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Quando chove e reviso meus papéis, e acabo
jogando tudo no fogo, poemas incompletos,
promissórias não pagas, cartas de amigos falecidos,
fotografias, beijos guardados num livro,
renuncio ao peso morto do meu passado turrão,
sou fúlgido, cresço justo quando me nego,
e assim atiço as chamas, e ate pulo a fogueira,
e apenas consigo entender o que sinto,
Não é a felicidade o que me exalta?
Quando vou pela rua assobiando alegremente,
- o cigarro nos lábios, a alma disponível-
E falo com s crianças e vou ate ás nuvens,
Outubro aponta e a brisa tudo vai alargando,
As garotas estréiam seus decotes, seus braços
desnudos e morenos, olhos assombrados,
e ficam rindo, e elas mesmo não sabem por que,
salpicam a alegria que assim treme recente
Não é a felicidade que se sente?
Quando chega um amigo, a casa esta vazia,
mais minha amada tira o presunto, enchovas,
o queijo, azeitonas, duas garrafas de branco,
e eu assisto ao milagre – pois sei que tudo é fiado-
e não quero pensar se poderemos pagá-lo
e quando bebemos e papeamos sem medida ,
ai o amigo é felizão, e nos acha felizes,
e somos, assim burlando a morte,
Não é a felicidade o que transcende?
Quando acordo, permaneço deitado,
A varanda aberta, e amanhece: as aves
assobiam sua algazarra pagã, lindamente,
e deveria levantar, mais não levanto,
e enxergo uma imagem, refletida no teto,
a ondulação do mar e o íris do nácar,
e continuo deitado, nada importa,
não aniquilo ai o tempo?, não estou salvo do medo?
Não é a felicidade o que amanhece?
Quando vou ao mercado, olho as vitrines,
e com dentes apertados as cerejas redondas,
os figos perfumados, as goiabas caídas,
da árvore da vida, sem dúvida com pecado,
pois ficam me tentando, olho o preço,
penso, decido pegar um monte,
mais terminado o jogo, pago o dobro,
é assim ainda é pouco.
Não é a felicidade que ali brota?
Quando posso dizer: terminou o dia,
e com isso digo o barulho, o comercio,
a procura do dinheiro, a luta dos mortos,
e então assim cansado, chego em casa,
sento na penumbra e ligo a música,
e acodem Mozart, Vivaldi, Sibelius,
e a musica reina, sinto-me limpo,
apenas limpo, e por isso mesmo, indene,
Não é a felicidade o que me envolve?
Quando por trás das mil voltas e assuntos,
lembro-me de uma amigo, e vou visitá-lo, e me diz:
“estava justamente pensando em ti”
e falamos largamente, não dos meus dissabores,
posto que ele, mesmo querendo, não pode me ajudar,
senão de como estão as coisas na Jordânia,
do um livro de Neruda, do alfaiate, do vento,
e quando vou embora, sinto-me tranquilo e conformado,
Não é a felicidade o que me vence?
Abrir nossas janelas, sentir o ar novo;
passar por uma trilha que cheira a madressilvas,
beber com um amigo, papear ou simplesmente calar,
sentir que o sentimento dos outros é nosso,
olhos com os olhos que nos miram sem mancha,
Não é isso ser feliz, apesar da morte?
Vencido e traído, ver quase com cinismo,
que não podem me tirar mais nada,
e que ainda estou vivo.
Não é a felicidade que não se vende?
Isso meu deus, estou em Paz comigo mesmo!
Intenso e ao mesmo tempo muito lindo!
ResponderExcluirNão me canso de ler... lindo!
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