terça-feira, 5 de dezembro de 2006

As linguagens do Amor


  Existe, e a maioria de nós vivenciou, um "feitiço" chamado amor, onde perdemos todo (ou o pouco) raciocínio que ainda temos, onde a lógica não tem mais lugar, e onde qualquer acontecimento é possível, tal como a euforia, o riso, o choro, raiva, frustração e ate ódio, aumentos incontroláveis da adrenalina, etc., que podem alcançar níveis extremamente altos e nos fazer passar momentos incríveis e alucinantes, porem no final (embora para a maioria "pagamos mico"), só nós sabemos o quão prazeroso, esfuziante ou ate doloroso poder ser este 'feitiço'.

Eu vou tentar me remeter a literatura para ilustrar melhor este assunto que é simplesmente fascinante e que tem incentivado as mentes de centenas de  poetas e escritores....

 

O romance de Laura Esquivel, "Como Água para Chocolate" acompanha a história do personagem chamado Pedro que, ambientado lá por volta de 1910, (e tendo como cenário de fundo uma revolução), se apaixona por Tita . Ele quer voltar para a Guerra, mas ela o enfeitiça com seu amor e seus dotes culinários. Podia ser apenas mais uma história de amor.

O amor desta jovem (chamada de Tita) é reprimido por uma tradição estabelecida por gerações: Sendo ela a filha mais nova, deve ficar solteira para poder cuidar da mãe na velhice. Apaixonada por Pedro, um jovem promissor da região onde vive e, sendo correspondida nesse amor, vê sua mãe primeiramente negar o pedido de casamento feito pelo rapaz e, para piorar a situação, incita e sugere que o moço se case com uma outra filha (sua irmã mais velha). Ele acaba aceitando casar-se com essa sua irmã Rosaura, apenas para permanecer perto da mulher que ama.

 

Apesar de, aparentemente, ter se conformado com a situação (que é apenas a submissão imposta pelos padrões culturais à época). Tita não consegue esquecer o grande amor e, inconscientemente por médio da sua suprema habilidade culinária, introduz em suas iguarias o sabor de uma ardente paixão não correspondida. Seus pratos despertam no jovem Pedro a certeza de que o seu casamento não o afastou dos pensamentos de Tita.  A mãe, sempre castradora, tenta a todo custo evitar qualquer encontro amoroso dos jovens e, por isso, vigia atentamente os passos de Tita. Só não consegue conter a comunicação estabelecida entre eles por meio dos alimentos, do paladar... Tita, que crescera nos braços de Nacha, cozinheira da fazenda, envolta nos aromas mágicos da cozinha, e orientada pela sabedoria desta, desenvolve o dom como ninguém, transpondo para os alimentos todas as suas emoções, e destes, inexoravelmente... pra os comensais. É o que acontece quando, sem querer, numa crise de choro e pensando no amado, derrama lágrimas sobre a massa do bolo de casamento de Rosaura com Pedro, e como resultado causa em todos que o experimentam, além de uma extrema comoção, uma grande tristeza e a seguir uma incontrolável ânsia de vomito. Logo a seguir, e já para as codornas com molho de pétalas de rosa (as quais lhe haviam sido oferecidas por Pedro), Tita transfere toda a sensualidade, no despertar da recordação do grande amor de cada um que se delicia com este prato, que potencializa a exaltação deste sentimento, e faz desabrochar toda a libido. Ficando todos extremamente excitados. É neste momento que, Gertrudis, uma solteirona e sempre inibida mulher de meia idade, contagiada pelo sentimento impregnado no molho, e exalando em toda a sua plenitude o odor das rosas, atrai para si um dos comensais, eterno ‘paquera’ e capitão revolucionário, e foge com ele, para profundo desgosto da mãe, na conquista da sua própria liberdade.

Desde os biscoitos de nata, ao “mole” (prato típico mexicano), todos os alimentos são preparados, envoltos num ritual onde a magia do elo alimento/vida, aroma/perfume, sabor/sensação, e mais textura/sensualidade... se exacerba numa magnitude que deleita o paladar do corpo e especialmente da alma.

 

A compreensão dos homens e de suas comunidades passa necessariamente pelo estudo de seus hábitos cotidianos, como se prega na Nova História, da escola francesa dos Annales. O estudo da alimentação e da gastronomia são parte essencial desta importante visão.

Este assunto que acabou virando um esplendido filme, nas mãos do Diretor mexicano Alfonso Arau pode ser ponto de partida para um exame dos costumes alimentares da cidade e da região onde vivemos. É uma boa dica de pesquisa a ser pedida por aqueles que estão interessados em conhecer mais sobre a natureza humana e a sensibilidade aos fatores externos e internos de cada hum de nós.

 

O Filme: 

Como Água para Chocolate

Baseado no romance homônimo de Laura Esquivel, e um best seller em 20 países, este filme que mais se parece com um conto de fadas, repleto de fantasia, onde amor e ódio, abnegação e egoísmo, poesia e praticidade, se compõem numa obra-prima que conquistou o prémio de melhor filme no Festival de Gramado de 1993, sucesso de público, que concedeu a Lumi Cavazos (Tita) e Claudette Maillé (a solteirona Gertrudis)  o premio de melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, respectivamente.

Este filme mostra também, cómo impulsionados pelo amor e desejo os dois apaixonados podem estabelecer um elo único de comunicação. E não apenas por meio da fala, da escrita ou da leitura... O filme de Alfonso Arau nos desperta para outras possibilidades, como no campo da comunicação ao transformar o paladar num instrumento de envio e recepção de mensagens. Um excelente tema para a filosofia, e ainda na arte e na área de códigos e linguagens próprias dos ‘apaixonados’.


 

Um comentário:

  1. Assiti a este filme....amei !!!...sem trocadilhos...rs...."uma doçura " de filme....rs
    Bom te ver na minha página, apesar de você não ter comentado.... :(
    Mas passei para lhe deixar um beijo,
    Com carinho,
    Lila

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