sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

A morte púrpura

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O MUNDO 'EM GUERRA'. VIRUS MISTERIOSO PERCORRE O MUNDO E ATINGE CENTENAS DE PESSOAS.
OS CIENTÍFICOS LUTAM PARA ENCONTRAR UMA CURA.

Esta não é uma manchete de nossos dias, porem de mais de 90 anos atrás. Foi em 1918, onde centenas de milhares de soldados americanos chegaram na Europa para o que seria uma das últimas ofensivas da Primeira Guerra Mundial! E trouxeram consigo algo bem mais mortal…..

A epidemia de gripe de 1918
A influenza, ou mais exatamente a gripe espanhola, deixou um rastro de devastação, tanto no seu pais de origem: os EUA como no mundo todo. Foi a última grande epidemia conhecida (hoje chamada de PANDEMIA) que se alastrou pelo mundo em apenas 4 meses ceifou mais de 21 milhões de vida. Nos Estados Unidos matou 675.000 pessoas —mais vitimas que na Primeira e a Segunda Guerra Mundial juntas, contando ainda a guerra de Coréia e Vietnam juntas.
Foram mais de quarenta milhões de pessoas em todo o mundo. Foi a epidemia mais grave do século XX, e que causou somente na Espanha 300.000 mortos. Porque estou falando disso aqui e agora?, porque foi na primeira semana de Dezembro no ano de 1918 em que finalmente o vírus começou a ceder.
As companhias farmacêuticas trabalhavam dia e noite para encontra e produzir uma vacina, mas o vírus desapareceu antes de que se possa sequer isolá-lo.
A pesar do nome, os investigadores tem certeza que a gripe “española” teve sua origem nos Estados Unidos. Um dos primeiros casos conhecidos aconteceu no dia 11 de março de 1918, na base militar de Fort Riley, Kansas. As condições de aquartelamento nessa base, lotados e com pouquíssima higiene criaram o caldo de cultivo fértil para o aparecimento do vírus. Somente em uma semana deram entrada no Hospital da base 522 homens adoentados de uma gripe forte. Este vírus era também mutante, teve sua origem na gripe do porco, e daí (devido as péssimas condições de higiene), passou para o ser humano, onde ele acabou mudando para uma nova espécie. Existe o fato de ter sido o resultado de uma recombinación (mutação) genética entre um vírus de um animal, concretamente a gripe do porco, e de um outro humano doente também de gripe, nessa combinação houve a fatídica mutação do vírus, perante o qual a memória imunológica da humanidade era inexistente.
Mais tarde, o Exército informou de outros casos similares na Virginia, Carolina do Sul, Geórgia, Florida, Alabama y Califórnia. Os navios da Marinha, ancorados nos portos da costa leste, também informaram surtos de influenza e pneumonia graves entre seus homens. A gripe parecia atacar somente militares e nenhum civil; e em grande parte devido ao conflito armado na Europa, e mais outros fatos tais como a Lei Seca e o movimento das “sufragistas” e outros, o fato ficou sendo tratado com displicência.
Lá pelo final de maio de 1918, a gripe parecia a ceder nos Estados Unidos. Porem o sofrimento no acabou por ali. Os soldados de Fort Riley, que já estava prontos para embarcar rumo à Europa, para engrossar a frente de batalha, incubaram o vírus durante seu longo e incomodo viaje ate a França. Ao desembarcar em solo francês, o vírus voltou a atacar violentamente e com igual força as tropas aliadas e as do “Comando Central” da guerra em território europeu. Os americanos ficavam doentes com “febre de três dias” ou como a chamaram no início na Europa da “morte púrpura". Os franceses contraíam uma "bronquites com pus". Os italianos sofriam a "febre das moscas da areia". E os hospitais da Alemanha se enchiam de gente vitima da Blitzkatarrh ou "febre de Flandes". E assim o vírus espalhou-se pela Europa.

Entretanto, as crianças americanas, cantarolavam enquanto brincavam de pular a corda:
I had a little bird (Eu tinha um passarinho)
And its name was Enza (E seu nome era Enza)
I opened the window (Ai abri a janela)
And in-flew-Enza (e ele voou Enza)

(Se voces repararam, aqui tem um trocadilho de palavras:: “in-flew-Enza” está para: ”influenza” que é o nome dado as gripes nos Estados Unidos).

Seja qual fosse o nome que lhe davam, o vírus atacava a todos por igual. As autopsias mostrava pulmões enrijecidos, vermelhos e cheios de líquido..Enquanto faziam a triagem de centenas de pacientes, as enfermeiras costumavam examinar os pés, antes de nada. Aqueles que apresentavam pés pretos eram considerados desenganados e eram afastados para deixá-los morrer.
O mais desconcertante era o fato deste vírus atacar principalmente os adultos sãos e fortes. Assim, esta gripe chamada injustamente de “espanhola”..mudou todos os padrões na medicina existente á época.

