quarta-feira, 30 de março de 2005

A PAIXÃO DE CRISTO ( The Passion of Christ)


Sinopse: O filme conta como foram as últimas horas da vida de Cristo, antes de ser crucificado

Curiosidades: - Este é o 3º filme dirigido por Mel Gibson. Os outros foram O Homem Sem Face (1993) e Coração Valente (1995).

ELENCO:

Jesus – James Cazievel

Maria - Maia Morgernstern

Madalena - Mônica Bellucci

Caifás - Mattia Sbragia ( O Sumo Sacerdote)

Pilatos - Hristo Naumov Shopov

Judas - Luca Ionello

João - Hristo Jivkov

Pedro - Francesco De Vito

Abenader - Fabio Sartor (Oficial de Guarda de Pilatos) 

Claudia Procles - Claudia Gerini (a mulher de Pilatos)

  • Premiações
    - Recebeu 3 indicações ao Oscar, nas seguintes categorias: Melhor Fotografia, Melhor Maquiagem e Melhor Trilha Sonora.  - Recebeu uma indicação ao MTV Movie Awards de Melhor Ator (Jim Caviezel).

“vocês são meus amigos, e a o maior amor de alguém pelos seus amigos, é dar sua vida por eles"

O título original do filme seria "The Passion" ( A Paixão). Entretanto, como este título já havia sido registrado pela Miramax Films, ele foi posteriormente alterado para "The Passion of the Christ".  O filme  é inteiramente falado nas línguas usadas na época de Jesus Cristo. Inicialmente era intenção de Mel Gibson que o filme nem tivesse legendas, e apenas com a linguagem corporal contando a história, mas posteriormente decidiu por inserir legendas em algumas cenas. As filmagens de A Paixão de Cristo ocorreram em Roma. A cena da crucificação de Cristo levou 2 semanas até ser concluída da forma que o Diretor, Mel Gibson queria.  Numa das cenas da crucifixão o ator Jim Caviezel ( que faz o papel de Cristo) e o diretor assistente Jan Michelini foram atingidos por um raio. Apesar do susto, os dois não sofreram nada.

O orçamento de A Paixão de Cristo foi de US$ 25 milhões. E O diretor bancou do seu próprio bolso o custo do filme, pois nenhum dos costumeiros ‘capitalistas’ queriam dar seu apoio ao filme por considera-lo ‘polemico’.  O filme fez sua estréia nos EUA na Quarta Feira Santa de 2004, e só no seu primeiro dia de exibição arrecadou 27 milhões de dólares. Ao todo já arrecadou 607 milhões de dólares e foi reapresentado nos salas dos EUA na Quarta Feira de Cinzas de este ano de 2005. No Brasil já foi lançado em DVD e VHS, e o Canal Telecine o esta exibinho neste mês em diversos horários.

Gibson é sem duvida um diretor talentoso, O fato é que Gibson, como católico fervoroso, fez o filme que queria e tinha direito de fazer (a mão que aparece segurando o prego sobre a palma de Cristo é sua, o que indica seu envolvimento com a história). Da mesma forma, os católicos devem compreender que nem todos aqueles que apontam os elementos perniciosos do longa estão atacando sua Fé. É uma simples questão de respeito mútuo e bom-senso. Ele foi capaz de criar imagens impactantes e de criar um universo verossímil o bastante para 'sugar' o espectador para a história. Mantendo a câmera próxima de seus atores, o cineasta permite que compartilhemos de suas dores e sentimentos sem que precise apelar para os diálogos – que, por sinal, são ditos em aramaico, latim e hebraico, conferindo uma enorme verossimilhança à narrativa. Em alguns momentos, é como se tivéssemos sido transportados no tempo e estivéssemos, de fato, presenciando aqueles acontecimentos (sensação que seria arruinada caso ouvíssemos Jesus conversar em inglês, por exemplo). E, embora ocasionalmente se empolgue com o estilo e exagere na utilização de câmeras lentas, Gibson deixa a narrativa fluir sem muitas intervenções, o que é um sinal de sua maturidade como diretor.

