sábado, 2 de setembro de 2006

A CRISE DOS 40


Fazer o 40 aniversário afeta homens e mulheres, a primeira coisa é um balanço do que foi feito na primeira metade da vida. Para alguns, a “crise da meia idade” pode ser atravessada com certa dificuldade, enquanto que para outros é apenas a transição da juventude para a vida adulta, na qual, a experiência permite desfrutar mais do tempo por vir.


 


Então eu reagi assim: um pouco triste. Sentia que ate esse momento tinha estado numa ascensão e que então neste ponto começai a descer. Terminava de fazer 45 e se bem sentia-me na metade de muitos processos -os filhos todos se formando direitinho, o trabalho a todo vapor- também me começou a incomodar a idéia da velhice. Alguns cabelos brancos, e a contagem inevitável de que faltavam apenas cinco anos para a metade do século de vida!.  "Tomei então a verdadeira noção da minha idade..assim de uma vez!. O futuro veio encima de mim, transformando meu presente...e então fiquei abatido” comenta Raul um Contador, sobre seus 45 anos.


O maior obstáculo neste caminho de transformação interior, seria então a incapacidade de aceitar os sinais do próprio envelhecimento, o que pode desencadear a saída para uma estrada com duas vias:  o desenfreio ou a depressão.


“Por isso vemos homens  de 50 anos com moças que podem ser as suas noras.... ou mães que desejam parecer mais jovens que as suas próprias filhas de quinze aninhos. Essas crises podem ser muito difíceis, e levar inclusive a rupturas econômicas, e familiares – explica um psicanalista – Outro caminho certo é da depressão. Onde a pessoa se abandona e toma a trilha inversa, sente que acabou a sua vida, a vê vazia,  sem sentido pela impossibilidade de superar essa idéia do tempo e da própria idéia de ser finita”.


“Para mim atravessar os quarenta foi fatal, conta Tereza. Tudo veio para cima de mim-. E como sempre fui muito vaidosa, muito jovial”. Me deu um ataque: Cheguei até a  vestir todas as roupas da minha filha de 21, freqüentava três o quatro vezes por semana a academia, torrava dinheiro em perfumes, e fazia tudo que me levava a sentir-me jovem. Queria fazer tudo que não tinha feito antes, e ninguém me entendia e ate era criticada. Eu queria mostrar para mim mesmo que tinha muito por viver, porem  intimamente estava em pânico por constatar que tive uma vida com muita segurança, mais estava na metade dela  e que começaria a envelhecer”.


Os especialistas esclarecem que a crise da media idade não é apenas de fenômenos psíquicos: As primeiras mechas brancas, as primeiras rugas,  a chegada da menopausa e do climatério, e ainda, o momento do menor rendimento físico ou sexual são sinais corporais da passagem do tempo que tem um impacto na saúde e na  mente e devem ser tratados e fundamentalmente, serem assumidas.


“Cronologicamente entre os 40 e 55 anos, ou entre os 45 aos 60 estamos na metade da vida, é o momento onde começam as mudanças no metabolismo, os hormônios e o físico, produto de 40 ou 45 anos de vida acumulada, de suportar um stress sistemático, e de uma carga genética determinada e especialmente de transtornos próprios da nossa cultura alimentar”. Palavras de um especialista em Geriatria e Medicina do Trabalho.


Enfrentar estas mudanças e atravessá-los sem traumas pode ser a recompensa de um trabalho conjunto que abrange tanto os controles médicos como um tratamento psicológico, essencial para podermos aceitá-los.


“Na realidade, se não é realizado nenhum tipo de prevenção psicofísica estas transformações chocam. Se alguém vive sem se dar a possibilidade de dar uma parada para registrar onde fomos parar, poderá ver-se submerso nos 50 anos com uma postura ruim, muito estressado, com transtornos no próprio corpo e com uma serie de vínculos pouco simpáticos, pois a vida castiga, apressa e pressiona. Para melhorar a qualidade de vida na meia idade é imprescindível um trabalho que vai desde o check-up médico ate o psicológico. Obter um bom envelhecimento implica conseguir o equilíbrio e a harmonia de dentro para fora”.


 


A verdade é que chegar ate a metade do caminho onde as distancias entre o presente e o futuro se percebem  menores e  onde sente-se também que não da mais seguir postergando os projetos e os desejos que nos urgem, faz disto um processo que parece não encontrar um contexto favorável dentro desta nossa sociedade donde se super-valoriza a juventude e as mudanças, que nada mais é que a instabilidade, especialmente na ordem econômica.


“Sem dúvidas estamos perante a "adolescentização" do ideal social. Todos temos um ideal, mais também há um ideal coletivo, e na sociedade atual esse ideal coletivo passa por ser sempre jovem e desfrutar de uma espécie de ingenuidade eterna”, opina Monteiro, Psicólogo e Professor, e se lamenta: “Isto é grave, porque se anulamos a diferença generacional, a juventude fica sem pais e sem avós e sendo assim ficamos privados de uma rica fonte de experiências. A penalidade é que isto influencia para que cada vez mais gente viva este período como uma enorme crise e não como uma transição”.


