segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nome Próprio

Quero comentar este excelente filme...de Murilo Sallles, com a atuação (espetacular por sinal), de Leandra Leal...

O filme conta a história de Camila, uma jovem empenhada em se tornar escritora. Sua própria vida é sua narrativa. Ela é intensa, corajosa e quer a sua inspiração como um ato de revelação. É um filme sobre a paixão de Camila e seu esforço para levá-la adiante. Sobre uma personagem feminina que encara abismos e retira disso a força que necessita para existir.  Ela busca criar para si uma existência complexa o suficiente para poder escrever sobre ela. Ela escreve compulsivamente em seu Blog, é, como era de esperar, nestes tempos de internet, isto faz com que também fique isolada. Camila é também uma feminista, sem fazer alarde disso, sem bandeiras, sem meias tintas...

A personagem principal praticamente não se afasta de seu computador. É através dele que busca alcançar a bóia salvadora ou a âncora que lhe permita algum tipo de estabilidade. É quando o contraste surge de maneira bem clara, quando as imagens e as situações do filme colocam em cena a incômoda verdade que constata ser o progresso tecnológico inversamente proporcional ao aperfeiçoamento emocional dos indivíduos. Quando, numa de suas melhores cenas, o filme mostra a personagem procurando colocar ordem nas coisas á sua volta, do apartamento, em luta inútil contra o caos que a cerca, fica exposta toda a intensidade desse drama que flagra a protagonista tentando recuperar o perdido, procurando voltar a um mundo do qual foi expulsa.

Nome Próprio é o título, e só aparece na tela no fim do filme, sobre a imagem das Camilas. Parece que a partir daí tudo se acalma; conseguimos, enfim, resolver a crise. E então parece claro que o problema é daqueles que não cabe mais em uma pessoa só...

A definição escolástica do titulo diz: Próprio "é o que pertence ao sujeito da oração", e também "adequado, conveniente, que serve a determinado fim, apropriado". Enfim, achei um nome bem feliz para o filme, mas me suscita a curiosidade de saber se é um nome conquistado ou dado, saber o que você acha disso. Não poderia ser algo como um nome comum? Ou impróprio?

- Baseado nos livros "Máquina de Pinball" e "Vida de Gato", de Clarah Averbuck, gaúcha, escritora mordaz e muito pessoal, e em trechos de textos publicados pela autora em seu Blog pessoal.

Nome Próprio é o título, e só aparece na tela no fim do filme, sobre a imagem das Camilas. Parece que a partir daí tudo se acalma; conseguimos, enfim, resolver a crise. E então parece claro que o problema é daqueles que não cabe mais em uma pessoa só...

A definição escolástica do titulo diz: Próprio "é o que pertence ao sujeito da oração", e também "adequado, conveniente, que serve a determinado fim, apropriado". Enfim, achei um nome bem feliz para o filme, mas me suscita a curiosidade de saber se é um nome conquistado ou dado, saber o que você acha disso. Não poderia ser algo como um nome comum? Ou impróprio?

- Nome Próprio, foi vencedor do Festival de Gramado, e reafirma a preferência do realizador por personagens que, vivenciando uma solidão quase insuportável, procuram uma afirmação pela busca de ligações humanas que os salvem do desastre. Participou também na mostra Première Brasil (fora de competição), no Festival do Rio 2007.  Esta longa, foi filmado e exibido na forma digital, e confirma que o cineasta merece ser incluído no grupo de realizadores brasileiros dignos de toda a nossa atenção. Ele tem voz própria, não segue correntes e pratica um cinema urbano, voltado para setores da classe média para cima.

 
Sobre a Autora:

 Nós que não somos como as outras”. Clarah Averbuck tem o título de um livro da também escritora espanhola, Lucía Etxebarria, tatuado no corpo. Pois é, definitivamente ela é diferente: é uma mulher de personalidade forte.Talvez por isso uns a adorem e outros a detestem.  Se todos somos personagens de nós mesmos, eu diria que Clarah se diferencia por assumir esse papel. Com tudo isso, misturado com sua literatura, tal vez seja por isso, que atraiu a atenção do diretor Murilo Salles, que adaptou sua obra para o cinema. E assim surgiu  ‘Nome Próprio’ que tem na atriz Leandra Leal o seu melhor expoente.