Aliás, o mesmo primor técnico pode ser observado com relação à maravilhosa direção de arte, que recria a antiga Jerusalém com riqueza de detalhes, aos elaborados figurinos, à trilha sonora evocativa de John Debney e, principalmente, à fotografia de Caleb Deschanel, que utiliza as cores de forma sempre significativa. Observem, por exemplo, a seqüência inicial, no jardim de Getsêmani, onde Jesus encontra-se orando, aflito, ciente de que sua tortura está prestes a começar: mergulhado em um belo tom de azul (referência à natureza divina do personagem), o momento é finalmente 'manchado' pelos reflexos vermelho-alaranjados das tochas carregadas por aqueles que vieram prender Cristo – o que representa uma escolha elegante e inteligente por parte de Deschanel.

E chegamos, então, ao objetivo final de tanta técnica: como e para que Mel Gibson empregou tantos indivíduos talentosos? Para narrar as últimas horas da vida de Jesus Cristo, obviamente, mas que ignora as passagens mais significativas e belas da história do Messias. Qual é, afinal de contas, a mensagem do filme A Paixão de Cristo? A de que ele morreu na cruz para livrar-nos de nossos pecados? Sim!, qualquer cristão sabe disso, e sem a necessidade de testemunhar o espetáculo de violência promovido por Gibson, que faz questão de mostrar cada golpe desferido em Jesus. Porém, onde estão as lições de amor e compaixão deixadas pelo 'Filho de Deus'? Será que o mais importante sobre Jesus é sua morte? Não, esta é apenas a visão do Diretor, e nesses traços que ele decidiu reforçar a sua narrativa. Para isso ele é o Diretor....

Para evitar que o espectador pense que está assistindo a um snuff film, Gibson ainda procura introduzir flashbacks que mostram certos Momentos de Cristo, como a Santa Ceia, o quase apedrejamento de Maria Madalena e o sermão da montanha. Mais, graças à excepcional performance de Jim Caviezel, que com seus olhos bondosos e expressão serena supera as limitações impostas pelo roteiro (e sua capacidade de ilustrar a dor física do personagem é impressionante, levando-nos a considerar a possibilidade de que ele realmente estivesse sendo martirizado). O momento em de Maria, ao tentar consolar o filho, lembra-se de uma ocasião em que ele, ainda criança, se machucara.

O problema é que estas cenas são curtíssimas e em nada adiantam no sentido de conferir maior dimensão a Jesus –que só consegue provocar algum tipo de identificação- no espectador em sua ansiedade no Getsêmani (que salienta seu lado humano) especialmente pela presença de um personagem misterioso coberto com uma capa, e que vemos também em certos momentos do caminho ao Calvário, ele nada mais é que a ’tentação’ as forças perturbadoras que tentam fazer ele desistir da sua missão divina..

A ilustração do calvário de Jesus é de forma extremamente gráfica e violenta. Embora é um fiel reflexo a violência da época, pois devemos lembrar que era um época de barbárie a aquela era mais uma das províncias do extremo oriente. As línguas faladas eram: o aramaico, falado por Jesus e seus seguidores, pois ele era de Nazareth. O hebraico falado pelos Sacerdotes do Templo, aliás a classe dominante na época, e daí a sua insistência em se desfazer do estrangeiro,  pois estão lutando para conservar seu poder e hegemonia. E o latim, falado pelos romanos, e que devemos lembrar que a ação não se passa em Roma, eles ali são apenas os representantes do poder central, o Império Romano, a força militar de ocupação.

Com relação à questão central discutida sobre A Paixão de Cristo, passamos a pisar em um terreno infinitamente mais delicado: afinal, Mel Gibson, sem querer criou um manifesto anti-semita ou não? Definitivamente não, apenas que o seu filme reflete sem a máscara ‘hollywoodiana’ a crua realidade da época (uma época bárbara), e os tais Sacerdotes do Templo, lutam com todas as ferramentas ao seu alcance para se desfazer da ameaça que representa o “Nazareno”. Ainda, o fato deles insistirem que a pena seja a cruxifição, mostra o preconceito acirrado deles, pois esse tipo de penalidade era apenas reservada para os estrangeiros... Esta é uma questão clara no  filme: os altos sacerdotes judeus, liderados especialmente por Caifás. Compraram a traição de Judas, prenderam Jesus e o levaram até o pretor, Pôncio Pilatos, que era a única pessoa com autoridade para aplicar a pena de morte naquela lonlíngua província governada por Roma, e por isso ficaram insistindo que este o condenasse à morte. A situação da Palestina, naquele período, estava muito tensa: tinha havido nesses tempos duas revoltas e o pretor tinha como missão principal sufocar todas elas. Note-se o conflito e a política em jogo, pois o pretor romano não queria condenar a ninguém a morte, mas temia uma revolução incitada pelos Sacerdotes do Templo se assim não o fizesse, e desta forma poderia ser chamado a prestar contas, e ser substituído e ate condenado pela autoridade central em Roma, pois era seu dever evitar rebeliões; lembremos que Roma governava respeitando as costumes e religião de cada povo sob seu domínio. Sabedores disto, os sacerdotes chegam a manipular claramente a opinião da multidão e seus seguidores, levando-os a exigir a libertação de Barrabás (no lugar de Cristo) e a crucificação do 'estrangeiro'. Isso é inequívoco, não há discussão: é esta a versão que A Paixão de Cristo  apresenta.

