. Os sucessos iniciais das cruzadas no ­Levante causaram a impressão nos responsáveis militares muçulmanos de que, pelo menos em algumas áreas, os exércitos ocidentais eram superiores, e desta constatação foram rapidamente deduzidas e postas em prática as naturais consequências. Prisioneiros de guerra ocidentais foram postos a trabalhar na construção de fortificações; mercenários e aventureiros ocidentais foram contratados e iniciou-se um tráfico de armas e outros materiais de guerra que continuou a crescer continuamente nos séculos seguintes. Mesmo quando os Turcos Otomanos prosseguiam no avanço em direcção ao Sudeste europeu, puderam continuar a comprar muito do equipamento necessário para as suas armadas e para os seus exércitos de fornecedores cristãos europeus, a recrutar especialistas europeus e até a obter cobertura financeira para estas operações em bancos europeus. Aquilo que actualmente é designado como «relacionamento construtivo»  e «Corporações» tem uma longa história.

Tudo isto, no entanto, teve pouca ou nenhuma influência sobre as percepções e atitudes  muçulmanas, já que os exércitos do Islão continua­vam vitoriosos em regiões críticas. Os sultões compravam material de guerra e conhecimentos militares a troco de dinheiro e viam este fato como nada mais do que uma transação comercial. Em particular, os Turcos adoptaram invenções europeias, tais como pistolas e espingardas, ou a artilharia, e usavam-nas com inegável sucesso, sem por isso modificarem a sua visão dos Bárbaros e infiéis, de quem haviam adquirido estas armas.

Começaram a surgir, no entanto, algumas vozes dissonantes. Logo no século xvi, um grão-vizir otomano retirado da vida pública observava que, enquanto as forças muçulmanas eram soberanas em terra, os infiéis estavam a tornar-se cada vez mais fortes no mar. «Temos de os ultrapassar.» Ninguém ligou para ele, e a sua mensagem teve pouco eco. No início do século xvii, um outro responsável otomano deu conta da presença alarmante de mercadores portugueses, alemães e ingleses nas águas asiáticas e alertou para um possível perigo nessa região. E foi ignorado do mesmo jeito….

O perigo era real e não deixou de aumentar. Chegamos então á época quando o navegador português Vasco da Gama contornou o continente africano pelo Cabo de Boa Esperança em direção ao oceano Índico, no final do século xv, e abriu assim uma nova rota marítima entre a Europa e a Ásia, com consequências de longo alcance para o Médio Oriente, primeiro comerciais, porem, mais tarde, também estratégicas. Logo em 1502, a República de Veneza, o principal comerciante europeu das especiarias orientais, enviou um emissário ao Cairo para prevenir o sultão do Egipto ao respeito do perigo que esta nova rota marítima representava para o comércio bilateral entre Veneza e Egipto. No início, o sultão prestou pouca atenção à questão, mas um declínio acentuado dos rendimentos provenientes das taxas alfandegárias levou-o a centrar a sua atenção mais decididamente neste novo problema. As expedições navais egípcias contra os Portugueses em águas orientais foram, no entanto, um fracasso e sem dúvida contribuíram para a queda do poder do  sultanato egípcio em 1516-1517 e para a incorporação de todos os seus domínios pelo Império Otomano.

Os Otomanos passaram, a partir de então, a ter a seu cargo essa tarefa, mas os resultados foram poucos. Os seus esforços para conter os Portugueses na África e no Mar Vermelho foram, quando muito, inconclusivos. A falta de interesse otomano nestes desenvolvimentos é perfeitamente ilustrada pela resposta a um apelo de ajuda de Atjeh, na Sumatra. Em 1563 o governante muçulmano de Atjeh enviou uma embaixada a Istambul a pedir ajuda contra os Portugueses e acrescentando, como incentivo, que vários dos governantes não muçulmanos da região tinham concordado em se tornar muçulmanos se os Otomanos viessem em sua ajuda. Mas os Otomanos estavam ocupados com assuntos mais urgentes — os cercos de Malta e de Sziget­var na Hungria e a morte do sultão Soleimão, o Magnífico. Só dois anos depois conseguiram finalmente reunir uma armada de 19 galeras e alguns outros navios transportando armas e provisões para ajudar os sitiados atjehneses.

