segunda-feira, 4 de julho de 2005

O SOLSTÍCIO DE INVERNO


Uma celebração ao recolhimento


Em todas as civilizações antigas, orientais e ocidentais, há registros da importância das comemorações de Equinócios e Solstícios.
Quando estamos presentes em cerimônias como esta, damos oportunidade à nossa essência para se tornar Una com o Todo. Temos a oportunidade de transformar antigos ciclos em novos e podemos sentir tudo o que é vivo e que vibra, visível ou não.

A cada virada de estação, o nosso corpo muda. O Solstício de Inverno é o período em que nos recolhemos para nos fortalecer e criarmos forças em todos os níveis: físico, mental, emocional e espiritual. Este é o momento onde a nossa vigília deve ser redobrada, devemos reavaliar nossas decisões e nos prepararmos para o renascimento que acontecerá com a primavera.


 


 


NAS CULTURAS INDÍGENAS DA AMERICA DO SUL:


Willka Tata, Inti Tata! "Que este ano haja boa colheita, que não haja fome"! As mãos do amauta (sacerdotes-mestres dos mais respeitados no Império Incaico) elevam ao céu uma oferenda a Pachamama.(deusa dos nativos sulamericanos que, como  Gaia, da mitologia clássica, personificava a origem do mundo, o triunfo e ordenamento do cosmos frente ao caos, a propiciadora dos sonhos, a protetora da fecundidade e dos jovens).


Ao lado dele uma enorme fogueira dá o tom místico à cerimônia. Willka Tata, Inti Tata! (Inti era o nome do pai, do Deus sol), que este ano haja boa colheita!, repete o amauta, para logo depois depositar a wajta (oferenda) sobre o fogo.


Soam os pututus.(instrumento musical parecido com uma trombeta)  Os amautas  despejam álcool sobre o fogo para que arda com intensidade. As ñustas (doncelas) cantam e as wiphalas (sacerdotisas) se agitam.


Ao redor do templo de Kalasasaya centenas de visitantes observam em silencio respeitoso.


É o prelúdio da chegada do deus Sol, um Novo Ano Andino. Em 2005 será o ano de 5513 segundo os amautas. Ocorre no amanhecer do dia 21 de junho como ocorre há uma centena de anos entre as 06.30 e 07.30 da manhã nas ruínas de Tiwanaku.


Os amautas do povoado darão a Pachamama uma oferenda agradecendo pelas colheitas do ano passado, mesmo que não tenham sido boas: uma tarwa illa, para que o gado se multiplique, e uma espalla, ou tributo a terra.


Quando saem os primeiros raios de sol os amautas pedem que todos os que estão presentes se dêem às mãos e as mostrem abertas ao céu para receber a energia positiva.


Centenas de mãos se elevam em direção ao sol. Mãos morenas e calejadas dos camponeses do vem de longe, do norte de Potosí que chegaram para a celebração, mãos brancas dos moradores locais, e delicadas dos visitantes estrangeiros.


Alguns entoam orações, outros se ajoelham, alguns tremem de emoção e há sempre aqueles que não conseguem conter as lágrimas. Os primeiros raios de Sol que surgem nas ruínas de Tiwanaku são considerados como energia positiva e também curativa.


Os pututus vibram e começam a soar as tarkas e zampoñas. Depois da emoção vem a alegria e com ela as danças no centro do templo de Kalasasaya.


Um dia antes os amautas irão ler nas folhas de coca (arte de adivinhão no chá de folhas de coca), para ver se o próximo ano que se inicia será melhor que o ano que termina. Mas tudo irá depender de que os camponeses não se esqueçam de fazer oferendas à mãe terra. O ano será o resultado da reciprocidade.


A terra nos provê como uma mãe e temos que pagar por isto. Dentro da cosmo-visão andina, o homem não pode viver sem pagar á terra. Trata-se de uma filosofia de reciprocidade para se viver em harmonia.


O solstício não só se converte em um ritual onde se agradece a Pachamama (mãe Terra) por todas as bênçãos efetuadas durante o ano, como também se constitui em uma forma de convidar o deus Sol a participar das atividades que a comunidade realizará durante todo o ano.