A "DAMA ESPANHOLA", que nao era nem espanhola....
A doença recebeu esse nome devido, em parte, à censura da guerra. Tanto as forças aliadas como do Comando Central europeu tinham grandes perdas por causa da gripe, porem todos restringiam a informação para que não chega-se ate o inimigo, pois poderia utilizá-la no seu proveito. E a imprensa ficava então amordaçada. Entretanto, os jornais espanhóis, que no estavam sob censura, falavam abertamente dos milhares de cidadãos que tinham falecido desde Maio e Junho de 1918 devido a gripe, esta informação acabou chegando a todos os jornais do mundo. E os jornais passaram a mencionar a doença como a gripe da Espanha. Este nome e esse erro perduraram ate nossos dias.
Mais não tinha ainda acabado, desde os campos de batalha da Europa, a epidemia evolucionou rapidamente e se alastrou pelo norte ate Noruega, pelo leste rumo á China, pelo sudeste ate a Índia (só neste pais foram 11 milhões de vítimas) e, pelo sul , ate a Nova Zelândia. Nem sequer os habitantes das ilhas permanecían inmunes. De carona em navios e porta-aviões da Marinha, em navios da marina mercante e ate trens, o vírus viajou ate os cantos mais longínquos. Já no verão de 1918, havia assolado o Caribe, Filipinas e Hawaii. A epidemia fez estragos em Porto Rico porem, milagrosamente, apenas tocou a zona do Canal de Panamá, a encruzilhada do mundo nessa época. Culpa-se ao vapor "Harold Walker" de ter levado a gripe ate Tampico, México. E assim em apenas quatro meses, o vírus deu a volta ao mundo e acabou retornando ás praias dos Estados Unidos.
Esta segunda e terceira onda da gripe espanhola arremeteu contra Estados Unidos nos meses de inverno de 1918. Nesta oportunidade, os civis também adoeceram. Os povos indígenas do país, especialmente as tribos do Alaska, sofreram enormemente. Em alguns povoados a gripe dizimou a população indígena, enquanto que outros perdiam totalmente a sua população adulta. Não foi diferente nas grandes cidades: Nova York enterrou 35.000 vítimas. Filadelfia perdeu mais de 15.000 pessoas em questão de semanas. Em muitas cidades, nao tinha mais caixões nas funerárias.
O cotidiano ficou em suspense. Em Boston, o governo fechou as escolas públicas, os bares e outros espaços públicos. A policia de Chicago tinha ordens de prender todo aquele que espirra-se em público.
O historiador Crosby narra o quadro de desespero: "Muitas famílias, em especial nos bairros pobres, não tinham nenhum adulto suficientemente bom e são para sequer preparar as comidas, em alguns casos, não tinham mesmo nem comida porque o adulto que mantinha a casa estava doente ou morto.."
Crosby descreve os horrores com que se deparam as enfermeiras, pois a maioria dos médicos estavam na Europa, na frente de guerra. Algumas delas recém formadas e sem nenhuma experiência prática: Quando chegavam nas casas dos doentes se deparam com cenas comparáveis aos anos da peste, iguais ao do século 14.... Uma enfermeira encontrou uma mulher, que acabara de ter gêmeos, no mesmo quarto onde estava o seu marido morto, ela estava também quase desfalecendo por causa dos esforços do parto que fez sozinha. Só tinha uma maça na mão, que foi o seu único alimento fazia 24 horas.. e somente comeu isso, porque estava ao alcance da sua mão..
Nessa época de 1918, os investigadores médicos não tinham recursos para identificar e isolar a origem da gripe, sem o qual era quase impossível achar uma vacina. Alem disso, a penicilina só foi descoberta 10 anos mais tarde, ou seja em 1928, os pacientes que superavam a gripe faleciam mais tarde devido ás infecções e complicações secundárias, como a pneumonia bacteriana.

Ano após ano, o mundo adoece com um novo vírus da gripe. Algunas morrem. Mas, porque foi mortal assim a pandemia de 1918? Ao igual que outros vírus, o da gripe muda constantemente. Em essa mutação o variação antigênica costuma ocasionar somente câmbios menores; por tanto, as companhias farmacêuticas conseguem controlar a ‘nova’ cepa a cada ano com a vacina adequada. Porem, segundo os registros históricos, a cada 10 a 40 anos o mundo sofre uma variação antigênica maior. O vírus atravessa uma mutação drástica de tal magnitude que o humano não mais a reconhece e torna-se indefenso. A epidemia resultante se alastra antes que os cientistas possam isolar o vírus, para logo produzir una vacina. Isto foi o que aconteceu em 1918.

Um comentário:

  1. Essa de 1918 não foi a última, depois dessa, nos anos 60 (acho que 68), teve outra pandemia, a gripe de Hong Kong. Dessa eu lembro, teria uns 8 ou 9 anos, porque na Diamang, na Lunda em Angola, os funcionários e suas famílias foram vacinados contra ela.
    Embora não tenha sido tão letal quanto a de 1918.
    Yolanda

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