A maioria dos navios, no entanto, nunca chegou ao destino. A maior parte da expedição foi desviada para resta­belecer e reforçar a autoridade otomana no Iémen e, na realidade, apenas dois navios, transportando fabricantes de canhões, artilheiros e engenheiros, assim como espingardas e outro material de guerra, ­alcançaram realmente Atjeh, sendo colocados ao serviço do governante local e utilizados nas suas tentativas fracassadas para expulsar os Portugueses. O incidente parece ter passado despercebido históricamente. E, ele é apenas é conhecido a partir de documentos dos arquivos turcos. Fruto de negligência ou de vontade consciente, os Otomanos foram ­afortunados em não terem procurado desafiar excessivamente o poderio naval português nos mares orientais; as suas armadas, compostas por galés de estilo mediterrâneo, tinham grandes desvantagens em relação às naus e galeões portugueses, construídos para o Atlântico e, consequentemente, maiores, mais pesados, com melhor armamento e mais manobráveis.  Não era por nada que a Escolas de Navegação portuguesas eram as melhores possíveis á época. O caso da mítica Escola de Sagres, criada pelo Infante D. Henrique

A verdade é que o impacto da nova rota oceânica entre a Europa e a Ásia no tráfego comercial do Médio Oriente foi menor do que a certa altura se pensou. Ao longo do século xvi, as rotas comerciais do Médio Oriente de especiarias e de outras mercadorias entre o Sul e o Sudeste asiático, por um lado, e a Europa do mediterrâneo, por outro, continuaram a florescer. Porém, com o aproximar do século xvii surgiria uma nova situação e — para o Médio Oriente — bastante mais perigosa. Nessa altura, os Portugueses, os Holandeses, os Ingleses  e outros europeus começa­ram cada vez mais a instalar-se na Ásia como algo mais do que simples mercadores. Começaram a estabelecer bases que, com o tempo, se tor­nariam dependências coloniais. À medida que o seu poder se estendia do mar para os portos e para o interior, os novos impérios europeus na Ásia, ao controlarem quer os pontos de partida, quer os pontos de chegada, no comércio entre o Oriente e o Ocidente, começam efetiva­mente a estabelecer um cerco ao Médio Oriente. É somente neste momento histórico que começa o declínio do poderio árabe sobre o resto do mundo conhecido….

O perigo não estava confinado à expansão do Ocidente europeu no Sul da Ásia. Havia também ao Norte a expansão russa, onde, uma vez mais, os governantes muçulmanos se voltaram para a maior potência muçulmana daquele tempo, o Império Otomano (Para Esclarecer vocês: O Império Otomano foi um Estado que existiu entre 1299 e 1922. Fundado por Osman I (em árabe Uthmān, de onde deriva o nome "otomano"), então, quando os muçulmanos foram ate os otomanos em busca de ajuda. neste caso houve alguma resposta: Em 1568, os Otomanos traçaram um plano para escavar um canal que atravessasse o istmo do Suez desde o Mediterrâneo até ao mar Vermelho; no ano seguinte começaram a construir um canal entre o rio Don e o rio Volga. O seu propósito era claramente o de estender o seu poderio naval para além do Mediterrâneo, por um lado para o mar Vermelho e o oceano Índico, por outro para o mar Negro e o mar Cáspio. Mas ambas as operações, pelo menos assim parece, foram no final, vistas pelos Otomanos como irrelevantes e marginais e acabaram por ser abandonadas quando se mostrarom ser excessivamente trabalhosas. No final do século xvi, os Otomanos deixaram de ser participantes ativos em ambas as frentes — contra os Russos no Norte da Ásia e na Ásia central, contra os europeus ocidentais no Sul e no Sudeste asiáticos. Em vez disso, concentraram os seus esforços na sua luta na Europa, que eles viam, não sem razão, como o principal campo de batalha entre o Islão e a cristandade, ambas religiões rivais na competição pela iluminação — e domínio — do mundo.