“Não é tão fácil dizer que nesta idade começamos a desfrutar dos resultados de nossos sacrifícios. Vejamos: eu tenho 32 anos como metalúrgico e mesmo assim fico apavorado pela idéia de ficar desempregado. Nesta idade somos empregados dispendiosos, pela antiguidade de casa. Que acontece se ficarmos fora do sistema? Ficamos fora de tudo, porque hoje não se valoriza mais a experiência. É um momento difícil da vida, com demasiada idade para procurar outra coisa, e demasiado jovem para deixar o trabalho definitivamente”, comenta Alberto, paulista e empregado no ABC


Para Sánchez, por outra parte, não ter conseguido concretizar os objetivos que se pautaram, produto das crises e a instabilidade do capitalismo atual, é outra das causas que aumentam a angustia e que podem impulsionar a pessoa, de maneira inconsciente, a querer ficar sendo um pseudo-jovem numa juventude que permita concretizar cem por cento dos seus planos.


“Muitos homens e mulheres fraquejam nesta etapa porque perante a ansiedade e mais a rotina do cotidiano, nega-se o futuro e o transcendental. Vejamos: se vivo no stress permanente e ainda vejo que aos quarenta ou cinqüenta existem coisas que pensava ter alcançado e não o fiz...então tentarei prolongar a minha juventude para seguir acreditando que poderei alcançá-lo. Desta maneira temos tantos homens e mulheres acima de 50 anos, que se fingem de jovens no vestir, e não somente pela imagem exterior, mais que ainda querem prolongar a sensação de ainda não ter chegado lá. E como dizer não tenho todo o que queria, mais ainda sou jovem e me resta tempo”, explica o Psicólogo Sanches.


De qualquer maneira, a pesar dos fatores socioculturais e econômicos, o que a realidade mostra á que assim como muita gente fica cheia de angustia, tantas outras são capazes de sobrepesar este lance e conectar-se mais fortemente com a sua realidade e seus desejos.


 


E algo normal atualmente conhecer pessoas que aos quarenta, cinqüenta anos ou mais comecem uma carreira universitária, iniciam alegremente uma micro-empresa o permitem-se lugar para uma atividade artística, o um hobby, mesmo perante o assombro dos filhos os netos, ou ate seu circulo de amizades.


 


Dante Alighieri contava que, na metade da travessia da sua vida encontrou  “uma floresta  escura, na qual tinha extraviado a linha reta”, o escritor inglês Joseph Conrad descrevia que o homem “segue seu caminhar ate que percebe mais na frente uma linha de sombra, ou seja um aviso de que esta na hora de deixar para trás a região da juventude”, Julio Cortazar, ao contrario, na sua passagem por esta etapa se propus “ler todos os clássicos” que ate lá tinha perdido.


Se bem homens e mulheres cruzam este momento evolutivo dentro das suas próprias historias pessoais, parece ser que trabalhar pelo bem-estar, sem esquecer as limitações próprias do nosso  organismo, trazer-nos de volta velhos projetos eclipsados atrás das obrigações de ter que prover um lar, de uma profissão e criar os filhos e poder aceitar a idéia de que ninguém é eterno- sequer nós mesmos - são as chaves para seguir andando com firmeza e sem fraquejar pelo resto do caminho, logo de ter atravessado a tênue linha que indica que já cruzamos a metade dele...


Neste ponto temos ate uma máxima no idioma inglês: “Point of no return “ o ponto de onde não há mais retorno ou desistência”  ou seja. Seguir adiante ate o final!

O que esperamos é que a partir de amanha iremos começar a viver, sem mais nem menos, o melhor da vida.

6 comentários:

  1. Confesso que fazer 40 me deixou meio balançada e pelos sintomas acho que passei por algum tipo de crise de meia idade. É estranho porque por fora a diferença dos 38, 39 para os 40 não muda quase nada, mas por dentro...Fiquei com a sensação de que o tempo corria em outra dimensão, a dimensão dos coroas que descem ladeira abaixo, risos...
    Mas veio o 41 e como agora inês é morta e estou definitamente nos enta, é partir pro abraço e curtir essa bela idade.
    Bom texto Ramiro, faz pensar...

    Bjs

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  2. Para mim..
    é uma coisa linda, estar na 'tribo' dos enta...rssssss
    e estou mesmo curtindo minha bela idade...
    Bjks

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  3. Espero poder chegar até os "enta".
    Mas pensando por um outro lado.. é um tanto assutador iamginar...rsrs.
    "Lara com 10 anos!!" será que aguento??? rsrs
    Beijos mil

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  4. Asssustadoe é chegar aos 50 querida amiga! já estou nesta fase!..Miro, belo texto: tem algumas coisas que não concordo! Posso não concordar!!!!beijos! Mary rRose

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  5. Tudo bem.. mas eu acho que nao é nada assustador.. viu???
    a natureza sendo ela mesma..e mais nada!
    err.....
    faltou uma coisinha:
    eu ADORO VOCE!!..
    esta bem assim??
    ...tsk....tsk......

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