Agora, isto é o bastante para classificá-lo como anti-semita? A princípio, não: afinal, basta ler os Evangelhos para constatar que a ação dos sacerdotes judeus consta das narrativas de Lucas, Mateus, João e Marcos. (ele chega a tentar transferir a responsabilidade para Herodes). E, embora alguns legionários romanos sejam vistos como bárbaros que sentem grande prazer em torturar Cristo, eram apenas os integrantes da soldadesca, as classes mais baixas da hierarquia militar romana, e que sempre estavam tentando fazer ‘media’ para galgar confiança e postos nas  suas unidades militares. Lembremos que as legiões romanas eram temidas pela sua bravura, que beirava a selvageria, como fica demonstrado pelo comportamento daqueles que acompanham o caminho ate o calvário, e em vários instantes vemos a reação (em close-up) de vários outros romanos que manifestam desconforto com relação ao que vêem. 

Tem um lance interessantíssimo no filme e na historia real: Diante do fato, dispara a centelha. O coração de homens tão diferentes e distantes uns dos outros – por temperamento e cultura – comove-se. Até Simão o Cireneu se descobre mudado. Ingressa nos Evangelhos quase que por acaso: enquanto está voltando para casa, depois de uma manhã de trabalho, topa na rua com Jesus sendo levado ao Gólgota, e o centurião força-o a carregar a cruz de Jesus. Um repulsivo contratempo. Nada nos leva a crer que esse Simão conhecesse Jesus ou fosse seu discípulo; portanto, a ordem recebida não lhe pareceu nem um pouco agradável. Mais ele é obrigado a cumpri-la e pega a cruz ... No final ele se comove e é arrepiante a cena onde ele sussurra para Jesus: “já esta quase por terminar, falta pouco”. E finalmente, quando termina a sua tarefa e o grupo chega ao local do martírio, pode-se vê-lo correndo espavorido do local, e nunca mais esqueceu do fato ... Uma vida que mudou para sempre, pela eternidade.

Novamente, no que tange ao ‘preconceito’: Para começar, mesmo que alguns sacerdotes judeus tenham sido responsáveis pela morte de Jesus há 2000 anos, não vejo como seus atuais descendentes poderiam ser culpados por isso (seria o mesmo que condenarmos todo o povo alemão, durante os próximos dois milênios, pelas ações de Hitler e seus subordinados). O mesmo que dizer hoje que todo alemão é nazista! Eu posso não ser católico, mais como teólogo, creio que estou correto ao afirmar que, se Jesus veio à Terra a fim de morrer por nossos pecados, então ninguém pode ser 'culpado' por sua morte que, afinal, já teria sido 'prevista' pelo próprio Deus.

Acreditar que o anti-semitismo é coisa do passado é, infelizmente, uma ilusão

E voltamos, portanto, ao grande problema de A Paixão de Cristo: com tantas mensagens relevantes e belas existentes na história de Jesus Cristo, Gibson optou por se concentrar na  mais crua das realidades, e mostrar enfim que, de acordo com a Bíblia, sofreu e morreu por nossos pecados.

Muitos passaram a compreender o significado das palavras de  Isaías 53:5: "e pelas suas feridas fomos sarados". A missão intrínseca deste filme é, seguramente despertar um amor mais profundo no interior de cada um que o assiste, e leve muitos outros a assumir um compromisso pessoal para com Aquele que morreu para nos salvar.
"A Paixão de Cristo" representa um oportunidade única de levar as pessoas a conversar e saber mais sobre Jesus e sua missão entre nós
   

 

Um comentário:

  1. Boa noite, Miro é a terceira vez que leio este texto! "E pelas suas feridas somos sarados"...E sempre me emociono. Muito bem escrito! Parabéns! Muitas saudades! Beijos !Mary Rose

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