Segundo os aymaras, o Sol fecunda e Pachamama germina.


 


O LADO CIENTÍFICO:


A cerimônia do Ano Novo Andino (marat'aqa) coincide com o solstício de inverno, que é quando o sol está mais distante do hemisfério sul do planeta. 


Tem sua origem no fato de que o indígena sempre utilizou a natureza como uma fonte de sabedoria para saber como viver.


O homem andino sempre considerou o movimento do sol, as correntes do vento e a época das chuvas para determinar o momento propício para obter alimentos.


Desde tempos imemoriais ele se valeu da observação da natureza para determinar quando é tempo de semear e quando é tempo de colher.


É por isso que o ritual do Ano Novo Andino compreende uma série de simbolismos que corroboram a inter-relação que existe entre o indígena e a natureza.


Há vários simbolismos que se podem observar nesta celebração. Tal é o caso da fertilidade da terra com o sacrifício de lhamas cujo sangue é uma oferenda ao Sol, a Terra e a outras deidades andinas, para dessa forma assegurar a prosperidade agrícola e pecuária.


Além de significar um ato de ligação do homem com a natureza, a celebração do solstício de inverno é um símbolo de identidade cultural dos países andinos.


O ritual de solstício de inverno se constitui em uma cerimônia que consta de símbolos tanto quéchuas como aymarás, o que mostra a unidade étnica dos povos andinos.


Tiwanaku representa o lugar mais sagrado para os aymaras porque as ruínas da cidade representam a presença física de seus antepassados e é ali onde eles se sentem como uma só unidade e rendem homenagens aos Achachilas, aos Tunupas e às demais deidades que formam parte do mundo andino aymará.


Pode-se dizer que o solstício é o tempo em que o sol se encontra mais afastado da linha do Equador e, logicamente, mais distante de um dos hemisférios terrestres. No hemisfério sul ocorre próximo aos dias 21 de junho e 22 de dezembro de cada ano.


Assim como existem dois solstícios, também existem dois equinócios.


O equinócio é a época em que os dois pólos da Terra se encontram a igual distância do sol, o que permite que a luz solar incida de igual maneira em ambos os hemisférios. Os equinócios ocorrem próximos aos dias 21 de março e 23 de setembro de cada ano.


Ocorre que para a astronomia, o momento do solstício é definido como aquele em que o sol, visto da Terra, se encontra o mais distante possível do equador celeste e, portanto, isso quase nunca coincide com as primeiras horas da manhã quando os amautas celebram seus rituais e fazem suas oferendas.


Os amautas de Tiwanaku afirmam que 2005 corresponde ao ano 5513 do mundo andino. O cálculo teria sido realizado nas ruínas de Cusco, no Peru, com base em pedras que determinariam o rumo das épocas andinas.


Seria um ciclo de 500 anos, pois o cinco é um número espiritual na concepção andina. O dígito representa o quinto ponto, o do centro, na constelação do Cruzeiro do Sul (Pusi Wara) que rege o calendário andino.


De acordo com esse ciclo, a chegada dos primeiros colonizadores espanhóis a América em 1492 representa o início de um ciclo de desgraças. Em 1992 (quando fez 500 anos desse evento) começou um novo ciclo de bons presságios, o início de uma boa época para o mundo andino.


Mas alguns arqueólogos asseguram que não existe uma base científica nesse cálculo de datas. A cultura tiwanakota surgiu entre os anos 1500 e 1600 antes de Cristo. E se somarmos mais dois mil anos depois de Cristo, este grupo étnico teria no máximo 3500 anos.

Desta maneira, o solstício de inverno, 21 de junho, se constitui fundamentalmente no início de um ano agrícola. Período que dura até o solstício de verão em 22 de dezembro.

2 comentários:

  1. Ótimo trabalho de pesquisa! Parabéns Ramiro! Você consegue se superar mais e mais... Com relação ao texto "Predadora"... Há mais coisas na internet do que pode supor a nossa vã filosofia. Beijão, da amiga Su

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  2. Como digo sempre... vivendo e aprendendo!! adorei..
    bjs

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