A Batata

Com a descoberta da América, que foi um dos feitos mais impactantes na Historia da Humanidade.... (fato acontecido num memorável 12 de Outubro, e que foi comemorado recentemente), muitas das descobertas no novo mundo influenciaram o resto do mundo conhecido á época, e tiveram uma marcante importância, especialmente em toda a Europa.

As principais historias não tem a ver com conquistas, exploração, ou subjugação, e sim apenas com coisas que hoje seriam até triviais, mais no momento foram determinantes para diversos povos e costumes.

Essa é a Historia da Batata, sim, nossa tão conhecida 'batata inglesa', que de inglesa não tem nada...

A batata é originária da região onde hoje é o Peru (abrangendo ate o Equador, Bolivia e Chile), e foi descoberta pelos espanhóis em 1536. Até esse então, os Incas, praticavam o cultivo desse nutritivo tubérculo que era completamente desconhecido. Sendo chamada de "papa" na língua quíchua. Ainda em nossos dias, nos países andinos, se produz e comercializa mais de 200 variedades diferentes de batatas. Os espanhóis levaram rapidamente a batata para a Europa onde no início ela foi usada como medicamento. De fato, registros da história revelam que o Papa Pio IV recuperou-se de uma doença por volta de 1570 após ter sido prescrito uma dieta de batatas (rica em carboidratos).

Foram os soldados de Francisco Pizarro, explorador espanhol que conquistou o Peru, em 1531, que encontraram este tubérculo, que os incas já cultivavam e consumiam desde tempos imemoriais. E chamavam de pappa.
Um companheiro de Pizarro, Pedro Cieza, mandou alguns exemplares da pappa peruana para a Espanha. Onde causou curiosidade e mandaram de presente para o Papa, em Roma.
Os espanhóis puseram-lhe o nome de 'patata', (nome de outro tubérculo peruano), embora em alguns dialetos castelhanos continuem a chamar-lhe pappa, (ou apenas: papa) como os antigos incas.
Foi o cientista francês Charles de l'Écluse, em Viena (Áustria), que fez o estudo botânico da planta, e batizou-a de "Solanum tuberosum". Na descrição do tubérculo escreveu que era uma pequena Trufa, "tartufoli" , nome que os italianos adaptaram na sua língua. Na seqüência, com pequena deturpação passou na língua alemã para Kartoffel, e em russo com grafia ligeiramente diferente para kortopfel.  Ainda, nessa mesma época os ingleses descobriram uma outra variedade: a batata doce (Patata Dulce) no Caribe.  No início do século XVII algumas pessoas acreditavam que a lepra, tuberculose e a sífilis poderiam ser curadas com uma dieta de batatas

No século XVIII, agricultores de toda Europa começaram a cultivar batata. O rei da Rússia, Frederick "O Grande" chegou a ordenar que utilizassem somente a batata na alimentação. Era de tal importância este cultivo que, Uma guerra nos anos 1778-1780 entre a Prússia e Áustria foi conhecida como "Kartoffelkrieg" (Guerra da Batata), pois os soldados se alimentavam quase que exclusivamente a base de batatas.

Mais foi especialmente na Irlanda, onde a batata era consumida em grande escala. Essa dieta a base de batata chegava a patamares tão gigantescos que, quando as plantações de tubérculos foram acometidas por um terrível fungo que atacou a lavoura, Aconteceu o inevitável: a tristemente célebre praga da batata, que provocou um dos maiores surtos de fome da Europa moderna, durante a segunda metade da década de 1840, matando milhares de irlandeses e obrigando outro tanto, quase que um milhão e meio de pessoas abandonaram suas terras, sendo que a maioria migrou para os Estados Unidos. Poucas vezes na história a vida de um povo inteiro foi tão afetada por uma desgraça como aquela.  Toda a população rural tornou-se vítima da "potato blight", uma terrível praga da batata, que, ano após ano, devorava os tubérculos, deixando o povo desesperado. O mortífero fungo liquidou com quase toda a plantação de batata. As cidades encheram-se de esfomeados e doentes de tifo. Os armazéns eram tomados de assalto por amotinados esquálidos e coléricos enquanto proliferavam em todos os lugares das maiores cidades uma distribuição insuficiente de sopas para amparar os sobreviventes. Essa tragédia social, deu-se até 1849. 

Além de ser um alimento nutritivo, o amido e o álcool da batata podem ser utilizado para outras finalidades.  A batata é rica em grãos de amido, armazenados nos amiloplastos. Hoje é um elemento essencial e indispensável na culinária, em quase todo o mundo.  Recente pesquisa baseada no DNA comprovou que todas as variedades da batata descendem de uma única variedade de planta originária do sul do Peru. Esta mesma pesquisa destacou evidências arqueológicas de que o vegetal aí já era cultivado há mais de 7000 anos para servir de alimentação. 

Embora só em 1570 a batata foi levada para a Espanha, de lá se disseminou para o resto da Europa e depois para todo o mundo. Atualmente a cultura mundial atinge a cifra de cerca de 300.000.000 toneladas/ano.

Mas, nos primeiros séculos, mesmo em Espanha, a batata era um alimento para pobres, e de último recurso. Cozinhava-se nos asilos, e na tropa, para os soldados. Em tempo de guerra, na Irlanda, como durante a guerra dos Trinta Anos, os camponeses comiam-nas à falta de outro alimento. Em algumas localidades, era um alimento para o gado.

