
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
(o meu desenho seria assustador, pensei)
Tantos anos passaram (tantos?) e não sei se alguma coisa aconteceu, não sei a que mesa ando sentado. Sim, um lápis na mão como se fosse uma coisa a acontecer. Talvez seja tudo uma folha de papel, talvez esteja ela já rasgada de tanto o mundo a ter apagado. Calar é às vezes uma borracha muito usada.
Mas sabes, não vou fazer o desenho que me pediste, não vou. Há coisas de que me lembro, e têm sempre a forma do gelo. Há coisas que quero, e são sempre iguais a uma história inventada. E por isso se queres desenhos de flores e de casas e de pessoas a andar vai procurar os desenhos que fiz no colégio, os desenhos velhos. Nessa altura não sabia falar.
Não sou como tu querias. Não nascem camélias brancas no mar de gelo que me embalou. Não há palavras na face pintada a tinta.
Assustador? Eu ainda não te disse as coisas que vão mesmo assustar. Mas sabes, talvez devesses ter fechado os olhos. No meu mundo, ver é uma coisa inesquecível. E agora é capaz de ser tarde. Tarde para me guardar na folha branca. Tarde para o papel que me quiseste dar.
T. S. Eliot
Existencial, metafórico,profundamente literário!Foi preciso ler primeiro a sua biografia lá em cima para depois voltar aqui e iluminar mais e entender o que está nas entrelinhas. O que é essencial para um bom leitor.Existe uma harmonia tão grande entre a figura e o texto! Puxa!
ResponderExcluirNão só neste post mas em todos que você posta.
ResponderExcluir