domingo, 9 de janeiro de 2005

Modernismo ou Modernidade?


Faz tempo quero dividir com vocês estes pensamentos... Antes de seguir gostaria perguntar se alguem conhece ou ouviu falar de Marshal Berman (o pai do modernismo, segundo vários pensadores). Na Realidade ele é produto de uma ironia histórica. Marxista de base, com suas nada mais fez senão obras alentou o capitalismo....(pode?).

Marshal Berman não é o que se pode chamar de um marxista ortodoxo. Vai a shows de rock, gosta de rap e tem, na sua bibliografia, um livro, no mínimo instigante: Tudo que é sólido se desmancha no ar; a aventura da modernidade. Quase uma obra definitiva, segundo o próprio autor.

Essa livro é na realidade uma construção tautológica sobre algo que Marx já havia formulado há muitos anos no Manifesto Comunista

Em tempo: vem a minha cabeça uma frase ou atitude que entre outras coisas mostra as ironias da nossa sociedade, sempre segundo a lente (maravilhosa e aguçada) de nosso “herói ”Marshal Berman. E que eu tinha esquecido, vejamos:

“É dever cívico”. Essa frase ecoa no oco na minha memória. Ouvi pela primeira vez, acho, de um professor do primário. Na escola todos os dias entoávamos o hino nacional. Enfileirados sob o sol escaldante, cantávamos aos tropeços a letra rebuscada da canção pátria. Mas, tinha lá seu encanto essa atitude. Após anos morando no Brasil, e pesquisando aqui e lá, (meu lado Antropólogo) soube que essas sensações e emoções eram as mesmas por estas bandas..

Cantava com uma certa emoção infantil. Sem entender nada do papel cívico do hino. Apenas sentia que aquela música erguia a bandeira e o vento parecia entender o ritmo exuberante da melodia. Eu sempre acompanhava o movimento das mãos do aluno escolhido para puxar a cordinha. Era uma honra estar ali na frente.

No Brasil:
Eram tempos de civismo imposto, mas de certa forma aceito com um misto de emoção e medo. Os pais temiam a Ditadura Militar. Dela partiam as nomeações dos governantes. Dos governantes partiam as ordens sobre hinos, bandeiras e desfiles cívicos. Eu e milhares de estudantes não entendíamos nada de política. Apenas sabíamos da emoção de estar ali. Representando algo de tamanha subjetividade, que só alcançávamos pelos sentidos, raramente pela razão.

Ouve um corte de tempo. Hoje, nenhum aluno tem obrigação de cantar o hino nacional na entrada da escola. Aprenderam pela televisão. Alguns professores encomendam pesquisas. Datas são lembradas e os pedagogos parecem fazer um esforço enorme para convencer crianças e adolescentes sobre a importância dos símbolos pátrios e especialmente o hino nacional.

A geração dos netos da Ditadura Militar nasceu debaixo da maior ressaca cívica. A partir dos anos oitenta, tudo o que remetia a “dever” e “obrigação” foi banido do coração dos brasileiros. O regime dos generais havia surrupiado o imaginário verde-amarelo. Os militares tinham conseguido associar os símbolos pátrios às notícias e imagens dos porões da tortura.

O século XX, marcado para nós pelos vinte anos de poder militar, acabou. Lula, o operário que enfrentou os generais no final dos anos setenta é o novo presidente do Brasil. Ele agora torna obrigatório o hino nas escolas públicas, “pelo menos uma vez por semana”. Ou seja, meio ditadura, meio democracia. Meio dever, meio convencimento.

São os novos tempos. No mundo pós-moderno, onde “tudo o que é sólido desmancha no ar”, como disse Marshal Berman, os fragmentos da história se encontram aqui e acolá no globo giratório da realidade. Lula recupera um caquinho de autoritarismo militar ao tornar obrigatória a execução do hino, e junta com um caquinho de liberdade de escolha, afinal, é só uma vez por semana, para assegurar que o hino nacional volte a fazer parte do dia-a-dia dos brasileirinhos. E eu ainda observo uma fotografia do meu afilhado segurando uma linda bandeirinha do Brasil, durante a parada de sete de setembro.

2 comentários:

  1. “É dever cívico”. Essa frase ecoa no oco na minha memória. Ouvi pela primeira vez, acho, de um professor do primário. Na escola todos os dias entoávamos o hino nacional. Enfileirados sob o sol escaldante, cantávamos aos tropeços a letra rebuscada da canção pátria. Mas, tinha lá seu encanto essa atitude. Após anos morando no Brasil, e pesquisando aqui e lá, (meu lado Antropólogo) soube que essas sensações e emoções eram as mesmas por estas bandas..[...]

    sim, eram
    entoar o hino dava arrepios
    a Pátria era assim 'colocada' para nós, sim

    [gostei do artigo]
    bjs Eliana

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  2. Era arrepiante mesmo.... lembrando desse detalhe..que coloquei este Post.. que bom que voce gostou!.. e entendeu o espírito da coisa...
    BJKS

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