Tanto na Prússia, como em França, houve tentativas para incentivar a população a consumir a batata. Uma historia acontecida na França é especialmente interessante, pelo maneira inteligente como ela foi introduzida ao consumo da população:
Um engenheiro agrónomo e nutricionista francês, Antoine Augustin Parmentier, tendo participado, como farmacêutico militar, na guerra dos Sete Anos, contra a Inglaterra e a Prússia, teve a 'sorte' de ser feito prisioneiro na Alemanha.
Aí descobriu as qualidades nutritivas daquela planta. Uma vez de volta a casa, na França, participou em 1771 num concurso, aberto pela Academia de Besançon, para identificar um possível substituto para o trigo, na fabricação do pão, posto que a "solução" da rainha Maria Antonieta ("Se não há pão dêem-lhes brioches") não solucionou o problema da falta de alimento.
Parmentier apresentou um brilhante ensaio sobre o valor nutritivo da batata, que o tornou famoso. Foi logo encarregado pelo rei Luis XVI de lançar uma campanha publicitária, para vencer a desconfiança e os preconceitos da população.
Para isso, o rei cedeu-lhe um terreno na planície de Sablons, en Neuilly, para o cultivo da batata.  Parmentier concebeu então a idéia de despertar a curiosidade da população, mandando cercar a propriedade e colocando soldados de guarda dia e noite.
Claro que o povo estava ansioso por espreitar e ver, pelos seus próprios olhos, qual era esse tesouro tão importante que tinha que ser guardado por sentinelas do rei. Então Parmentier esperou ate a batata ficar madura para a colheita, e quando as redondas batatinhas estavam prontas para consumo, os soldados receberam ordens de deixarem os seus postos durante a noite. É claro quer os camponeses 'aproveitarom' para matar a curiosidade e roubaram totalmente a colheita inteira daquelas batatas...... Foi assim, através deste pequeno furto, que os franceses aprenderam a comer batatas!!!
Existe um outro fato em relação á França que é pouco conhecido, mas explica a resistência inicial dos franceses sobre a batata:  Antes de Parmentier, alguns camponeses comeram no início as folhas... e como a batata é da família das Solanaceas,  contém solanina, um substância presente nas suas partes verdes e que provoca cólicas... E tiveram muitos adoentados e com vômitos por causa disso, então alguns camponeses chamavam a batata de veneno da terra  Foi preciso aprenderem a comer a Batata!  Assim, hoje em dia, na França guarda-se a batata no escuro para o seu caule subterrâneo não esverdear e se acontecer, é retirado o verde, quase por instinto e tradição...
Por estes e outros motivos, ouve um "lançamento oficial" realizou-se em 24 de Agosto de 1785, em Versailles, com a presença de toda a corte, a quem foi oferecida uma refeição, na composição de cujos pratos todos, participa a nova estrela – a batata.  Vitorioso, Parmentier ofereceu ao rei e à rainha ramos de flores da batateira, afirmando que, daí em diante, já não haveria mais motivos de uma ameaça de fome!
Na língua francesa o tubérculo usou, durante a sua história, nomes derivados dos que já indiquei para outros idiomas. Mas o que predominou foi "pomme de terre" (maçã do chão), que parece ter sido utilizado, pela primeira vez, em 1762, pelo botânico Henri Louis Duhamel du Monceau. Da mesma maneira, no dialeto alemão da Áustria usa-se também a mesma semântica – Erdapfel, que quere dizer o mesmo – e até na língua hebraica moderna a batata se chama da mesma maneira "Tapuah Adamá" (maçã da terra). O apelido de patata está reservado para a outra variedade e por sinal muito consumida: a batata doce.

Aproveito para lembrar que as "french fries" (as fritinhas em forma de bastão), foram inventadas na Bélgica e que as melhores batatinhas fritas ainda é por lá que se comem. Já aquela famosa batatinha, cortada em rodelas fininhas e frita ( a batata "chips") é invenção dos ingleses... e falando de invenção ainda temos o tradicional "fish and chips" inglês, o peixe com batata frita que vem embrulhado num cone. Acho que em toda a Europa não tem nada mais tradicional em matéria de culinária que esse peixe com fritas.

NO BRASIL

Segundo Leite de Vasconcelos, a primeira vez que a palavra batata apareceu num dicionário da língua portuguesa foi em 1647, no "Thesouro da língua portuguesa", de Bento Pereira.
No entanto, há indícios de que se semearam pela primeira vez batatas em Portugal, em 1780.
ela foi introduzida ate Minas Gerais, na localidade de Ouro Branco.  Desde o fim do eldorado, a cidade já vivenciou vários ciclos econômicos. Devido a seu solo de terras arroxeadas, a cultura de batata tomou conta do local. Através da sociedade entre um comerciante português e outro de Ouro Preto, sementes eram importadas de Portugal. Na época, Ouro Branco chegou a se destacar como a maior produtora de batatas de Minas Gerais. Até os dias atuais o ciclo da batata ainda deixa vestígios. Há 18 anos a cidade comemora o "Festival da Batata", que acontece sempre durante a primeira semana de outubro e reúne cerca de 30 mil pessoas por dia

Voltando ao que aconteceu na Europa e em Portugal, o Visconde de Vilarinho de S. Romão, escreveu o provavelmente primeiro "Manual Prático da Cultura da Batata".  Aquilino Ribeiro queixava-se de que a batata, cozida sem casca, fica espapaçada e sem gosto. Pessoalmente confesso que adoro comer babata cozina com casca, e tenho certa habilidade  para tirar a casca da batata cozida, que acho ter um sabor bem melhorado desta forma.
Mas, agora que penso em espapaçada, pergunto aos entendidos se a palavra portuguesa "papa" (qualquer substância mole, desfeita quando cozida), apesar de lhe atribuírem etimologia latina, não terá relação com o nome que os incas davam à batata, com que os espanhóis presentearam o Papa.