Trechos de entrevista com a autora:

 CLARAH AVERBUCK - Quando me mudei para São Paulo (antes eu trabalhava numa agência de publicidade em Porto Alegre, mas não queria ser redatora publicitária). Meu chefe dizia que eu tinha grande potencial, mas eu não queria. Teve a ver muito com o (John) Fante isso. Tenho um ciúme do Fante! Todo muito chega falando dele como se conhecesse. Teve a ver com o (Arturo) Bandini, na verdade. Achei que estava saindo do Colorado para ser uma escritora em Los Angeles... (RISOS) Cheguei a cursar letras e jornalismo. Mas, sou vagabunda, não gosto de estudar, e menos de trabalhar... isso de horário integral não é comigo...

Repórter – Foi assim que surgiu o pseudônimo Camila?
CLARAH AVERBUCK
- Camila já meio que existia. Eu publicava com esse nome quando eu namorava. Usava o nome da Camila. Já era um alter ego meu, depois eu assumi. As pessoas que estiverem perto de mim vão sempre entrar na minha literatura... 

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Quando terminou a sessão eu não sabia muito o que pensar, talvez mesmo por essa identidade tão buscada não ter sido de forma total bem encontrada. Mas tenho uma certeza:  que a Leandra Leal é uma atriz de primeira.

No tocante ao filme propriamente dito, nada parece ser tão particular como Nome Próprio, que parece estar sempre à frente de seu tempo, em um discurso que provavelmente será inserido ao costume de cineastas brasileiros.

Para você a integra do filme:
Camila, uma garota que após o fim de um intenso relacionamento, completamente perdida, faz textos explícitos e venenosos sobre sua vida e os posta em seu Blog, dando a aba necessária para uma guerra de nervos e também para o foco dramático, vivido basicamente dentro da mente da garota. Com o livre acesso à vida alheia proporcionado pela internet, Camila que não parece administrar seus conflitos e para ultrapassá-la, é necessário tornar seus sonhos em uma realidade urgente.

Camila vive queimando seus cigarros intensamente, que parecem até palpáveis através dos jogos de câmera e os primeiros planos escolhidos para testemunhar a sua egocêntrica queda. Quando está longe do computador, a escolha é apodrecer o seu corpo, como o personagem  diz. "É uma experiência necessária para disparar sua metralhadora que são seus dedos perto de um teclado", mesmo que para isso ela tenha que destruir e seja destruída, o exercício de fazer sua mente brilhar enquanto o corpo morre.

Nessa lide inquietante, a busca nas entrelinhas é pela identidade. Qual é o verdadeiro ‘eu’ de Camila? A infantil, a birrenta ou a autodestrutiva ou a que preza pela preservação e um trabalho que é capaz de se relacionar tão intimamente que despe Camila enumeras vezes e de maneiras tão distintas? . Nome Próprio é um fiel retrato contemporâneo sobre um seleto grupo que afirma viver a vida, mostrando o gozo de uma vida perfeita, mas que parece estar procurando a real identidade, e que, na primeira ponta de esperança que aparece, apostam tudo, mesmo sabendo que essa ponta irá se apagar a qualquer momento.

Todavia, Só o desconhecimento ou a falta de memória poderia permitir que não fosse visto no filme de agora um prolongamento de outra grande obra deste Diretor: Nunca Fomos Tão Felizes. Aqui, outra vez o cenário do apartamento vazio, na segunda metade da narrativa, expressa essa solidão. Eis um ponto de ligação que merece ser melhor explorado pelo observador.

Por isso e tudo mais, Nome Próprio é um filme que não deve passar despercebido.

2 comentários:

  1. Pode ser muito interessante. Concordo que a Leandra Leal é uma ótima atriz, dona inclusive de um sorriso muito bonito. Mas acho que esse filme não me atrai muito. :-)

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  2. Deu na Revista "Megazine" de 28 Julho: Murilo Slles terá sua obra lançada em DVD, na primeira leva da recém-criada Coleção Cineastas Riofilme, que chegam ás lojas esta semana e trará 4 longas dele....entre os títulos, 'Nome Próprio", é claro...!

    Vale a pena conferir, nem que seja pelo sorriso bonito (mesmo!) que a atriz tem.....né?

    :-))

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