Os sucessos ocidentais no campo de batalha e no alto-mar eram acompanhados por outras menos efusivas, porém mais incisivas e, posterior­mente, mais perigosas, vitórias ao nível do mercado. Nestas alturas, A descoberta e exploração do Novo Mundo (as Américas) fez que, pela primeira vez, a Europa cristã se encontrasse beneficiada de abundantes remessas de ouro e prata. As terras férteis das suas novas possessões coloniais permitiam o cultivo de novos produtos agrícolas, incluindo alguns que antes eram exclusivamente encontrados e importados do Médio Oriente, como o café e o açúcar, e mesmo a exportação para países que antes eram fornecedores desses mesmos artigos. A presença crescente da Europa no Sul e no Sudeste asiáticos acelerou e expandiu este processo e certas atividades há muito estabelecidas enfrentaram o duplo desafio do choque com a mão-de-obra barata asiática e com a capacidade comercial europeia. As companhias comerciais ocidentais, contando com a colaboração dos respectivos governos animados de espírito mercantilista, representavam uma nova força no Médio Oriente. Mais uma vez, algumas vozes, ocasionalmente, exprimiram uma certa preocupação, mas suscitaram pouca atenção.

Não obstante, estes desenvolvimentos e as mudanças deles resultantes, seja ao nível dos assuntos internos, seja ao nível das questões externas, agravaram problemas antigos e criaram novos, de uma amplitude e complexidade crescentes — como ser: monetários, fiscais, financeiros e, finalmente, económicos, sociais e culturais.

Durante a maior parte do século xvii não houve mudanças significativas no equilíbrio das forças militares. Até quase meados do século, a Europa esteve absorvida pela chamada Guerra dos Trinta Anos e pelo seu rescaldo, enquanto os Otomanos se preocupavam com problemas internos na sua fronteira oriental. Uma guerra com a República de Veneza, a partir de 1645, foi no início desastrosa para os Turcos. Em 1656, os Venezianos, que durante anos bloquearam os estreitos, mostraram-se  capazes de enviar a sua armada na direção dos Dardanelos e de obter uma vitória naval nesse estreito fundamental.

No mesmo ano, Mehmed Köprülü, um paxá albanês, foi nomeado grão-vizir. Durante o período em que exerceu o seu governo (1656-1661), assim como durante a do seu filho e sucessor Ahmed Köprülü (1661-1678), o estado otomano sofreu uma transformação importante. Estes governantes competentes, enérgicos e implacáveis con­seguiram reorganizar as forças armadas do Império, estabilizar as ­finanças e retomar a iniciativa na luta contra a Europa cristã. Uma área de actividade intensa foi a Polónia e a Ucrânia, sendo que foi aqui que, pela primeira vez, os Otomanos entraram em conflito com a Rússia. Com o Tratado de Radzin de 1681, os Turcos desistiram das suas reivindicações a respeito da Ucrânia e concordaram em conceder aos Cossacos direitos de comércio no mar Negro. Este fato repre­sentou uma mudança cheia de consequências, marcando o ressurgir de um novo e mais perigoso inimigo e o início de uma longa, difícil e amarga luta: contra a Russia Imperial.

Entretanto, um novo grão-vizir sentiu que era seu dever recuperar a glória da «dinastia» Köprülü de vizires. Em 1682 deu início a uma nova guerra contra a Áustria, culminando num segundo cerco de Viena, entre 17 de Julho e 12 de Setembro de 1683. Esta segunda tentativa mal sucedida para tomar a cidade é bem descrita nas palavras de Silihdar, um cronista otomano contemporâneo dos eventos. «Esta foi uma derrota calamitosa, tão grande que nada semelhante havia ocorrido desde o surgimento do estado otomano.» Temos de admirar a franqueza com que os árabes encaravam as realidades desa­gradáveis.

Bem, a partir deste momento a Historia mostra que as novas rotas exploradas pelos portugueses e espanhóis, o comercio dos ingleses com as suas colónias nas Américas, deu tanto vigor económico aos europeus que acabaram se assentando também na Índia, na África, e reconquistando o território europeu integralmente, deixando os árabes confinados ao Norte da Africa e e parte do Extremo Oriente, onde atualmente se encontram….

Este povo, o árabe, embora possam para alguns parecer como um bando de fanáticos, não devemos generalizar, pois toda cultura tem seus mocinhos e seus bandidos..

Para terminar, tente aqui, lembrar apenas como ao longo da Historia, povos e culturas aparecem e desaparecem, em uma incessante repetição dos eventos. Talvez seja por isso que costuma-se dizer: “A Historia se repete”  

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